Capítulo 10: A Sombra do Passado

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A floresta ao redor de Elara, Aldren e Duran estava mergulhada em um silêncio opressor. As árvores, altas e antigas, se erguiam como guardiãs de um passado esquecido, com seus troncos retorcidos e galhos secos formando sombras longas e ameaçadoras sob o céu nublado. Havia uma quietude naquele lugar que incomodava Elara profundamente, como se o próprio ambiente estivesse esperando por algo — ou alguém.

— Estamos perto do vale de Morlenn — disse Duran, sua voz baixa e carregada de seriedade. — Aqui, o tempo parece não seguir o fluxo natural. O passado e o presente se misturam, e as sombras que guardam este lugar são mais antigas do que a própria Tríade.

Elara caminhava entre eles, sua mente inquieta com as revelações dos últimos dias. Desde que haviam encontrado Duran e escapado dos caçadores das sombras, a presença dele trazia uma segurança inesperada, mas também levantava muitas perguntas. Duran era um guardião, um dos últimos que restavam para proteger a Tríade, mas seu retorno parecia estar cercado de mistérios, e a sombra de seu passado parecia sempre à espreita.

— O que exatamente está escondido em Morlenn? — perguntou Elara, olhando de relance para Duran.

O guerreiro hesitou por um momento antes de responder, seus olhos fixos no caminho à frente. — Segredos que não deveriam ter sido deixados para trás. Muito antes de eu ser um guardião, este lugar já abrigava um poder sombrio, algo que corrompeu muitos dos que ousaram se aproximar. Agora, precisamos encontrar respostas. Algo sobre o pacto quebrado está ligado ao que aconteceu aqui.

Aldren, que estava caminhando em silêncio, assentiu levemente. — As sombras em Morlenn são conhecidas por revelar verdades que muitos tentam esquecer. Elas têm o poder de trazer à tona memórias e arrependimentos que preferiríamos manter enterrados.

Elara sentiu um arrepio subir pela espinha. Sabia que cada um deles carregava seu próprio fardo, e o que encontrariam em Morlenn poderia ser tanto uma revelação quanto uma maldição. O vento soprava suavemente, agitando as folhas secas no chão, e a sensação de estar sendo observada se intensificava a cada passo.

Enquanto avançavam pelo caminho sinuoso da floresta, o céu começou a escurecer ainda mais. O ar ficou mais frio, e as sombras ao redor pareciam ganhar vida própria, movendo-se de forma antinatural, como se estivessem tentando alcançá-los. Duran parou abruptamente e levantou a mão, indicando que eles deveriam parar.

— Algo está errado — disse ele, seus olhos brilhando em alerta.

Elara sentiu o peso da magia ao redor deles. Era pesada, sufocante, e carregava consigo uma sensação de perigo iminente. De repente, uma sombra maior e mais densa do que as outras se destacou entre as árvores, movendo-se com uma fluidez inquietante. A escuridão tomou forma, assumindo a silhueta de uma figura alta e encapuzada. Seu rosto estava coberto, mas Elara sentia que, por trás daquele véu de sombras, os olhos da criatura estavam fixos nela.

— Bem-vindos ao Vale de Morlenn, onde as verdades que vocês temem são reveladas — disse a figura, sua voz reverberando como um eco profundo e distante.

Aldren apertou o cajado em suas mãos, sua expressão tensa. — Quem é você? O que quer de nós?

A figura soltou uma risada baixa, quase zombeteira. — Eu sou o guardião das sombras, aquele que observa, mas nunca intervém... até que o passado venha à tona. Vocês procuram respostas sobre a Tríade, sobre o pacto quebrado, mas devem estar dispostos a enfrentar as verdades que esses segredos trazem.

Duran deu um passo à frente, sua mão descansando no cabo da espada. — Não temos medo da verdade. Mostre-nos o que buscamos, ou sairemos deste lugar com o que precisamos por nossa própria força.

A figura inclinou a cabeça levemente, como se considerasse as palavras de Duran. Então, com um gesto suave de sua mão encapuzada, as sombras ao redor deles começaram a se agitar. Elas se moveram rapidamente, envolvendo Elara, Aldren e Duran, e em questão de segundos, o mundo ao redor deles mudou.

Elara se viu sozinha, em um lugar que não reconhecia. O vale de Morlenn havia desaparecido, e em seu lugar havia um campo vasto e desolado, iluminado por um céu cinzento e opressor. Ela olhou ao redor, tentando entender o que havia acontecido, quando, de repente, uma figura familiar apareceu diante dela.

— Não... — sussurrou Elara, sentindo o choque e o pavor se apoderarem de seu corpo.

Era sua mãe.

Ela estava ali, tão real e viva como Elara se lembrava. Os mesmos cabelos escuros, os olhos gentis que sempre a acalmavam nas noites de tempestade. Mas havia algo errado. Sua mãe não deveria estar ali. Ela havia morrido há muitos anos, vítima de uma doença que nem mesmo os curandeiros mais habilidosos puderam curar.

— Elara... — disse sua mãe, sua voz suave, mas carregada de tristeza. — Por que você me deixou?

Elara sentiu as lágrimas começarem a se formar em seus olhos. — Mãe, eu... eu não pude fazer nada. Eu era apenas uma criança...

Mas a figura de sua mãe balançou a cabeça, um olhar de decepção em seus olhos. — Você poderia ter salvado-me. O poder que agora flui em suas veias sempre esteve com você. Por que não o usou?

Elara cambaleou para trás, o coração batendo descompassado. Ela sabia que aquilo não era real, que era uma ilusão criada pelas sombras, mas as palavras de sua mãe ainda a atingiam com força total. Sempre houve uma parte dela que se culpava pela morte de sua mãe, um sentimento de impotência que a corroía.

— Eu... não sabia... — disse Elara, sua voz fraca, quase inaudível.

A figura de sua mãe desapareceu tão rapidamente quanto havia aparecido, deixando Elara sozinha mais uma vez no campo desolado. Mas o vazio que aquilo deixou em seu peito era esmagador. O poder dentro dela, que ela havia começado a aceitar, agora parecia uma maldição. O que mais ela poderia ter feito com ele se soubesse antes?

De repente, o cenário ao seu redor começou a mudar novamente. As sombras se dissiparam, e Elara voltou a se encontrar no vale de Morlenn, ao lado de Aldren e Duran. Ambos estavam pálidos, e ela soube imediatamente que eles também haviam enfrentado algo em suas próprias sombras.

Duran estava de cabeça baixa, sua expressão contorcida em dor. Aldren, por sua vez, tinha uma aparência sombria, como se os segredos de seu passado houvessem sido revelados de uma forma brutal.

— Esse é o preço da verdade — disse a figura encapuzada, que ainda os observava das sombras. — Vocês procuraram respostas sobre o pacto quebrado e sobre o poder da Tríade, mas não podem fugir das sombras que vocês mesmos carregam.

Elara, ainda abalada, respirou fundo e deu um passo à frente. — Já enfrentamos nossas sombras. Agora, nos diga o que precisamos saber. Quem quebrou o pacto?

A figura permaneceu em silêncio por um longo momento antes de responder. — O pacto foi quebrado por aqueles que acreditavam poder controlar a Tríade sozinhos. Antigos aliados se voltaram uns contra os outros, e o equilíbrio foi destruído. Vocês devem restaurar o que foi perdido, mas saibam que a traição que quebrou o pacto é mais profunda do que imaginam.

Duran, finalmente levantando o olhar, apertou o punho ao redor da empunhadura de sua espada. — Quem traiu os guardiões?

A sombra sorriu, mas sua resposta foi tão enigmática quanto tudo o que haviam vivido até agora. — O passado e o presente estão entrelaçados. Vocês vão descobrir, mas não será uma revelação fácil. Preparem-se, pois as sombras do passado são apenas o início.

Com essas palavras, a figura desapareceu, dissolvendo-se na escuridão ao redor. O vale de Morlenn voltou ao silêncio, e Elara, Aldren e Duran ficaram ali, processando o que haviam acabado de vivenciar.

— Precisamos seguir em frente — disse Aldren, sua voz fraca, mas determinada. — O pacto pode ser restaurado, mas não será sem sacrifício.

Elara sabia que ele estava certo, mas as palavras do guardião das sombras continuavam a ecoar em sua mente. As traições do passado ainda estavam por vir, e o caminho à frente seria ainda mais perigoso.

O destino de Eryndor estava mais incerto do que nunca, e as sombras do passado continuavam a persegui-los.

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⏰ Última atualização: Oct 06 ⏰

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