Capítulo 9: O Pacto Quebrado

0 0 0
                                    

O céu estava coberto de nuvens escuras quando Elara e Aldren finalmente chegaram à pequena vila no vale ao pé das Montanhas de Durandal. O ar estava pesado com a promessa de uma tempestade iminente, e o silêncio que pairava sobre o lugar apenas aumentava a sensação de que algo estava terrivelmente errado. As casas, feitas de madeira e pedra, pareciam abandonadas, com janelas quebradas e portas entreabertas, como se seus moradores tivessem fugido às pressas.

— Aldren, você tem certeza de que este é o lugar? — perguntou Elara, sua voz baixa, temerosa de quebrar o silêncio inquietante que os envolvia.

— Sim, este é o lugar onde o Pacto foi selado — respondeu ele, seus olhos vasculhando o vilarejo vazio. — Mas algo mudou. Esta vila deveria estar protegida por antigos guardiões, aqueles que juraram manter o Pacto intacto.

O Pacto ao qual Aldren se referia era um dos mais antigos acordos mágicos de Eryndor, um tratado entre humanos, elfos e outras raças que prometiam proteger o poder da Tríade e impedir que ele caísse em mãos erradas. Era um juramento sagrado, que havia sido mantido por gerações, mas algo claramente havia dado errado.

Elara sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Desde que saíram das montanhas, uma sensação de inquietação a havia seguido, uma presença sombria e inescapável. Agora, à medida que se aproximavam do coração da vila, essa sensação só aumentava.

— O que aconteceu aqui? — sussurrou ela, olhando para as casas destruídas ao redor.

— O Pacto foi quebrado — respondeu Aldren, sua voz sombria. — E com ele, as proteções que mantinham esta vila segura desapareceram. Algo ou alguém quebrou o juramento, e agora o poder que antes estava selado está livre.

Antes que Elara pudesse responder, um som distante ecoou pela vila — o som de cascos batendo no chão, seguido por vozes abafadas. Aldren imediatamente ficou em alerta, seus olhos se estreitando.

— Não estamos sozinhos — disse ele, sua mão apertando o cajado. — Prepare-se, Elara. A quebra do Pacto atraiu mais do que apenas nossa atenção.

Elara engoliu em seco, seus olhos se movendo rapidamente em todas as direções. As sombras entre as casas pareciam se mover, como se algo estivesse se esgueirando por entre elas, esperando o momento certo para atacar. Ela estendeu a mão e sentiu o Fragmento da Luz pulsar levemente contra seu peito, como se estivesse respondendo ao perigo que se aproximava.

De repente, das sombras entre duas casas, surgiram figuras encapuzadas. Eram guerreiros altos e sombrios, suas capas negras ondulando ao vento, e seus rostos cobertos por máscaras de prata que brilhavam à luz fraca do céu nublado. Eram os mesmos caçadores que os haviam perseguido nas montanhas, mas havia mais deles agora, e suas intenções eram claras.

— Vocês não deviam ter vindo aqui — disse uma voz fria e ameaçadora, saindo de um dos encapuzados. — O Pacto foi quebrado, e este lugar agora pertence às trevas.

Aldren deu um passo à frente, levantando seu cajado em um gesto defensivo. — Quem ousou quebrar o Pacto? Vocês sabem o que isso significa para Eryndor?

O encapuzado soltou uma risada baixa e cruel. — Significa que o poder da Tríade está livre, e nós vamos reivindicá-lo. Vocês são tolos de pensar que poderiam deter o que já começou.

Elara sentiu seu coração acelerar. Ela sabia que o poder da Tríade era imenso, mas a ideia de que ele estivesse agora à mercê de forças das trevas a aterrorizava. E mais do que isso, ela sentia que algo estava profundamente errado — não apenas o Pacto havia sido quebrado, mas havia mais em jogo do que ela podia ver.

Aldren não esperou por mais respostas. Com um movimento rápido, ele conjurou um feitiço que lançou uma rajada de luz em direção aos encapuzados. A magia de Aldren era poderosa, e o brilho da luz que emanava de seu cajado cortou o ar como uma lâmina. Mas os caçadores estavam preparados. Eles se moveram com uma velocidade sobrenatural, esquivando-se dos ataques e cercando Aldren e Elara rapidamente.

— Cuidado! — gritou Aldren, bloqueando outro ataque com uma barreira mágica.

Elara, sentindo o pânico crescer dentro de si, tentou se concentrar no Fragmento da Luz. Ela sabia que seu poder poderia ajudá-los, mas ainda não entendia completamente como controlá-lo. Com um esforço tremendo, ela visualizou a luz dentro de si, forçando-a a emergir. Aos poucos, uma aura brilhante começou a se formar ao redor de suas mãos.

Um dos caçadores avançou na direção dela, brandindo uma espada negra que parecia feita de pura escuridão. Elara, movida pelo instinto, lançou uma onda de luz em sua direção. A luz atingiu o caçador em cheio, fazendo-o recuar com um grito de dor, sua forma desaparecendo momentaneamente nas sombras.

— Muito bem, Elara! Continue! — gritou Aldren, mantendo sua posição enquanto enfrentava dois outros caçadores.

Mas por mais que a luz de Elara fosse poderosa, os caçadores das sombras pareciam intermináveis. Para cada um que ela conseguia afastar, outros surgiam, suas figuras encapuzadas movendo-se com agilidade letal. Eles não estavam apenas interessados em lutar — estavam tentando capturar Elara e Aldren, e mais do que isso, eles queriam o Fragmento.

A batalha continuava feroz, e Elara sentia sua energia começar a se esgotar. O poder do Fragmento era imenso, mas exigia muito dela. Cada vez que usava a luz, era como se estivesse drenando parte de si mesma. Aldren também estava começando a mostrar sinais de cansaço, suas defesas enfraquecendo à medida que mais caçadores se aproximavam.

Foi então que algo inesperado aconteceu.

Uma figura solitária emergiu das sombras, diferente dos outros caçadores. Não usava capa ou máscara, mas uma armadura reluzente, e seus olhos brilhavam com uma luz dourada. Ele segurava uma espada em uma das mãos e um símbolo antigo na outra. Assim que apareceu, os caçadores hesitaram, como se estivessem surpresos com sua presença.

— Parem! — gritou a figura, sua voz reverberando pela vila. — Vocês não vão mais tocá-los.

Os caçadores se entreolharam, claramente confusos. Alguns recuaram, enquanto outros se preparavam para atacar a nova ameaça. Mas antes que pudessem agir, o guerreiro levantou sua espada, e uma onda de energia dourada explodiu de sua lâmina, atingindo os caçadores com uma força devastadora. As sombras se dissiparam, e os caçadores desapareceram na escuridão, derrotados.

Elara ficou imóvel, sua respiração ofegante, enquanto observava a figura se aproximar. Quem era ele? E por que os caçadores pareciam temê-lo?

Aldren, ainda ofegante, ergueu o olhar para o homem e, com uma expressão de surpresa, murmurou:

— Você... não pode ser...

O guerreiro dourado parou à frente deles, e com um leve movimento, retirou o elmo que cobria seu rosto, revelando traços que Elara não reconhecia, mas que eram marcados pela força e pela autoridade.

— Meu nome é Duran — disse ele, sua voz calma, mas firme. — E o Pacto pode ter sido quebrado, mas ainda há esperança. Eu vim ajudá-los.

Elara trocou um olhar com Aldren, que parecia incrédulo, mas também aliviado.

— Duran... o último dos guardiões — murmurou Aldren. — Pensei que você estivesse perdido.

Duran assentiu levemente. — Estive, por muito tempo. Mas o Pacto precisa ser restaurado, e a Tríade precisa ser protegida. Vocês não estão sozinhos nesta luta.

Elara, ainda tentando processar tudo o que havia acontecido, sentiu uma nova onda de esperança crescer dentro de si. Duran era um guardião, alguém que poderia ajudá-los a enfrentar as ameaças que estavam por vir. Mas ela sabia que, mesmo com sua ajuda, o caminho à frente seria perigoso.

O Pacto estava quebrado, e o destino de Eryndor estava mais incerto do que nunca.

— Vamos — disse Duran, olhando para Elara e Aldren com determinação. — Precisamos agir antes que seja tarde demais.

Com isso, o grupo se preparou para partir. A jornada estava longe de terminar, mas agora, com um novo aliado ao seu lado, Elara sentia que talvez, apenas talvez, eles tivessem uma chance de proteger a Tríade e restaurar o equilíbrio de Eryndor.

Corações da TríadeOnde histórias criam vida. Descubra agora