Todas as noites sonho que estou me afogando. Sinto falta de ar e parecesse que vou morrer, quando alguém me tira das profundezas e consigo respirar. Acordo em seguida. Todas as noites são iguais. Não lembro do meu passado. Acordei nessa vila e disseram que me salvaram. Amanhã completa um ano que estou aqui. Não sei qual é a data do meu aniversário, por isso decidiram comemorar amanhã. Não lembro do meu nome nem se tenho família. Me chamam de Branca. Dizem que nunca viram uma garota com os olhos brancos, alguns tinham medo de mim, dos meus olhos, mas agora me tratam como se eu fosse igual a ELES. Sei que sou diferente, não importa o que digam ou o que tentem fazer com que eu acredite, vejo claramente que não sou igual a ELES. Minha pele sofre ao entrar em contato com o sol, tenho que usar uma roupa que me cubra e me proteja do sol quente que ELES tanto gostam, me fazem ir aos domingos no lago, pescar, fazer piquenique, nadar. Fico de longe observando ELES na sombra, a cada dia que passa vejo que não sou igual a ELES. Não gosto da comida que ELES comem, mas preciso me alimentar, sinto falta de algo que não sei o que é, mas o desejo está preso dentro de mim, esperando para vir à tona. Enquanto observo ELES rindo, felizes, se abraçando, nadando, se divertindo, sinto uma tristeza no meu peito que me faz querer voltar para o lago e me afogar. Mas ELE não deixaria que eu fizesse isso. Foi ELE que me salvou. ELE que me ajudou a ser aceita pela comunidade. ELE que me ajuda a não querer voltar para as profundezas da água.
- Ei! Vai ficar aí se escondendo?
ELE gostava de mim de uma maneira diferente dos OUTROS. Seu sorriso era encantador, seu peito e braços fortes e musculosos estavam nus. Atraia muitos olhares. Seus olhos castanhos e cabelos negros como a noite me faziam reparar em sua beleza natural.
- Só quero ficar longe do sol.
- Não sei como você não sente calor com esse moletom. Tá um dia lindo de sol, não quer mesmo entrar na água?
Olhei para baixo e balancei a cabeça. Queria voltar para o quarto em que dormia, não aguentava mais sentir o reflexo do sol na água, estava de capuz tentando proteger meus olhos, mas não era suficiente.
- Ainda sente incomodada com o sol?
ELE disse procurando meus olhos.
- Com qualquer tipo de claridade.
Falei olhando para sua boca, não consegui olhar em seus olhos por causa da claridade.
- Entendo. Quer voltar? Eu te levo.
Abaixei a cabeça e fiquei sem reação. ELE nunca disse isso nas outras vezes em que vim com ELES para o lago. Sempre ficava na sombra das árvores observando ELES.
- Não quero estragar a tarde de ninguém.
Ele agachou em minha direção. Segurou minha mão. Senti sua pele contra a minha, senti o calor vindo de seu corpo.
- Não, eu já ia voltar, eu posso te levar de volta. Vamos?
Olhei em seus olhos e vi que ELE estava sorrindo, senti todos os olhares em nós. Não era comum ELES ficarem tão perto de mim quanto ELE estava.
- Tem certeza que já quer voltar?
ELE levantou e puxou minha mão me colocando de pé. ELE era mais alto que eu, fiquei perto o suficiente para sentir sua respiração quente e rápida. ELE estava nervoso, podia sentir seu coração batendo rápido e acelerado. Ás vezes tinha a impressão que podia ouvir seu sangue passando por suas veias e pulsando em seu coração.
- Vamos, deixei o carro aqui perto.
Andamos até o carro e ELE não soltou minha mão, sentia seu suor e conseguia ouvir seu pulso ritmado como se fosse um ponteiro de um relógio antigo. Chegamos no carro e ELE abriu a porta e me ajudou a entrar. Fechou a porta do carro e voltamos para a Vila que ELES chamavam de lar.
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Vamprio
Vampir"Não lembro do meu passado. Não sei quem sou, nem o que eu sou. O que eu sei? É que não faço parte dessa comunidade. Sou diferente DELES. Meu lugar não é aqui. A última coisa que lembro antes de acordar nessa Vila. É de muita água. Estava me afogand...