Ella ficou ali por alguns minutos, observando o céu por entre as copas das árvores, tentando acalmar seu coração acelerado. O vento balançava as folhas suavemente, criando um sussurro constante que a ajudava a se desconectar da realidade por alguns instantes. No alto daquela árvore, ela se sentia segura, como se os horrores que testemunhara na arena não pudessem alcançá-la ali.No entanto, as memórias da arena nunca estavam longe. O som do vento às vezes se misturava ao som dos gritos, e o cheiro da floresta a fazia lembrar dos dias em que teve que lutar para sobreviver. Cada pequena sombra nas árvores parecia esconder algum inimigo, e mesmo os momentos de paz, como este, eram interrompidos por uma sensação de perigo iminente.
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Perdida nesses pensamentos, Ella não percebeu de imediato a presença de alguém se aproximando. Foi só quando um galho estalou lá embaixo que ela voltou à realidade. Ela se inclinou levemente e, entre as folhas, viu um jovem que se aproximava. Era Caleb, um amigo de infância que sempre a apoiara, mesmo nos momentos mais difíceis.
"Você está aí em cima de novo?" ele perguntou com um sorriso, mas havia um toque de preocupação em sua voz. "Você deveria descer, Ella. Vai acabar se machucando."
Ella desceu da árvore com a agilidade de quem já fizera isso mil vezes antes. "Estou bem, Caleb. Só estava pensando."
"Pensando demais, como sempre", ele respondeu, mas seus olhos mostravam que ele entendia o que se passava na mente dela. "Não pode carregar todo esse peso sozinha, Ella. Você sabe disso, certo?"
Ella olhou para ele e, por um momento, considerou contar sobre os pesadelos que a atormentavam, sobre o medo crescente por sua irmã. Mas, como sempre, decidiu guardar tudo para si. "Eu estou bem", repetiu, forçando outro sorriso. "Vamos voltar. Minha mãe deve estar preocupada."
Caleb não insistiu, mas ela sabia que ele não acreditava nela. Juntos, caminharam de volta para a aldeia, em silêncio. Ella olhava de relance para sua irmã, ainda brincando na clareira, e prometeu a si mesma que faria o que fosse necessário para protegê-la, custasse o que custasse.
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Ao entrar em casa, Ella buscou por sua mãe, após alguns instantes acabou por achá-la. "Mãe?" Disse a garota, chamando a mulher mais velha que estava sentada em um sofá em frente a televisão "Sim, Ella?" A mulher respondeu sem nem precisar olhar para saber que era sua filha. "O que está te prendendo em frente a essa TV? Você nem gosta de assistir ao que passa nela" a Ella desdenhou, com um tom calmo, mas com um sorrisinho sarcástico em seu rosto. "Venha aqui, vai começar" a mais velha disse. "Começar oqu-" ela disse indo se sentar, mais sendo interrompida "Shhi" disse seu pai que tinha acabado de entrar, logo se sentando.
A televisão que estáva passando algo qualquer logo foi trocada de canal; um que Ella conhecia bem.
"Como todos sabem, o Massacre Quaternário acontece a cada vinte e cinco anos, mas hoje venho dizer algo muito importante! Uma nova edição será feita, o Massacre Quaternário virá mais cedo com os vencedores de edições anteriores! Bom, se preparem, para uns é ruim, para outros é entretenimento!" E assim, terminou, sem mais nenhuma explicação, sem nada.
Ella sabia que estaria lá.
O silêncio que seguiu o anúncio parecia sufocar o ar dentro da pequena sala. Ella ficou paralisada, o coração batendo forte no peito enquanto as palavras "vencedores de edições anteriores" ecoavam em sua mente. Ela olhou para sua mãe, que tinha o rosto pálido e os olhos arregalados, e depois para seu pai, que mantinha uma expressão rígida.
"Isso não pode estar acontecendo…" murmurou Ella, mais para si mesma do que para os outros. Mas no fundo, sabia que não adiantava negar. O anúncio tinha sido claro. Ela, como vencedora, seria uma das escolhidas para voltar à arena.
Ella murmurou, seus pensamentos girando em torno da palavra Massacre. Não era só mais uma edição dos Jogos. O Massacre Quaternário era cruel por natureza, cada edição trazia uma nova regra brutal, e agora, eles queriam trazer de volta aqueles que já haviam vencido. Ela conhecia as histórias das edições anteriores — batalhas ainda mais sangrentas, alianças traídas, reviravoltas inimagináveis.
Seu pai, sempre tão calmo e contido, se levantou. "Isso iria acontecer de um jeito ou de outro." Sua voz estava calma, mas também de impotência. Eles sabiam que, no fundo, não tinham escolha.
Ella, ainda atordoada, se levantou lentamente, os olhos fixos na tela da televisão que agora exibia outros programas sem importância. "Eles vão vir me buscar em breve" falou, a voz rouca pelo choque.
Sua mãe a olhou com lágrimas nos olhos, mas não conseguiu responder. O silêncio que se seguiu foi uma confirmação. Eles sabiam que, assim, não havia escapatória.
Caleb entrou na casa logo em seguida, com o rosto cheio de preocupação. "Ella… você viu o anúncio?" Ele parecia saber a resposta, mas precisava perguntar, como se quisesse confirmar o que todos temiam.
Ella apenas assentiu, os olhos vazios, tentando processar o que aquilo significava. Ele balançou a cabeça em negação, aproximando-se dela.
Mas Ella sabia que era inútil lutar contra o destino imposto por aqueles no poder. Presidente Snow.
O ambiente pesava com a tensão e o medo. Ella sentia-se esmagada, mas sabia que não podia se deixar afundar. Ela tinha que se preparar. Sabia que o próximo Massacre Quaternário seria ainda mais brutal, mais mortal, e os outros vencedores seriam tão perigosos quanto ela — cada um lutando para garantir sua sobrevivência mais uma vez.
Com uma calma assustadora, disse. "Se eu vou voltar para a arena, preciso estar pronta para tudo."
Caleb olhou para ela, sabendo que as palavras de encorajamento que ele normalmente diria não fariam diferença. Ela já sabia o que enfrentaria.
Ella apenas assentiu, sabendo que, no final das contas, era cada um por si na arena.
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Na sala parecia aumentar a cada segundo. Ella sabia que não havia escapatória. A arena já a moldara uma vez, e agora, a ideia de retornar fazia seu corpo enrijecer. Mas diferente da primeira vez, ela não era mais a garota assustada. Era uma sobrevivente. Uma vencedora.
Caleb permaneceu ao seu lado, sentindo a luta interna pela qual ela passava. Embora quisesse dizer algo reconfortante, sabia que palavras eram vazias diante de uma nova convocação para o Massacre Quaternário.
"Vamos treinar", ele sugeriu, sua voz firme. "você vai estar mais forte do que nunca."
Ella o olhou, finalmente com uma determinação fria surgindo em seus olhos. "Tem razão. Não vou esperar que me peguem desprevenida. Se é isso que querem, então eu os mato."
Sua mãe, que estivera calada até então, se aproximou lentamente. "Ella. Estamos aqui por você." A voz dela era suave, mas repleta de dor. "Mas por favor… apenas volte. Só volte para casa."
As palavras da mãe tocaram um ponto sensível em Ella. A arena levava mais do que vidas — roubava pedaços da alma. Quando saiu vencedora, deixou parte de si para trás. Agora, voltar para casa, inteira, parecia uma promessa impossível de cumprir.
Ainda assim, com o olhar fixo, Ella deu um pequeno sorriso à mãe. "Eu vou fazer o que puder." Ela se virou para Caleb. "Temos muito trabalho pela frente."
A noite estava só começando, mas Ella sabia que, a partir daquele momento, cada segundo seria dedicado a uma única coisa: sobreviver ao Massacre Quaternário.
━━━ notes
Bom, o primeiro capítulo está aí! Estou muito ansiosa para poder escrever mais!.
words: 1.254
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𝗗𝗘𝗦𝗧𝗜𝗡𝗢 | Finnick Odair
Hayran Kurgu❝ 𝗩ocê é como o sol, 𝗘lla Griffin ❞ Na região, antigamente conhecida como América do Norte, a Capital de Panem controla 12 distritos e os força a escolher um garoto e uma garota, conhecidos como tributos, para competir em um evento anual televisi...