Prólogo - Sob as águas do destino:

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As águas do rio Mississipi corriam com a calma de sempre, refletindo as luzes trêmulas de Nova Orleans, uma cidade onde o misticismo dançava com o passado. A Evelyn Hart nunca acreditara verdadeiramente nas lendas que ouviu enquanto criança. As histórias contadas pela sua avó, uma praticante de Vodu, eram fascinantes, mas pareciam-lhe sempre distantes, como se pertencessem a outro mundo. Mas naquela noite, algo no ar carregava um peso diferente, um murmúrio de que as histórias da avó não eram apenas mitos, mas advertências.

Enquanto a Evie caminhava pelas margens do rio, conduzindo um grupo de turistas curiosos, o destino preparava-se para mudar o rumo da sua vida. A brisa quente do sul envolvia-a, e o som das águas parecia sussurrar o seu nome. Mas quando um dos turistas se aproximou demais da beira e escorregou, a sua primeira reação foi agir. Sem hesitar, correu para a água, mergulhando em direção à figura que lutava por respirar.

O rio, porém, tinha outros planos. No momento em que os seus dedos tocaram o ombro do homem, uma força invisível agarrou-a, puxando-a para o fundo. As águas escuras engoliram-na, geladas e implacáveis. O pânico inicial foi substituído por uma sensação de estranha aceitação, como se algo aguardasse por ela nas profundezas. Quando abriu os olhos, o mundo que conhecia desaparecera.

Ali, nas profundezas do rio, uma figura a observava. Mami Wata, a deusa aquática com olhos tão antigos quanto o tempo, emanava um poder primordial, misterioso e hipnotizante. Sem palavras, a divindade estendeu-lhe a mão. A Evie sentiu a pressão da água ao seu redor mudar, como se o próprio rio estivesse vivo, respondendo ao comando daquela presença.

- Coragem! - sussurrou uma voz na sua mente. - Compaixão.

Num único instante, a deusa fez uma oferta, e o destino da jovem guia turística foi selado. Quando a Evie voltou à superfície, não era mais a mesma. O ar preenchia os seus pulmões com uma nova força, e uma onda de poder pulsava pelas suas veias.

O que ela ainda não sabia é que os dons concedidos por Mami Wata eram mais que um presente. Eram uma ligação inquebrável com o mundo espiritual, um fardo pesado que exigiria mais do que ela jamais poderia ter imaginado.

Ao longe, nas sombras que dançavam sob a luz dos postes, algo observava. Algo muito mais antigo e sombrio que as lendas contadas nas ruas de Nova Orleans.

Então é aqui que a história da Evie ganha forma e assim a Evelyn acabava de entrar num mundo de segredos ancestrais e perigos ocultos. Agora, precisaria aprender a sobreviver nele.

As Marés do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora