P.O.V - Narradora:
O aroma de incenso preencheu o ar assim que Evie entrou no antigo salão do apartamento de Solene. As paredes estavam cobertas por tapeçarias coloridas, com símbolos místicos bordados, e as prateleiras exibiam um amontoado de frascos, velas e cristais. Solene tinha um olhar distante, e os olhos dela carregavam o peso de alguém que já havia visto coisas demais. Ela observou Evie por um longo momento antes de acenar para que se sentasse em uma cadeira de madeira ornamentada.
— Parece que encontraste algo importante! — disse Solene, com a voz suave e enigmática. Ela apontou para a pedra azulada que Evie segurava na mão desde a noite no cemitério.
Evie assentiu, sentindo a energia da pedra pulsar levemente contra a palma. Aquela pequena relíquia era mais do que um objeto; era um símbolo da ligação que a unia à sua avó e ao poder que agora a envolvia.
— É como se... a minha avó estivesse ao meu lado quando a seguro. — confessou Evie, com a voz embargada. — E depois do que aconteceu com Darius, sei que essa pedra é mais do que um simples amuleto.
Solene sorriu suavemente, os olhos estreitaram-se em compreensão.
— Essa pedra tem uma história, Evie. A sua avó a recebeu de uma sacerdotisa vodu que, dizem as lendas, possuía o dom de se comunicar com os espíritos mais antigos. Ela sabia que tu a usarias um dia. — Solene aproximou-se e colocou a mão delicadamente sobre a de Evie. — O poder que essa pedra carrega está conectado ao teu coração, Evie. É uma ponte entre o mundo dos vivos e o dos mortos, mas também um elo de força, um escudo.
Evie permaneceu em silêncio, absorvendo as palavras. Desde que aceitara o seu destino, parecia que tudo ao seu redor se transformara em algo mais profundo e misterioso. O peso da responsabilidade ainda era imenso, mas ali, com Solene, sentia-se menos sozinha.
— Solene, preciso entender melhor o que estou a enfrentar. Darius quer o poder da pedra, e não vai parar até conseguir. Mas ele falou algo sobre a minha avó... e sobre sacrifícios. O que isso quer dizer?
Solene suspirou, parecendo mais velha do que nunca sob a luz tênue das velas. Ela inclinou-se para frente, os olhos penetrantes fixos nos de Evie.
— O mundo espiritual é mais complexo do que parece. Cada poder, cada dom que agora possuis, tem um preço. A tua avó entendia isso, e ela sabia dos perigos. Ela se afastou para proteger-te, para evitar que fosses arrastada para o mundo sombrio onde as forças como a de Darius habitam. Sacrifícios são exigidos para manter o equilíbrio, mas é o coração que determina até onde podemos ir sem perder a essência.
As palavras de Solene caíram pesadas sobre Evie. Ela percebia que o destino da sua avó fora moldado por escolhas difíceis, mas ainda não compreendia por completo o que significava esse fardo para si mesma.
— E tu, Solene? — perguntou Evie, sentindo uma súbita necessidade de saber mais sobre a mulher à sua frente. — Como lidarias com esses sacrifícios?
Solene fechou os olhos por um breve momento, como se estivesse a tentar buscar alguma força em memórias antigas.
— Eu não sou diferente de ti, Evie. Cada escolha que fiz veio com um custo. Amigos, família, até mesmo partes da minha própria alma. Mas eu escolhi lutar, assim como estás a escolher. E, com o tempo, aprendi que o mais importante é não esquecer quem tu és. A magia é poderosa, mas a nossa humanidade é o que nos faz lutar.
Uma batida súbita na porta interrompeu o momento. Ambas as mulheres ficaram em alerta, e Evie sentiu o ar mudar. Era uma presença familiar, mas carregada de tensão. Quando a porta se abriu, Léon Duval entrou, o rosto marcado por uma expressão severa e cansada. Ele parecia mais pálido do que de costume, e havia algo no seu olhar que deixou Evie apreensiva.
— Precisamos conversar! — disse ele, sem rodeios, ao fixar o olhar nela. — Darius começou a se mover. E, desta vez, ele não está sozinho.
Evie sentiu um calafrio percorrer a sua espinha.
— O que queres dizer? — perguntou, tentando controlar o nervosismo.
Léon suspirou, a voz grave e carregada de uma preocupação que ele raramente expressava.
— Ele conseguiu reunir aliados. Espíritos que foram corrompidos pelo ódio e pela sede de poder. Eles estão dispostos a lutar contra qualquer um que se interponha no caminho dele. E tu, Evie, és a principal ameaça.
O silêncio tomou conta do ambiente. Evie sentiu o peso da situação se intensificar. Agora não era apenas Darius; ele tinha forças ao seu lado, e ela sabia que as consequências seriam mortais.
— Então ele está a formar um exército? — perguntou, a voz baixa, quase temendo a resposta.
— Sim. — respondeu Léon. — E, pelo que parece, ele planeja algo grande. Algo que pode afetar a cidade inteira.
Evie olhou para Solene, buscando alguma orientação, mas ela apenas encontrou apenas um olhar firme e decidido.
— Evie, tens que estar preparada! — disse Solene, em tom majestoso. — Esta batalha será diferente de qualquer outra que já enfrentaste. Mas lembra-te, não estás sozinha. Eu estarei aqui, Léon estará aqui. E, se confiares no poder que carregas e na força da tua alma, poderás vencer.
Evie assentiu, sentindo uma determinação crescer dentro dela, apesar do medo. Ela sabia que, por mais desafiador que fosse o caminho, não tinha escolha a não ser seguir em frente.
Enquanto ela olhava para a pedra na suas mãos, sentiu uma energia nova, quase como uma resposta aos seus pensamentos. Era como se a sua avó estivesse ali, sussurrando encorajamento e força.
Léon inclinou-se um pouco mais, a voz firme e séria.
— Prepara-te, Evie. A partir de agora, cada passo que deres será uma batalha.
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As Marés do Destino
FantasíaSinopse: Evelyn Hart sempre foi uma mulher comum, com um trabalho comum, ela é guia turística nos históricos e misteriosos becos de Nova Orleans. Criada pela avó, uma praticante de Vodu, a Evie cresceu rodeada por lendas e por histórias sobrenaturai...