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Enquanto o jatinho desaparecia no céu, Erick ficou parado ao lado de Lyle, tentando disfarçar as emoções que o sufocavam. Ele olhou para o horizonte, os olhos fixos no ponto onde Charlotte havia sumido.

Ele tinha machucado Charlotte, disso ele sabia. O beijo no pescoço foi um reflexo de tudo que ele não conseguiu expressar com palavras. As lágrimas que ele conteve queimavam por dentro, enquanto ele tentava manter a fachada de indiferença. Ele queria protegê-la, mas sabia que, ao fazê-lo, estava destruindo algo que poderia ter sido especial entre eles.

Quando voltou para casa, Erick subiu direto para seu quarto, sem dizer mais uma palavra a Lyle ou aos pais. Ele se jogou na cama, encarando o teto, sentindo uma dor no peito que não conseguia aliviar. Charlotte era diferente de todas as pessoas que ele já conhecera. Ela não sabia de tudo, mas sabia o suficiente. E mesmo assim, ela continuou ao lado dele e de Lyle.

- Eu fiz isso por ela- Erick repetia para si mesmo, tentando acreditar. -Ela não merece ser arrastada para isso, para a nossa vida... nosso inferno.

Mas no fundo, ele sabia que a verdade era mais complicada. Ele se importava tanto com Charlotte que tinha medo de se abrir. Tinha medo de que, se ela soubesse de tudo, ela fugisse. Então, preferiu afastá-la antes que ela tivesse a chance de fazê-lo.

Enquanto o dia se arrastava, Erick se sentia cada vez mais vazio. Charlotte tinha ido embora, e com ela, levou uma parte de si que ele não sabia se conseguiria recuperar.

 Charlotte tinha ido embora, e com ela, levou uma parte de si que ele não sabia se conseguiria recuperar

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Charlotte olhou pela janela, os olhos vagando pelas nuvens enquanto o jatinho cortava o céu. Ela tentou afastar a imagem dos irmãos da mente, mas a sensação de perda não ia embora. O que havia acontecido naquela casa era muito maior do que ela poderia ter imaginado. E agora, sabendo dos horrores que os meninos viviam, ela sentia um peso ainda maior em seu peito.

- Eu poderia ter feito algo?-Pensava repetidamente. Por que eles não me deixaram ajudá-los?

O pensamento a consumia, e mesmo sabendo que nada mudaria naquele momento, a angústia persistia. Ela sabia que nunca esqueceria aqueles dias na mansão dos Menendez.

Quando finalmente aterrissou na Flórida, o mundo parecia diferente, distante do que ela havia experimentado com os irmãos. Havia uma nova realidade a sua frente, mas as memórias dos momentos com Erick e Lyle continuariam a segui-la, de uma forma ou de outra.

Assim que entrou na casa, seus pais estavam lá, ansiosos por sua chegada. Eles perguntaram sobre a viagem e como estavam os Menendez. Charlotte, então, forçou um sorriso e deu uma versão superficial dos acontecimentos.

— Foi tudo ótimo! — ela disse, tentando esconder a tristeza em sua voz. — O tempo estava perfeito, e fiz novos amigos. A Kitty e o José foram muito legais.

— Que bom ouvir isso! — sua mãe exclamou, feliz. — E como você se deu com os meninos? São educados?

Charlotte hesitou. Mencionou apenas a amizade e como tinha sido divertido, mas evitou falar sobre Lyle e Erick. Sabia que, se entrasse em detalhes, não conseguiria esconder a dor que sentia.

— Sim, muito! Eles são super divertidos. Eu até joguei xadrez com o Lyle — disse, tentando transmitir entusiasmo. — E a praia foi maravilhosa.

Os pais pareceram satisfeitos com suas palavras, mas Charlotte sentiu que estava mentindo para eles e, mais importante, para si mesma. No fundo, ela sabia que a experiência tinha sido mais intensa do que qualquer um poderia imaginar.

Naquela noite, enquanto jantavam, ela forçou-se a participar da conversa, mas sua mente vagava.

Após o jantar, ela subiu para o quarto, trancando a porta atrás de si.

Charlotte se jogou na cama, e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. O peso da mentira que dissera aos pais a sufocava. Por que não podia ser honesta? Por que não podia contar sobre a dor que sentia por causa do que estava acontecendo com os Menendez? Por que tinha que esconder a verdade sobre seu beijo com Erick?

Ela queria poder compartilhar tudo com eles, mas o medo das repercussões e da preocupação dos pais a fez se calar. Eles não entenderiam. E se soubessem sobre o que Lyle e Erick estavam passando? A responsabilidade de proteger os meninos a deixou paralisada.

***

Na casa dos Menendez, o clima estava tenso. Os menino tentavam seguir em frente após a partida de Charlotte, mas a dor do que haviam vivido nas últimos dias pesavam sobre eles. O silêncio no ar era palpável, e as conversas que costumavam ser leves e brincalhonas estavam em falta.

Era como se a casa estivesse sob um feitiço, onde cada um deles se mantinha afastado.os abusos emocional de seus pais recomeçaram, trazendo de volta a rotina dolorosa que eles tentavam esquecer.

José, cada vez mais irritado, se tornava o foco da fúria e do desprezo, enquanto Kitty se mantinha distante, como se soubesse o que estava acontecendo, mas se recusasse a intervir.

Naquela noite, enquanto tentavam estudar e se distrair com os deveres de casa, o som da porta do quarto de José se abrindo ecoou pelo corredor. Os meninos se entreolharam, cientes de que algo estava prestes a acontecer. José apareceu com uma expressão de raiva, como se estivesse em busca de alguém para descarregar sua frustração.

— Vocês dois, venham aqui! — gritou, sua voz carregando uma ameaça implícita.

Lyle e Erick se levantaram lentamente, sabendo que não havia como evitar. O ambiente se tornava mais pesado a cada passo que davam em direção ao quarto de José. Quando entraram, o cheiro de álcool e a desordem eram evidentes. Os pais estavam lá, prontos para mais um ataque verbal.

— Olhem para vocês dois — começou o pai, sua voz baixa e carregada de desprezo. — Dois perdedores que não conseguem fazer nada certo.

O coração de Lyle disparou. Ele queria se defender, mas a pressão da situação o paralisou. Erick, ao seu lado, também parecia preso em seus pensamentos, os olhos marejados de lágrimas que ele se recusava a deixar cair.

— Não vou repetir, vocês são inúteis! — o pai continuou, sua voz se elevando em intensidade. — Se não querem trazer vergonha para essa família, comecem a agir como homens.

Após algumas horas, os meninos conseguiram escapar para o quarto, onde finalmente puderam respirar. A realidade da casa era sombria e cheia de memórias dolorosas, mas, por algum motivo, a presença de Charlotte ainda os mantinha conectados. Lyle virou-se para Erick, que estava sentado na cama, com a cabeça entre as mãos.

— Nós precisamos fazer algo. — Lyle disse, sua voz firme apesar do cansaço. — Não podemos deixar isso continuar assim.

Erick levantou a cabeça, e a expressão em seu rosto mostrava a determinação que Lyle esperava ver.  Eles não eram apenas vítimas, e isso era algo que precisavam lembrar.

— Vamos encontrar um jeito de mudar isso — afirmou Erick, sentindo uma centelha de esperança crescer dentro dele. — Juntos.

𝐴 ℎ𝑎𝑝𝑝𝑦 𝑒𝑛𝑑𝑖𝑛𝑔?Onde histórias criam vida. Descubra agora