Existe nós

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Bethânia, eu juro que nunca mais vou pra essas festas com você! Que saco! - Era passado das 2:15 da madrugada quando Gal e Bethânia adentravam sua casa, haviam comparecido a uma festa da indústria, com alguns amigos e conhecidos.

Gal, eu não entendi até agora o que houve! Porque está assim? Estava tudo tão legal - Maria jogava sua bolsa sobre o sofá, sentando-se ao lado da esposa.

A, não entendeu! Pois pergunte a sua querida Simone! - Proferiu o nome com uma voz engraçada, mas Bethânia, que queria compreender a situação, segurou o riso.

Não acredito! Tudo isso por ciúmes, é sério? Você me arrancou da mesa Gal Costa! - Agora se deixava rir, mas a mulher em sua frente não parecia muito alegre.

Eu vou me deitar. - Levantou do sofá com mágoa, nada havia acontecido de fato entre Simone e Bethânia, mas Gal sabia com toda certeza que só não aconteceu porque ela se fez presente o tempo todo, impedindo a sirigaita de tomar iniciativa com sua esposa.

Bethânia se levantou e tratou de correr ao andar de cima, ao seu quarto, encontrando ali uma Gal totalmente enciumada.
Bethânia colocou uma roupa mais confortável e deitou-se ao lado da esposa, ainda achando graça da situação.

Oxente, gracinha, não fiquei assim vá. Você não confia no meu amor e em minha fidelidade é? - Sorria fraco segurando carinhosamente na cintura da esposa.

Confio, em você eu confio. - Suspirou fundo. - Mas.. Aquela atrevida me irritou! Como alguém é tão audaciosa a ponto de ficar de risinhos frouxos e olhares pra minha esposa? - deitou q cabeça sobre o peito de Bethânia com uma carinha ainda triste.

Ooo minha Gal. - Abriu um sorriso calmo, apertando mais a mulher em seus braços. - Te amo, prometo que sou tua em todas as vidas.

Te amo, minha Mabe, me perdoa por ser tão possessiva e chata, mas.. Se tirar você de mim nem sei o que sou. - Sorriu deixando um selinho nos lábios de sua esposa.

Amor o que é esse papelzinho encima de meus livros? - Bethânia reparava em um papel todo amassado, largado sobre sua pilha de poesias ao lado da cama.

Ah, não me lembrei. - Sentou na cama, esticando-se para pegar o papel. - Escrevi pra você. - Agora o entregava para esposa. - Não sou uma grande poeta como você é, mas aprendi que quando colocamos nossos sentimentos assim, fica mais fácil. - Sorriu meio sem jeito.

Hmm, como te amo cada vez mais e mais! - Beijou a esposa rapidamente e foi logo abrir mais uma das cartas que trocavam.

Salvador, 29 de julho de 1971

Por tudo que sou e ainda serei, digo com firmeza que não existo mais sem ti, sem teu olhar que me percorre, sem tua presença que me alucina, afirmo que sou tua, assim, sem sutileza, mas com muita certeza.

Se existe amor existe nós, existe o meu arrepio ouvindo tua voz, ou minha segurança quando ficamos a sós.

Meu canto é teu, assim como meu coração. Você é tudo que um dia pude imaginar, muito mais do que conseguiria vivenciar.

Te amo como num filme, te vivo como numa novela, sou tua e você é minha, somos Bethânia e Gal, um amor fatal, colossal, literal, espiritual, fenomenal. Somos nós, e muitíssimo mais.

(Você é a poeta e eu sou a poesia, desculpe por estes versinhos bobos.)

Da tua, eternamente tua, Gal.

Venha, vamos dormir, meu bem. - Bethânia chorava. Eram poucas as vezes em que Gal a escrevia poesias, mas quando escrevia, tinha a inimaginável capacidade de fazer Bethânia se derreter por completo.

Naquela noite dormiram tão agarradas que desafiavam a lei da impenetrabilidade. Um fato era que, independente de quem as visse, teria a total certeza de que aquele amor nunca se acabaria, que duraria por milhares e milhares de vidas ainda.

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Oi gente esqueci de conversar aqui no final.
Que capítulo mais lindo mds, nem parece que eu que escrevi!

entre versos.Onde histórias criam vida. Descubra agora