O passo adiante

27 4 0
                                    

O sol já estava alto no céu quando Catnap e Dogday finalmente desceram o morro. A caminhada de volta parecia mais leve, talvez pelo fato de que a subida já havia exigido bastante deles. Dogday estava ainda cheio de energia, tagarelando sobre qual seria a próxima grande "aventura". Catnap, por outro lado, apreciava o ritmo mais calmo e a ausência de expectativas. Deixava Dogday tomar a frente nas escolhas, mas isso não significava que ele estava completamente passivo.

— O que acha de corrermos até aquela árvore lá na frente? — sugeriu Dogday, com um sorriso de quem sabia que já estava desafiando o fôlego do vizinho.

Catnap lançou um olhar em direção à árvore e depois de volta para Dogday, avaliando-o como sempre fazia.

— Quer apostar que você não me ganha dessa vez? — provocou Catnap, sem alterar o tom calmo, mas com a provocação clara.

Dogday riu, aceitando o desafio sem pensar duas vezes.

— Eu ganho de você fácil, Catnap. Quem chegar por último paga o almoço.

Antes que pudesse responder, Dogday já tinha saído correndo, deixando uma trilha de poeira para trás. Catnap, com um sorriso quase imperceptível, começou a correr logo em seguida, com passos firmes e calculados. Dogday era mais rápido, mas Catnap sabia que era só questão de tempo até que o cansaço o atingisse. Ele se aproveitava disso — do entusiasmo um pouco descontrolado de Dogday — para sempre acabar à frente quando menos esperado.

Os dois chegaram quase juntos, mas Catnap se adiantou nos últimos metros, ultrapassando Dogday no final com um leve toque no ombro para provocar.

— Parece que o almoço é por sua conta — disse ele, sem fôlego, mas mantendo o tom tranquilo.

Dogday se inclinou, ofegante, rindo enquanto tentava recuperar o ar.

— Okay, okay... você ganhou dessa vez — disse ele, sem parecer muito incomodado com a derrota. — Mas eu escolho o lugar.

Catnap deu de ombros.

— Desde que não seja fast food, por mim está ótimo.

Dogday ergueu as mãos em sinal de rendição.

— Fechado. Vamos a um lugar legal.

A caminhada continuou, agora com ambos um pouco mais cansados, mas o ritmo confortável voltou. Dogday, apesar de ter perdido a corrida, estava claramente feliz com o dia. Ele continuava falando sobre planos para viagens, filmes que queria ver, e mais ideias para atividades futuras, mas Catnap estava mais pensativo.

Ele observava Dogday de maneira quase analítica, como se tentasse entender algo. O vizinho era uma verdadeira força da natureza — sempre em movimento, sempre com um novo plano. Catnap, por outro lado, preferia a tranquilidade, a rotina, e observar de longe. Mas havia algo na forma como Dogday tornava cada momento mais imprevisível que começava a prender a atenção de Catnap de uma forma diferente.

Enquanto caminhavam, Dogday olhou de lado para Catnap, percebendo o silêncio mais prolongado do que o usual.

— Tá pensando em alguma coisa? — perguntou, com um tom meio curioso, meio brincalhão.

Catnap desviou o olhar para o horizonte, sem pressa em responder.

— Talvez — disse ele, sem dar muitos detalhes. Não era do tipo que compartilhava seus pensamentos facilmente.

Dogday riu, mas dessa vez pareceu levemente desconcertado pela falta de resposta clara.

— Você é difícil de ler, sabia? — disse ele, balançando a cabeça. — Nunca sei no que você está pensando.

— E quem disse que você precisa saber? — respondeu Catnap, com um sorriso de canto, mais uma vez testando Dogday, mas de forma sutil.

Dogday abriu a boca para responder, mas parou no meio do caminho, parecendo pensar melhor. Ele deu uma risadinha e continuou andando.

— Certo, certo. Vou deixar você com seus segredinhos, por enquanto.

O resto da caminhada foi mais silencioso, mas não de um jeito desconfortável. Era o tipo de silêncio em que Catnap se sentia à vontade. Ele apreciava essa troca com Dogday, onde não era preciso falar o tempo todo, e Dogday, aos poucos, parecia começar a entender isso.

Quando chegaram ao restaurante que Dogday escolheu, um lugar simples e aconchegante no centro da cidade, Catnap se acomodou em uma das mesas de fora, onde o sol batia suavemente. Dogday fez o pedido — algo leve, como prometido — e se juntou a ele, ainda cheio de energia, mas finalmente começando a desacelerar.

— Sabe, eu estava pensando... — começou Dogday, meio distraído enquanto olhava o menu.

Catnap ergueu uma sobrancelha, esperando que ele completasse a frase.

— A gente poderia fazer algo mais emocionante na próxima. Talvez uma trilha mais longa ou até acampar. O que acha? — sugeriu Dogday, com o brilho aventureiro nos olhos.

Catnap ponderou por um momento, sem dar uma resposta imediata.

— Acampar, hein? — disse ele lentamente, como se estivesse considerando a ideia.

— Sim! Eu sei que você gosta de um pouco de paz e quietude. Seria perfeito. Sem sinal de celular, só a natureza — Dogday gesticulava enquanto falava, já vislumbrando a próxima aventura.

Catnap sorriu de lado. A ideia não era ruim, mas ele gostava de ver Dogday tão empolgado, quase como se o simples fato de estar planejando fosse o suficiente para ele.

— Talvez seja interessante. Mas se você quiser me convencer, vai ter que fazer um trabalho melhor do que isso — provocou ele, sem perder a oportunidade de instigar Dogday mais uma vez.

Dogday riu, aceitando o desafio.

— Pode deixar, Catnap. Na próxima vez, vou te impressionar de verdade.

Catnap apenas deu um aceno de cabeça, enquanto o almoço finalmente chegava à mesa. Dogday sempre tinha algo novo para trazer, e Catnap começava a perceber que isso não era tão ruim quanto ele imaginava. Talvez, com o tempo, ele até começasse a aproveitar esses momentos mais do que esperava.

Entre o Silêncio e o Caos (Catnap x Dogday)Onde histórias criam vida. Descubra agora