O convite

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Os dias após o encontro na porta de Dogday foram surpreendentemente tranquilos. Catnap começou a notar menos música e mais silêncio, exatamente o que ele havia pedido. Mas, curiosamente, o silêncio também trouxe consigo uma pequena sensação de vazio. Não que ele estivesse com saudade do barulho — longe disso. Mas havia algo naquela energia caótica de Dogday que continuava ecoando em sua mente.

Ele se ocupava como sempre: livros, séries e, ocasionalmente, uma tentativa frustrada de se aventurar na cozinha. Certa noite, enquanto se esforçava para não queimar o jantar — mais uma vez —, Catnap ouviu uma batida na porta. Era incomum receber visitas, especialmente àquela hora. Ao abrir, deparou-se com Dogday, agora vestindo uma camiseta do tipo que parecia saída de uma propaganda de academia, toda apertada e destacando o corpo bem definido. Ele segurava uma garrafa de vinho.

— Ei, vizinho! — Dogday sorriu largamente, balançando a garrafa como um convite. — Achei que poderíamos dar um tempo da música alta e fazer algo mais... relaxado. Vim trazer um vinho pra compensar os dias de barulho.

Catnap piscou, pego totalmente de surpresa. Dogday, parado ali, parecendo tão casual e confiante, parecia quase como alguém que ele... conhecia há anos? Ele sentiu o impulso de recusar educadamente, mas alguma coisa no sorriso descontraído de Dogday o fez reconsiderar.

— Hm, tudo bem. Mas eu sou mais de chá, só pra você saber — brincou Catnap, dando espaço para Dogday entrar.

— Chá? Sério? Você é como um velho de 80 anos preso no corpo de alguém de 27 — provocou Dogday, enquanto passava pela porta.

— Bom, eu prefiro isso a ser um cara de 25 anos com energia de uma supernova — respondeu Catnap, sem conseguir conter um sorriso.

Dogday riu alto, e Catnap se surpreendeu com o quanto o som era... agradável. Era como se aquele riso preenchesse o vazio que ele nem sabia que estava lá.

Enquanto Dogday pegava dois copos na cozinha e abria o vinho com uma destreza impressionante, Catnap ficou olhando. Ele parecia ser do tipo que não levava nada muito a sério, como se a vida fosse um grande parque de diversões onde ele podia correr e fazer o que quisesse. Catnap, por outro lado, sempre viu a vida como um quebra-cabeça delicado que exigia paciência e cautela.

— Você não vai se sentar? — Dogday perguntou, já acomodado no sofá, com um copo em cada mão.

— Ah, claro — Catnap respondeu, sentando-se ao lado dele. Ele pegou o copo e deu um pequeno gole, tentando disfarçar o desconforto inicial.

— Então, como tá a vida aqui? Tranquilidade total? — perguntou Dogday, bebendo um grande gole de vinho. Seus olhos brilhavam de curiosidade.

— Sim, exatamente o que eu queria — Catnap respondeu. — Eu gosto da calmaria, gosto de... silêncio.

Dogday ergueu uma sobrancelha, claramente intrigado.

— Mas você não acha isso meio... sei lá, solitário? Digo, eu entendo que barulho demais cansa, mas silêncio o tempo todo? Isso não te deixa meio maluco?

Catnap ficou em silêncio por um momento. Era uma boa pergunta. Ele passou anos abraçando a solidão, se convencendo de que era a melhor coisa para ele. Mas, ultimamente, com Dogday ali, começava a se questionar se a quietude completa era realmente o que precisava.

— Às vezes — admitiu, com um leve suspiro. — Mas acho que me acostumei a isso, sabe? Menos complicação, menos bagunça.

Dogday assentiu, compreendendo, mas sem perder a leveza no olhar.

— E eu sou a definição de bagunça, né? — disse, com uma risada que fez Catnap sorrir involuntariamente.

— Não sei como você consegue viver assim, cheio de gente, de barulho... não seria mais fácil relaxar de vez em quando?

Dogday deu de ombros.

— Eu relaxo, só de um jeito diferente. Relaxar pra mim é fazer algo divertido, com amigos, rindo, aproveitando. Silêncio pra mim parece... vazio. Como se algo estivesse faltando. — Ele tomou mais um gole de vinho antes de continuar. — Mas também entendo o seu lado. Talvez eu só nunca tenha aprendido a curtir o silêncio, sabe?

Houve um momento de silêncio entre eles — o tipo de silêncio que, para Catnap, era confortável, mas para Dogday parecia incomum. Eles estavam ali, tão diferentes, mas de alguma forma conectados por essa troca de ideias.

— Sabe o que eu acho? — Dogday disse, quebrando o silêncio com um sorriso malicioso. — Acho que você só precisa de um pouco mais de "bagunça" na sua vida. Equilíbrio, entende?

Catnap riu suavemente e balançou a cabeça.

— E você precisa de mais chá — provocou de volta.

Dogday deu de ombros.

— Topo. Podemos fazer um acordo: um dia eu te arrasto pra uma aventura, e no outro, você me ensina a meditar ou a... não sei, tricotar? Sei lá o que você faz no tempo livre.

Catnap quase engasgou com o vinho de tanto rir.

— Tricotar? De onde você tirou isso?

— Sei lá, cara! — Dogday riu junto. — Você tem essa vibe de... aposentado precoce, entende?

— Aposentado? Eu sou dois anos mais velho que você, não sou um ancião.

Dogday deu de ombros, com aquele sorriso travesso de sempre.

— Bom, então o que acha? Uma aventura por um chá? Fechado?

Catnap parou por um momento, considerando a oferta. Era, de fato, um acordo improvável. Ele não era do tipo aventureiro, e Dogday provavelmente iria detestar qualquer tentativa de meditação. Mas, de algum modo, parecia... certo. Talvez ambos pudessem aprender algo com o outro.

— Fechado — respondeu, levantando o copo como um brinde.

Dogday sorriu largamente, e os dois brindaram. Catnap sabia que estava se metendo em algo imprevisível, mas talvez — só talvez — isso não fosse algo tão ruim assim.

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Dois capítulos em um único dia, que delícia.

Entre o Silêncio e o Caos (Catnap x Dogday)Onde histórias criam vida. Descubra agora