O som do desejo

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Era uma tarde qualquer, e Dogday, como de costume, decidiu passar um tempo com Catnap. As últimas semanas tinham sido estranhas para ele. Desde o sonho, ele não conseguia mais encarar Catnap da mesma forma, mas também não sabia como abordar o que estava sentindo. Tudo parecia nebuloso.

Quando chegou a casa de Catnap, a porta estava entreaberta. Ele bateu levemente, mas não obteve resposta. Entrou com cuidado e logo foi recebido por um som que não esperava. Músicas tocavam no fundo, um ritmo suave, quase hipnotizante. Dogday conhecia aquela voz — The Weeknd. Uma de suas canções estava tocando, a letra cheia de insinuações, desejos e sedução.

Ele caminhou até a sala, encontrando Catnap deitado no sofá, olhos fechados, parecendo relaxado demais para o usual. O ambiente estava diferente, uma energia mais densa, como se o próprio ar estivesse carregado com algo que Dogday não conseguia identificar de imediato.

— Oi... — Dogday chamou, mas Catnap não abriu os olhos de imediato.

— Você demorou... — respondeu Catnap com a voz calma, quase arrastada pelo ritmo da música.

Dogday não conseguiu evitar ouvir mais atentamente a letra da canção que tocava: "You’re addicted to the way I move... you want more than just a touch." As palavras tinham um significado evidente, algo que Catnap normalmente evitaria escutar na presença de outros, mas agora parecia confortável demais.

— O que é isso? — Dogday perguntou, tentando esconder o desconforto crescente. — Nunca achei que você curtisse músicas assim.

Catnap abriu um olho, esboçando um sorriso de canto, algo que Dogday reconhecia como uma provocação silenciosa.

— Você ficaria surpreso com o que eu curto — respondeu ele, se sentando no sofá, a camisa meio aberta, revelando parte de seu peito. Não parecia intencional, mas o gesto não passou despercebido por Dogday. — Às vezes, essas músicas dizem mais do que a gente consegue falar, né?

Dogday engoliu em seco. A música seguinte começou, com um ritmo ainda mais intenso, e o som soou levemente novamente: "I'm just tryna lay in your bed, wrap my hands around your neck..."

Dogday sentiu o rosto esquentar, mas Catnap parecia alheio, ou talvez estivesse apenas se divertindo com o desconforto de Dogday.

— E por que tá ouvindo isso agora? — Dogday insistiu, tentando parecer desinteressado, mas a curiosidade o corroía por dentro.

— Sei lá. Eu estava pensando... — Catnap disse, com a voz mais baixa do que o habitual. Ele olhou de lado para Dogday, que estava tentando não demonstrar sua inquietação. — Músicas assim meio que mexem com a gente, né? Te fazem pensar em coisas que normalmente você não teria coragem de falar.

Dogday não sabia como responder. Tudo aquilo parecia uma nova camada de Catnap que ele não tinha visto antes, um lado mais vulnerável e, ao mesmo tempo, provocador de uma maneira que ele não conseguia decifrar.

— Você parece distante, Dogday — comentou Catnap, finalmente se levantando do sofá. Ele pegou o celular e passou para a próxima música, outra de The Weeknd, igualmente cheia de insinuações, mas agora com um tom mais lento e íntimo.

Dogday estava começando a se sentir sufocado com o ambiente. Havia algo na forma como Catnap estava se comportando, na escolha das músicas, e até na maneira como ele olhava para ele, que o deixava em alerta.

— Tudo bem, cara? — Catnap perguntou, desta vez com um tom mais suave, sem a habitual provocação.

Dogday o olhou nos olhos e, pela primeira vez em semanas, sentiu que havia algo especial que ambos estavam evitando discutir. O silêncio entre eles foi interrompido apenas pela música que continuava a tocar no fundo, ecoando suas próprias confusões.

— Catnap... essas músicas... você está tentando dizer alguma coisa? — Dogday finalmente perguntou, sua voz carregada de incerteza.

Catnap deu um sorriso, aquele típico sorriso que ele sempre usava para esconder o que realmente sentia. Mas, dessa vez, ele demorou mais para responder.

— Talvez eu esteja... ou talvez eu só goste do ritmo — disse ele, enigmático como sempre. Mas havia algo em seus olhos que deixava claro que não era apenas o ritmo.

Dogday ficou em silêncio, tentando processar a resposta. A música continuava a tocar, suas palavras reverberando no ar como um lembrete constante do que estava acontecendo entre eles, mesmo que nenhum dos dois quisesse admitir. Ainda.

Entre o Silêncio e o Caos (Catnap x Dogday)Onde histórias criam vida. Descubra agora