A chuva caía pesada, desenhando linhas tortas no ar e criando poças que se espalhavam pelo asfalto irregular. Os pingos formavam um som constante, um murmúrio frio e indiferente, que se misturava ao ruído das solas de sapato apressadas contra o chão encharcado. Corpos apressados, envoltos em casacos escuros e guarda-chuvas, moviam-se em uma dança automática, protegendo-se da umidade que insistia em invadir.
No meio do fluxo de pessoas, alguém estava parado, desarmado, sem guarda-chuva ou abrigo, os cabelos já encharcados pendendo em fios pesados sobre o rosto. As roupas aderiam ao corpo como um segundo peso, cada gota de chuva que deslizava pela pele era uma lembrança do frio, da solidão que parecia se entranhar nos ossos. Ao redor, ninguém parava, ninguém olhava. Os passos continuavam, indiferentes, o som abafado por cada guarda-chuva que se abria, por cada mão que puxava o casaco para se proteger.
O mundo à sua volta parecia desfocado, como se uma névoa tivesse descido, borrando as bordas de cada figura que passava. O céu, uma extensão sem fim de nuvens pesadas, carregava um tom de desespero, tão denso que era impossível distinguir onde terminava o horizonte. O som da chuva era a única companhia, uma presença constante que apenas intensificava a sensação de ser ignorado, esquecido, deixado para trás.
Os pés descalços na calçada sentiam a água fria subir, cada poça uma nova camada de indiferença que engolia o calor, a esperança. E ali, em meio à multidão que seguia em frente, sem parar, ele percebeu que, para os outros, ele era apenas mais uma silhueta no espaço , apenas mais um vulto perdido na chuva.
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WRITINGLAB - Projeto Literário
AcakNeste livro, você encontrará uma seleção de contos, poemas e cenas cuidadosamente elaborados por talentosos seguidores do canal WritingLab. Essas criações são frutos de sua participação ativa nos exercícios e desafios de escrita que promovemos regul...