Prólogo

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Hi babies ❤️
Sim, trouxe mais uma fanfic Wantasha para vocês porque não consegui evitar. Espero muito que gostem. Comentem para que eu saiba o que estão achando. Boa leitura!

•••

Às vezes, eu sinto como se eu não conseguisse respirar.

E isso acontece do nada, sem um motivo aparente. De repente, me sinto ofegante, como se o ar não conseguisse chegar em meus pulmões, então as lágrimas começam a sair dos meus olhos sem controle e eu tento desesperadamente recuperar o fôlego. Uma dor intensa no fundo do meu peito faz com que eu tenha certeza que estou recebendo centenas de facadas. Tento me agarrar a qualquer coisa que estiver ao meu alcance, apenas esperando essa sensação passar.

Vai passar. Sempre passa.

O único momento em que eu não consigo parar, aguentar com todas as minhas forças e esperar passar, é quando ela está por perto. Ela não sabe que eu tenho esses ataques de pânico e, para ser sincera, provavelmente não aceitaria. Ela não aceitaria que meu cérebro estivesse tão quebrado a esse ponto.

Há muitas coisas que ela não aceita.

Quando algo é feito de modo desleixado, roupas amassadas, chegar atrasada, retrucar, falar em um tom mais alto que o necessário, insolência, desrespeito. Essas são apenas algumas das coisas que a deixam furiosa. E eu evito todas porque ela veria meus ataques de pânico como autopiedade. Eu estaria lamentando por algo que ela não entenderia. Nunca poderia contar quantas coisas estão acontecendo comigo nesse exato momento porque ela não entenderia. Acho que isso se enquadraria nas três categorias: insolência, retrucar e desrespeito. E eu não quero chegar a esse ponto.

Mas ela não está aqui agora, então eu estou bem. Posso simplesmente ficar aqui, segurando a borda da minha escrivaninha e olhando pela janela até a dor passar. Ela não sabe, mas a psicóloga do colégio disse que eu sofro de transtorno de ansiedade generalizada. Ela não pode sequer sonhar em saber que andei tendo consultas com a psicóloga do colégio depois de ter tido um ataque de pânico no meio da aula de Educação Física. Para ela, minha saúde mental é perfeita e qualquer coisa que diga o contrário, faz parte de algum plano maligno de Satanás para acabar com minha vida espiritual.

A chuva está caindo lá fora com bastante intensidade. Me concentro nas gotas se transformando em filetes e escorrendo pelo vidro da janela enquanto os nós dos meus dedos ficam brancos por causa da força que uso para me segurar na escrivaninha. A dor está diminuindo agora e eu começo a recuperar o fôlego.

Um olhar para o meu relógio me diz que é hora de guardar meus livros.

Há muitas coisas na vida que não são justas. Eu sei que não deveria reclamar, porque tenho roupas boas para vestir, um teto sobre minha cabeça e comida no meu estômago três vezes ao dia. É uma boa comida, aliás. Mas, de certa forma, não consigo evitar olhar para as pessoas ao meu redor e me perguntar o que eu fiz de errado para merecer essa vida. Ou porque as coisas parecem tão injustas.

Coisas como o fato de que é o fim do verão e está chovendo. É o fim do verão e eu estou fazendo as tarefas da escola, mesmo estando de férias. É o fim do verão e eu tenho que guardar meus livros só para descer para ir caminhar na chuva. Na verdade, não importa que esteja chovendo. São cinco da tarde e isso significa que temos que sair para caminhar. Não aparecer lá embaixo seria impensável, assim como me recusar a fazer a caminhada.

Suspirando profundamente, mas em silêncio, eu desço as escadas.

Ela está no escritório, lendo. Claramente, a edição do The New York Times a fascinou o suficiente para ela não ter notado o tempo passar. Agora é a minha vez de brilhar.

— São quase cinco horas, dedushka. — Falo, me certificando de que meu tom esteja carregado de respeito implícito.

O canto do jornal se mexe.

— Ah, é mesmo. Como o tempo voa! — Ela empurra os óculos de aro prateado na ponte do nariz e dobra o jornal com perfeição, então o coloca cuidadosamente sobre a mesa ao lado, em um ângulo exato.

Juntas, colocamos nossas capas de chuva e as galochas. Está chovendo o dia todo e isso não é um bom sinal para o estado das estradas por aqui. Vai ficar tudo cheio de lama. E eu odeio caminhar na chuva. Sempre acabo molhando minhas meias e a água fica entrando nos meus sapatos, não importa o quanto eu tente evitar. E isso só acontece porque tenho que andar com essa saia arrastando até o chão, mas não é como se ela fosse me deixar usar outra coisa já que também está usando uma saia parecida com a minha.

Caminhamos na chuva por exatamente uma hora. Há quatro rotas que seguimos e claro que nunca é uma escolha minha. Durante nossas caminhadas, ela me faz perguntas sobre as minhas lições de casa. Não sei se é para garantir que eu tenha feito ou se ela acha que está me educando. Quero dizer, eu sei que ela tem uma tonelada de conhecimento guardada naquela cabeça cheia de fios brancos, então, de certa forma, isso é algo bom. Mas não consigo me livrar da sensação de que estou sendo ao mesmo tempo examinada e julgada.

E eu tenho essa sensação com frequência.

Chegamos em casa às seis em ponto. Não sei como conseguimos, mas é o que sempre acontece. Por outro lado, considerando como nossa vida é rigidamente regulamentada, acho que devo parar de me questionar. Isso não vai me levar a lugar algum.

Como é domingo, é noite de pernil de carneiro assado. Eu odeio carneiro, mas obviamente isso faz pouca ou nenhuma diferença. Pernil de carneiro assado com batatas e legumes, acompanhado de um molho tão sem sabor que mais parece água pura. Porque é assim que ela gosta. Acho que nunca tive voz em nada, mas tenho certeza que protestar me deixaria sem jantar e com mais uma acusação de insolência.

As consequências de ser insolente não são divertidas nesta casa.

Depois do jantar, é a mesma rotina. Sempre a mesma rotina.

Às nove e meia, ganho meia hora abençoada de paz. Esta é minha meia hora para relaxar e fazer o que eu quiser. Inevitavelmente, acabo lendo na cama. Livros são o meu consolo, sempre foram. Nessa meia hora, eu posso ir para outro lugar nas páginas de um livro. Nessa meia hora, eu posso ser quem eu quiser e fazer o que bem quiser. Ninguém vai chamar minha atenção e me punir por retrucar durante essa meia hora. Graças a Deus.

E sempre acaba rápido demais. Sempre há aquela batida na porta.

— Dez horas, Wanda. Apague as luzes.

— Sim, vovó. Boa noite.

São as mesmas duas frases toda noite nessa minha vida de merda. Que caralho! Ainda bem que essas palavras estão na minha cabeça porque acho que falar palavrão é quase pior do que ser insolente.

Eu sei que ela não sabe o que se passa na minha cabeça. Ela ficaria chocada se soubesse.

Todo mundo ficaria chocado. As pessoas da escola, da rua... Acho que até Natasha Romanoff ficaria surpresa se soubesse. Se algum dia ela olhasse para mim e visse o que se passa na minha cabeça. Se algum dia ela realmente olhasse para mim.

O que todos diriam? O que pensariam? O que fariam se soubessem que eu quero morrer?

O que diriam caso eu finalmente conseguisse acabar com a minha própria vida?

Provavelmente nada.

Mas já era de se esperar.

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