Conto 2: O Último Adeus

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Durante toda a minha vida eu havia sido um fracasso. A culpada disso tudo era uma só: eu. Eu havia estragado tudo esse tempo todo me lamentando pelos cantos pela vida medíocre que eu levava.

Tudo piorou depois da morte do meu pai. Uma morte trágica, acidente de carro. O veículo se chocou com o ônibus. Foi tão feio que o caixão teve que ser lacrado. Eu nunca mais vi meu pai, mas me lembro do rosto dele todos os dias pelas fotografias em minha casa. Ele era uma pessoa boa e eu o amava muito, nada mudaria isso. Nem mesmo o fato da minha mãe ter tentado substituí-lo seis meses depois por um homem nojento.

Alcoólatra, drogado e sustentado pela minha mãe - e posteriormente por mim -, Jack passava seus dias jogado no sofá e passando sua mão em mim sempre que tinha oportunidade. Minha mãe não me dava ouvidos, preferia continuar de olhos fechados para o problema que tinha dentro de sua casa. Mas eu não pensava em deixá-la sozinha até alguns meses atrás.

Depois de diversos conflitos, de tentar abrir os olhos dela para a realidade, eu saí a procura de um apartamento pelas ruas de Nova York e, apesar de encontrar no Brooklyn, era um bom começo. Na manhã do dia anterior, eu havia pego a chave do meu pequeno apartamento e estava feliz em deixar a casa onde havia sofrido nas mãos do meu padrasto durante longos 15 anos.

Com meu diploma em mãos e recém empregada em uma empresa que ficava instalada na Torre Norte do World Trade Center, saí a passos largos, decidida. Não me despedi da minha mãe ou do meu padrasto. Minha mãe saiu pelas ruas, chamando por mim, mas eu não desisti. Ela aprenderia por bem ou por mal o quanto eu sofri todos esses anos. Com uma olhada rápida, meu padrasto palitava os dentes, apoiado no batente da porta, enquanto minha mãe ficava parada no meio da rua, aos prantos.

Com o coração apertado, me virei e caminhei ao metrô, indo em direção ao meu novo emprego. Em meio a multidão agitada de NY, eu tentava caminhar apressadamente em cima de meus sapatos de salto alto, segurando minha bolsa contra meu corpo e ajeitando minha saia que sismava em querer subir.

Assim que passei pelas portas do enorme prédio, sorri para as pessoas que encontrava por onde passava e passei por uma troca olhares com um dos filhos do chefe do meu departamento. Estramos no mesmo elevador enquanto eu apertávamos o número do andar que queríamos, o mesmo que o dele, é claro. O lindo Ethan Johnson, sempre desgrenhado, sempre com seus cabelos bagunçados, sempre com suas roupas desleixadas, sempre com aquele ar de garoto mau. Seu olhar se encontrou com o meu mais uma vez e eu desviei, sorrindo timidamente e pude ouvir sua risada de escárnio.

Mas o que eu estava pensando? Não poderia flertar assim com o filho do chefe!

Caminhei para a sala de reuniões quase cheia e cumprimentei à todos com um aceno de cabeça e um sorriso tímido. O relógio marcava oito e quarenta e cinco, fazendo com que eu tentasse estabilizar minha respiração. Eu havia chego a tempo.

Foi quando ouvimos um barulho de avião próximo. Próximo até demais, me fazendo distrair dos meus pensamentos. Um baque ensurdecedor, um calor intenso e um clarão invadiu a sala. Todos gritaram, todos pediam por socorro. O meu corpo queimava de dentro pra fora, eu sentia muita dor, não enxergava mais e então eu não estava mais consciente.

Meu nome era Ammy Brown e eu morri no dia 11 de setembro de 2001, na Torre Norte do World Trade Center, atingida pelo voo 11. Meu andar fora atingido em cheio.

Eu nunca mais verei minha mãe ou meu padrasto, mas eu reencontrarei meu pai.

Eu morri de forma brutal pela maldade do ser humano.


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