Conto 9: Despedida De Solteiro

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Era a minha despedida de solteira.

Quase solteira.

Quando você passa oito anos da sua vida com uma pessoa, é capaz de não se lembrar de como era sua vida de solteira. No entanto, eu ia me casar dali uma semana e então eu estaria definitivamente compromissada.

O nome dele? Renan. O conheci ainda jovem na faculdade, em uma das minhas escapadas da aula para ir ao bar em um dia de muito calor. Eu o via com frequência, trocava olhares, mas era fiel à minha amiga quando dizia que não daria atenção para alguém que não fosse ela já que era sempre minha única companhia.

Eu era conhecida entre minha roda de amigos por ficar com garotos e não me apegar à nenhum deles. Muitas vezes julgada, mas quem se importava? Eu é que não.

O destino resolveu me pregar uma peça e eu me apaixonei por Renan sendo correspondida. Oito anos depois, estou com uma aliança dourada na mão direita que pesa o suficiente para não me fazer esquecer a nossa história nenhum segundo dos meus dias.

Já morávamos juntos quando ele me propôs e foi uma surpresa, porque eu já estava conformada. Ele me surpreendeu com um pedido que sabia que tinha um dedo do meu amigo, Miguel.

Conheci Miguel não muito depois que entrei na faculdade. Ele me dizia que havia vindo de outra cidade e, depois de muito nos conhecermos, nos tornamos grandes amigos. Eu sempre havia pedido à ele que me auxiliasse caso meu futuro marido ou namorado não soubesse o bastante sobre mim e tinha certeza de que ele havia moldado Renan pra mim.

Eu vi muitas garotas passarem por sua vida - muitas mesmo - e era inevitável não sentir ciúmes de cada interesseira que ele conquistava com uma destreza invejável. Assim como ele viu também muitos otários antes de Renan passarem pela minha, mas duvidava muito que o sentimento de ciúmes era recíproco.

Se tem uma coisa que Miguel sabe fazer bem é ser transparente. Ele é do tipo que faz, deixa tudo às claras e não manda indireta. O negócio dele é direto e reto, não adiantava tentar ler as entrelinhas, porque ele era um livro aberto.

Por trás desse homem que veste a máscara de mulherengo, existe o coração mais puro e doce que alguém pode conhecer. Sabe aquele homem que você pediu à Deus? É ele! Com apenas um defeito irreparável e imperdoável.

Mas é fato que ser amiga dele foi a coisa mais certa que eu fiz na vida e, depois de quase dez anos de amizade, cá estávamos nós na minha despedida de solteira, tão perto de realizar um grande sonho: me casar.

Ele acertou em me levar em uma balada gay para me sentir ainda mais à vontade. Com o véu de noiva na cabeça, eu me remexia ao som de Toxic. Os rostos conhecidos se misturavam aos desconhecidos. Amigas de longa data, amigas que significavam o mundo pra mim e, é claro, Miguel, que não poderia faltar nessa data tão importante.

- Está se divertindo? - Ele gritou no meu ouvido para que a sua voz se sobressaísse a música que tocava alto demais.

Nessa altura do campeonato eu já não me importava mais, o álcool corria livremente pelas minhas veias, me deixando mais sorridente para desconhecidos.

- Muito! - Gritei de volta, abraçando-o fortemente. Por que eu havia feito aquilo? - Vamos dançar!

Sem que ele respondesse, o trouxe ao mar de corpos que se agrupavam na pista de dança, suados e quentes.

A música animada finalizou e uma mais calma se iniciou. Em outros tempos eu ficaria com vergonha de continuar ali, mas depois de tanto tempo eu confiava em Miguel.

Me virei de costas e colei meu corpo ao seu, passando a mexer o quadril de um lado a outro. Minhas mãos passeavam por seus cabelos, levando uma delas para sua nuca para que pudesse me mexer sem medo de me desequilibrar. Sua mão foi parar no meu baixo ventre e seus lábios colaram na minha orelha.

Eu nunca havia beijado Miguel. Sempre tinha um certa tensão reprimida, um tesão barrado por nós mesmos e por nosso orgulho, por medo da reação do outro, mas naquele momento tudo parecia ter se encaixado depois de tanto tempo.

Me virei para ele, nossos olhos se encontrando em meio à escuridão, as luzes coloridas tomando conta do seu rosto. Suas mãos pousadas em meu quadril me trouxeram para si e então eu estava colada nele. Ainda acompanhava o ritmo da música enquanto deixava meus dedos se embrenharem nos seus cabelos. Por que de repente a boca dele me pareceu tão atraente?

Cada um dos meus pelos estavam eriçados em resposta aos seus toques e, quando nossos lábios se tocaram, foi como se o fogo dentro de mim tivesse se acendido depois de tanto tempo. Era claro que eu repugnava uma amizade que envolvesse beijos e dizia que não era uma amizade se envolvesse toque, mas eu não sabia o que estava perdendo. Miguel sabia onde me tocar, o que fazer, como me agradar e o resto da noite pareceu se passar em câmera lenta.

Quando ele me tomou em seus braços naquela noite, parecia que eu estava deitada nas nuvens. Por algum motivo, era pra eu estar impedindo aquele ato tão certo esse tempo todo. Eu já não conseguia ver erro, não conseguia encontrar pecado, eu só queria sentir. E eu o senti, eu o deixei me possuir.

Não achem que isso mudou em algo no meu casamento, porque na semana seguinte eu me casei. Quando o encontrei com um sorriso largo e encantador, eu não fiquei nervosa, não me impedi de abraçá-lo fortemente, não me impedi de beijá-lo no rosto.

- Nunca vou esquecer daquela noite. - Ele sussurrou e se afastou com a nova conquista dele.

Eu ri, balançando a cabeça em negação enquanto o via se afastar.

Renan tocou a minha mão e me sorriu. Eu havia feito a escolha certa.

Não havia?

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