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R I C H A R D  R Í O S

O sol já começava a entrar pelas frestas da janela da cozinha quando desci as escadas. Clara já estava lá, como sempre, cuidando de tudo. Acho tão incrível o jeito que ela amadureceu tão rápido. Ela estava de costas para mim, acho que é uma das melhores vistas que eu tenho. Enquanto Sofia estava sentada, brincando com um pedaço de pão, e Lucca estava sentado na cadeira do lado dela.

- Bom dia, família. - Eu disse, me espreguiçando e me sentando à mesa.

- Finalmente, o dorminhoco acordou. - Clara brincou, sem se virar, mas com aquele sorriso que eu conhecia bem.

Sofia, ao me ver, começou a esticar os braços em minha direção. Me agachei para pegá-la.

- Papai! - Ela soltou, e meu coração derreteu.

- Vem cá, minha princesa. - Peguei-a no colo, sentindo aquele cheirinho doce de bebê que só ela tinha. Clara me olhou por cima do ombro, ainda sorrindo.

- Acho que ela prefere você agora. - Clara disse, colocando o café sobre a mesa e sentando-se ao meu lado.

- E quem pode culpá-la? - Brinquei, beijando a bochecha da Sofia.

Lucca riu, ainda concentrado no seu pão.

- Eu acho que ela gosta do meu pai porque ele deixa ela fazer o que quer. - Ele comentou.

- Claro, porque sou o pai legal. - Pisquei para ele.

- Verdade pai - Ele fala brincando com os bracinhos da irmã.

- Sei... - Clara levantou uma sobrancelha, me provocando. - Quando ela começar a fazer birra porque quer comer doce antes do almoço, você vai mudar de ideia.

Eu ri, enquanto Sofia tentava pegar meu café.

- Vamos ver se esse dia chega logo. Por enquanto, vamos aproveitar que ela só quer pão e colo.

Clara riu e se levantou para pegar a jarra de suco.

- Hoje tem treino, hein, Lucca? Tá animado? - Perguntei, tentando animá-lo.

Ele deu de ombros de novo, um pouco mais sério dessa vez.

- Tô sim, mas não sei se tô indo tão bem quanto antes... - Ele falou, com um pouco de insegurança na voz.

- Você está indo muito bem, filho. Todos nós passamos por altos e baixos, mas o importante é continuar se dedicando. - Ela falou, sentando-se novamente à mesa.

Eu balancei a cabeça em concordância.

- E lembra que você está jogando porque ama o esporte, e não porque tem que ser o melhor. Você tem que se divertir.

Lucca deu um pequeno sorriso, como quem entende, mas ainda está processando.

- Eu vou tentar, pai. - Ele disse.

Nos sentamos todos para finalmente comer. Clara me olhou de lado, seu sorriso suave, enquanto as crianças continuavam comendo.

- Vamos ter um dia juntos hoje, certo? - Ela disse, pegando a mão do Lucca e depois a minha.

E assim começava mais um dia na nossa vida caótica e feliz.

Estava sentado no sofá, assistindo um programa de tv que estava falando sobre meu desempenho no Palmeiras, com a Sofia aconchegada no meu colo, quando Lucca apareceu na sala com uma bola nas mãos e aquele sorriso arteiro que ele puxou de mim. O moleque sempre com energia de sobra. Já a Sofia, com seus cabelinhos dourados, estava deitada em mim, abraçada ao meu pescoço, se aconchegando como sempre. Não desgruda de mim por nada. Clara sempre diz que sou um puxa-saco da menina, e ela não está errada. Ela é o meu xodó.

Recomeço - Richard Rios Onde histórias criam vida. Descubra agora