Capítulo 23

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Cebolinha caminhava pelas ruas do bairro, o vento frio da noite batendo em seu rosto machucado. Ele não queria voltar para casa. Não podia. O coração batia forte no peito, carregando um peso que ele não sabia explicar. Ele olhou ao redor, as luzes dos carros passavam rápido por ele, e o barulho do trânsito quase o engolia. Ele enfiou a mão no bolso e pegou o celular: 8 horas da noite.

O silêncio ao redor contrastava com a confusão na sua mente. Os pensamentos estavam bagunçados, tão desorganizados quanto os sentimentos de medo e angústia que sentia. Por que sua mãe era assim? O que ele fez para merecer tanto desprezo? Quando era criança, aprontava para chamar a atenção dela, mas tudo o que ganhou foram castigos e agressões. Naquele momento, as memórias de seus erros infantis pareciam insignificantes em comparação à dor que sentia agora.

Seu pai costumava protegê-lo. Sempre intervinha quando ela passava dos limites. Mas agora... ele estava tão distante. Trabalhando fora o dia todo, voltando tarde, e quando voltava, estava tão exausto que ia direto para a cama. O único abraço que o confortava tinha se tornado uma lembrança distante.

De repente, uma voz fria e profunda se infiltrou em seus pensamentos.

"Por que não se joga na frente desses carros...?"

Cebolinha parou de andar por um segundo. Seu coração acelerou. Ele olhou para os carros que passavam à sua frente, suas luzes ofuscando seus olhos. Talvez fosse mais fácil assim. Acabar com tudo.

" Uma morte dolorosa pode acabar com seu sofrimento."

A voz cochichava, insistente, escura, mas parecia tão familiar... Ele continuou olhando para os carros, seus pés enraizados no chão, como se a própria ideia começasse a fazer sentido. O som dos carros passando quase parecia uma promessa de alívio.

Mas antes que seus pensamentos pudessem afundar de vez, uma outra voz o trouxe de volta.

— Cebolinha?

Ele reconheceu aquela voz na mesma hora. Do Contra, que estava um pouco mais atrás, olhava para ele com uma expressão de confusão e preocupação.

— Cê tá bem?

Do Contra parecia incerto. Aquela figura à sua frente, de costas, era mesmo Cebolinha? Ele deu mais alguns passos, tentando ver melhor. E quando o garoto virou-se lentamente para encará-lo, deu pra Do contra percebe que era ele.

— Eu... tava só comprando umas coisas que minha mãe pediu — ele começou a dizer, com a voz hesitante. — Não sabia que ia te encontrar aqui.

Cebolinha não respondeu. Seu olhar estava vazio, sem vida. Do Contra, agora mais próximo, ficou paralisado por um momento, conseguiu enxergar melhor, e já ficou extremamente chocado com o estado do namorado. A dor estava estampada em cada detalhe. Ele rapidamente se aproximou, a voz cheia de urgência e preocupação.

— Quem fez isso com você, Cebolinha!?

Com cuidado, Do Contra levantou a mão e passou os dedos pelo rosto machucado de Cebolinha, limpando um pouco do sangue seco. Ele tentou não demonstrar o choque que sentia, mas era impossível.

Cebolinha fechou os olhos. As lágrimas, que ele segurava há tanto tempo, finalmente vieram. Ele desabou nos braços de Do Contra, soluçando, cada lágrima sendo como um grito silencioso de socorro.

Do Contra envolveu o namorado em seus braços, apertando-o forte contra o peito, sem dizer nada por alguns segundos. O mundo parecia ter parado ao redor deles.

— Ta tudo bem, Cê. Vamos cuidar desses machucados. Eu tô aqui... você não tá sozinho.


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