passado

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Diana

O casarão parecia mais quieto do que nunca enquanto eu me preparava para sair. O silêncio, que antes me trazia conforto, agora me sufocava. Era como se as paredes da casa estivessem se apertando ao meu redor.

Não podia mais ficar presa ali, perdida nos pensamentos sobre Fátima, nos rumores que cresciam a cada dia e na sombra constante de Leandro pairando sobre mim.

Precisava de um tempo, uma distração— algo que me trouxesse de volta ao mundo que eu costumava dominar com tanta facilidade.

Foi aí que me lembrei dela: Clara. Minha velha amiga, uma das poucas pessoas em quem confiei antes de me tornar a viúva reclusa que todos agora conheciam. Fazia anos desde a última vez que nos vimos, numa época em que tudo ainda era simples. Antes do casamento arranjado, antes da morte do meu marido e muito antes de Fátima se tornar o centro da minha vida.

Clara vivia numa fazenda não muito distante da minha, mas nossos caminhos se afastaram com o tempo. Ela se casou com um comerciante de café, Ernesto, e, pelo que eu soube, sua vida foi marcada por viagens e negociações. Não éramos próximas há tempos, mas ela sempre me transmitia uma sensação de familiaridade e compreensão, algo que eu precisava desesperadamente naquele momento.

A viagem foi breve, com o tempo cinzento refletindo meu estado de espírito. A carruagem sacudia pelos caminhos de terra, enquanto eu observava as fazendas passando ao longe, sentindo uma ansiedade crescente.

Será que Clara ainda era a mesma? Será que ela me reconheceria, não como a condessa de Serra Alta, mas como a Diana que eu costumava ser antes de tudo?

Ao chegar à entrada da propriedade, fui recebida por Manuel, o administrador da casa, um homem velho e encurvado que eu vagamente lembrava de uma visita anterior. Ele me conduziu até a casa principal, onde Clara já me esperava, sentada em uma cadeira de balanço no grande terraço de madeira, que dava vista para as plantações de café.

— Diana! — A voz de Clara soou alegre e calorosa, dissipando a neblina de preocupações que eu vinha carregando nos últimos meses. Ela se levantou com a mesma graça dos velhos tempos e caminhou até mim, braços abertos para um abraço que aceitei com um alívio inesperado.

— Clara... — murmurei, retribuindo o abraço e sentindo o calor daquela familiaridade acalmar meus nervos. — É tão bom te ver depois de tanto tempo.

— Nem me fale! — respondeu ela, afastando-se só o suficiente para me olhar nos olhos. Seus olhos ainda brilhavam com o mesmo entusiasmo de antes, como se o tempo não tivesse passado. — Já estava mais do que na hora de nos vermos de novo. E você, como tem estado? Como está a vida lá nas montanhas?

Sorri de leve, tentando disfarçar a complexidade dos últimos meses.

— Tranquila, como sempre.

— Tranquila? — Ela ergueu uma sobrancelha, com um sorriso zombeteiro. — Com terras para administrar, pretendentes à sua porta e o peso da viúvez? Não acredito em uma palavra disso.

Soltei uma risada curta, percebendo que Clara ainda tinha a habilidade de ver através das minhas defesas.

— Talvez nem tão tranquila assim.

Ela me puxou gentilmente para o terraço, onde uma pequena mesa com chá e biscoitos nos aguardava.

— Venha, me conte tudo. Sinto que tem mais nessa história do que você está me contando.

Antes que eu pudesse começar, ouvi passos leves atrás de nós. Virei-me e vi uma jovem elegante se aproximando com um sorriso discreto. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque apertado, e seu vestido simples, porém refinado, indicava alguém de classe, mas sem ostentação.

lúmina - diamaOnde histórias criam vida. Descubra agora