Diana
O cheiro de fumaça ainda parecia impregnado em mim quando voltei ao casarão naquela noite. O incêndio nas terras havia sido controlado, mas as marcas da destruição estavam por toda parte — árvores e pés de café reduzidos a cinzas, trabalhadores exaustos e desesperados.
Vinte hectares devastados, e eu sentia o peso de cada pedaço de terra perdida. A devastação se refletia em meu espírito, como se uma parte de mim também tivesse sido consumida pelas chamas.
As horas que passei nas plantações foram extenuantes. Cada decisão, cada ordem dada, parecia sugar um pouco mais da minha energia, e a incerteza sobre o futuro das terras e de Fátima se arrastava como uma sombra pesada. Eu me sentia como uma corda esticada prestes a romper. Tudo estava desmoronando: minhas terras, minha posição e, se eu não fosse cuidadosa, meu relacionamento com ela também.
Assim que entrei no casarão, as velas acesas ao longo dos corredores lançavam uma luz suave e trêmula. O silêncio era espesso, quase opressor. Mesmo a casa, que costumava me parecer um símbolo de minha força, agora parecia esmagadoramente vazia e hostil. Os criados haviam terminado suas tarefas, e a quietude reinava no grande salão.
Meus passos ecoaram pelo chão de madeira, e quando alcancei o andar superior, vi Fátima já à porta do meu quarto, segurando uma bandeja com chá. Seu olhar encontrou o meu, cheio de preocupação e carinho, e algo em mim se acalmou apenas por vê-la. Ela sempre sabia quando eu precisava dela sem que eu dissesse uma palavra.
— Senhora — disse ela suavemente, ao me ver. Havia algo no tom dela, na forma como seus olhos observavam cada detalhe da minha expressão, que me fez perceber que ela sabia exatamente o quanto eu estava me desgastando.
— Fátima — murmurei, exausta, enquanto me aproximava. — Eu... hoje foi... — Eu não conseguia terminar a frase, o peso de tudo me esmagando.
Ela não disse nada. Não precisava.
Em vez disso, colocou a bandeja de chá em uma pequena mesa ao lado e se aproximou, suas mãos subindo suavemente até meus ombros. O toque dela era tão familiar e ainda assim, naquela noite, parecia diferente. Mais urgente. Mais necessário. Seus dedos apertaram meus ombros com uma pressão delicada, e eu senti a tensão começar a dissolver-se sob seu toque.
— Venha — disse ela, com uma voz tão suave que parecia mais um sussurro. Ela me guiou até a cama, como se soubesse que minhas pernas mal suportavam meu próprio peso. Eu a deixei me guiar, sem resistência.
Fátima me ajudou a tirar o casaco, seus dedos sempre delicados ao tocar minha pele. Ela começou a desatar os laços do meu vestido com uma paciência que sempre me acalmava, seus movimentos lentos e precisos. Quando o vestido caiu aos meus pés, senti o ar frio da noite envolver meu corpo, mas o calor das mãos de Fátima logo voltou a me envolver, me aquecendo de uma maneira que nada mais poderia.
Fátima se aproximou, e eu a puxei para mais perto, nossos corpos se encostando. Minhas mãos subiram por suas costas enquanto ela pressionava seus lábios nos meus, e o beijo que se seguiu foi lento e profundo. Eu podia sentir toda a tensão que havia se acumulado em mim se derreter a cada toque dos lábios de Fátima. O gosto dela, a forma como sua língua roçava na minha, era como um bálsamo para minhas feridas invisíveis.
Meus dedos entrelaçaram-se em seus cabelos, puxando-a mais perto de mim. Cada toque dela parecia uma promessa de que eu não estava sozinha. De que, independentemente do caos ao redor, ela estaria comigo.
Ela me deitou na cama e, por um momento, apenas ficou ali, me observando. Os olhos de Fátima estavam cheios de um amor tão intenso que fez meu peito se apertar. Eu sabia que ela podia sentir o peso do que eu estava enfrentando, e sabia que, à sua maneira, estava tentando tirar isso de mim, pelo menos por um tempo.
— Eu estou aqui — disse ela, seus dedos traçando um caminho suave pela minha bochecha, descendo até o pescoço. Seus toques eram tão delicados, tão cheios de carinho, que eu senti as lágrimas começarem a se acumular nos meus olhos.
Ela me beijou de novo, desta vez de maneira mais urgente. Nossos corpos se moviam juntos, como se estivéssemos em uma dança silenciosa. Cada toque, cada beijo, cada suspiro, me trazia de volta à vida. Fátima me conhecia de uma forma que ninguém mais conhecia. Ela sabia exatamente onde tocar, onde beijar, para fazer o mundo desaparecer por completo.
Quando suas mãos deslizaram por meu corpo, cada carícia parecia mais intensa do que nunca. Senti seus lábios descerem pelo meu pescoço, e um suspiro escapou de meus lábios. Fátima sempre foi cuidadosa, mas naquela noite, havia algo mais em seus toques. Ela estava mais presente, mais apaixonada, como se soubesse que eu precisava disso mais do que qualquer coisa.
Meus dedos se enroscaram em sua pele enquanto ela continuava a me beijar, a me tocar, e eu me deixei levar por aquele momento, o calor de seu corpo contra o meu, o conforto que seus toques traziam. Não havia mais incêndios, mais destruição. Apenas nós duas.
O mundo lá fora poderia estar desmoronando, mas naquela noite, tudo o que importava era Fátima. O cheiro de fumaça e cinzas ainda estava em minha mente, mas o calor do corpo dela, o sabor de seus lábios, apagava tudo. E por um momento, o peso que eu carregava se desfez.
Quando finalmente nos deitamos juntas, ofegantes e exaustas, deitou a cabeça em meu peito, e eu acariciei seus cabelos. O silêncio que antes me oprimia agora era um alívio. A sensação do corpo dela contra o meu me trazia uma paz que eu não encontrava em mais nenhum lugar.
— Eu não sei o que faria sem você — sussurrei, as palavras saindo antes que eu pudesse sequer pensar nelas.
Ela ergueu o olhar e me deu um sorriso suave, um sorriso que dizia mais do que qualquer palavra poderia expressar.
— Você não precisa saber — respondeu ela, seus dedos traçando linhas invisíveis na minha pele. — Eu sempre estarei aqui.
E naquele momento, enquanto o luar entrava suavemente pela janela, eu soube que, mesmo com todas as ameaças externas, todos os problemas que pairavam sobre nós, eu tinha algo que ninguém poderia tirar.
Eu tinha Fátima.
E, por mais que tudo ao meu redor estivesse desmoronando, o amor que compartilhávamos era a única coisa que me mantinha de pé.
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lúmina - diama
Romanceem que diana é uma condessa viúva presa pelas convenções sociais, e fátima, sua empregada leal.