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DANTE

Há mais de uma semana vivo em um inferno. Não é o mesmo em que vivi quando toda a merda se precipitou ralo abaixo. Não. É algo diferente. Muito pior. 

Nunca pensei que um dia chegaria a essa conclusão. Mas é o que está acontecendo agora. Se eu antes vivia desconfiado, hoje vivo em alerta total. 

Alguém envenenou minhas filhas. Como se fosse pouco, a segunda pessoa em quem mais confio no mundo também adoeceu pelo mesmo motivo. Ainda tem a cereja do bolo: Nicole.

A babá foi a mais afetada pela porcaria que alguém colocou na água que elas beberam. 

Enquanto uma enfermeira cuidava das meninas e uma copeira cuidava de Rita, sobrou pra mim cuidar da babá que chegou a ficar inconsciente por um dia inteiro.

Esteve delirante por vários dias. A febre alta não cedia. Vi seu sofrimento. Ouvi seus gemidos. Eu a segurei enquanto convulsionava. Enquanto vomitava. Temi por sua vida por mais de uma vez.

Eu também estava lá quando Nicole sonhou comigo. Espantado e encantado vi e ouvi os efeitos do sonho erótico. As mãos delicadas tocando sua intimidade enquanto ela gemia meu nome. 

Então, tudo voou pelos ares quando o sonho se tornou a merda de um pesadelo.

Eu me transformei em Javier para Nicole, no final. Assim como aconteceu comigo quando sonhei com ela. Quando a doce Nicole se tornou Lucía, a maldita. Por isso sei como ela se sentiu. Pelo menos, em parte. Javier praticou uma violência terrível contra a babá.

Não sei como é ter seu corpo violado dessa maneira. Imagino, porém. Também fui violentado de certa forma. Sem comparação, é claro. Não tem como comparar uma coisa à outra.

Naquela madrugada eu soube que Nicole ainda é afetada por mim e que me deseja. Mesmo que lute contra isso. Eu também estava lá, ao lado de sua cama, quando ela disse tudo que pensa sobre mim.

Foi por isso que ela mudou. Nicole matou a charada. Sabe o que fiz com Eliane. Imagina o que eu fiz com as babás anteriores. Para a garota, sou um porco. Um canalha. Ela não está errada de todo. 

Tenho sido isso mesmo: um canalha. Foi no que me transformei.

Bem, a babá tem seu trauma e eu tenho o meu. Cada um sabe de suas dores. De qualquer forma, é melhor saber a verdade do que ficar imaginando coisas. 

Cheguei a pensar que Nicole estava usando a carta do jogo duro para despertar meu interesse. Ela não sabe. Mas não precisa jogar carta nenhuma. Eu a desejo. Muito. Ardentemente. 

Mas, é apenas isso: desejo. Não consigo ser mais do que um canalha. Não dá. Vai além do que posso controlar. 

Cada um sabe de suas chagas. As minhas ainda estão abertas. Acho que jamais serão curadas.

Ontem Nicole voltou ao mundo dos vivos. Desde então, Rita tem cuidado dela. Foi depois que ela voltou dos delírios, que fomos capazes de descobrir quem me traiu.

Nicole disse quem entregou a jarra de água para ela.

Estou diante deles agora. Não apenas de uma pessoa. Diante de mim há um segurança e uma faxineira. Ambos olham para mim como se não devessem nada ao mundo. Nenhuma lágrima. Zero arrependimento. Nada.

O sujeito está todo quebrado. Dedos lhe faltam nas mãos e nos pés. Suas unhas estão todas no chão. Perdeu alguns dentes. Há cortes espalhados por todo seu corpo. Muito sangue. Fedor de urina e bosta.

A babá perfeita - EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora