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DANTE

Como sempre, acordo em alerta, buscando um inimigo invisível que está sempre à espreita para me emboscar a qualquer momento. Depois de tudo que aconteceu, em um passado não muito distante, essa sensação escalonou muito. 

Dessa vez não pulo da cama, mas olho para todos os lados e descubro que minhas filhas já não estão na minha cama. O que me chateia muito por dois motivos: eu não percebi quando a babá entrou no meu quarto e a garota retirou minhas filhas de mim como se fosse a mãe delas. 

Agindo como alguém que tem o direito de tomar decisões sobre as minhas filhas. Minhas. 

Passo no banheiro antes de passar pela porta auxiliar, mas elas não estão em seus berços e nem no quarto da babá. Volto pro meu quarto e visto algo não tão formal, mas não tão à vontade como quando eu estava na piscina. 

Desço e começo a procurar por qualquer uma, Nicole ou Rita, mas não as encontro e isso está azedando meu humor já difícil. 

- Onde está a governanta desta maldita casa? - urro a pergunta quando chego na cozinha. 

- Rita está no jardim com as gêmeas, senhor - uma das copeiras diz com a voz trêmula.

O que não ajuda muito. A porra do jardim é tão grande quanto a mansão. Mas me dirijo ao local onde imagino ser mais agradável neste horário. Então, de longe, vejo uma toalha esticada no gramado. 

Rita e Nicole estão com as meninas em seus braços. Elas parecem estar cantando e as gêmeas soltam risadinhas estridentes. Paro um pouco e respiro fundo, tentando controlar a raiva, porque vejo que Nicole se dedica às gêmeas, diferente das outras que contratei antes. 

Não acaba com meu mau humor de todo, porque não vou permitir que a babá pense que pode tomar decisões sobre as gêmeas por conta própria. Piso firme contra a grama até alcançar as quatro perto do lago, sob uma grande árvore. 

- Quem disse que você poderia entrar no meu quarto e tirar minhas filhas da minha cama? 

Nicole ergue a cabeça com os olhos arregalados, mas algo mudou. Não vejo mais nela o medo nervoso e que, de certa forma, me divertia. A babá mudou de atitude por algum motivo. Ela coloca Luna em uma cadeirinha e se ergue, me encarando de frente. 

Está nervosa, mas não há mais medo.

- As gêmeas possuem horários para acordar e comer, senhor Alvarez. Coisa que está prevista no cronograma da nutricionista e da pediatra das suas filhas. 

Rita se ergue com a intenção clara de defender sua preferida, mas Nicole para sua amiga com o olhar e se volta para mim de novo. 

- Mas, de qualquer forma, eu as tirei do seu quarto porque o senhor estava dormindo pesado e as meninas estavam chorando há mais de cinco minutos. - É a minha vez de arregalar os olhos. - E se o senhor não está satisfeito com o meu trabalho, fique à vontade de buscar outra babá. 

Rita pigarreia, mas Nicole segura seu olhar desafiador. Estou bufando, às mãos fechadas em punho. Estreito os olhos e me aproximo dela, a garota precisando erguer mais a cabeça para seguir me encarando.

- Não pense que não sou capaz de fazer isso. 

- Agora faço uma ideia do que o senhor é capaz. Mas, como eu disse, fique à vontade. 

- Patrão? - Rita tenta, mas meu olhar está fixo no olhar desafiador de Nicole. 

Estou ofegando e ela também. Suas pupilas estão fixas, diferente das minhas. Estou olhando para o rosto dela. Para cada detalhe de suas feições. Os cabelos claros. As sobrancelhas perfeitas. Os olhos amendoados. A boca pequena e rosada. 

A babá perfeita - EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora