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Nicole

Os últimos dias não foram fáceis. Não consigo saber o que aconteceu ou o que foi delírio. Sei que tive um sonho erótico que se transformou em pesadelo.

Além disso, é tudo um grande mistério. Um emaranhado de teorias sem nenhuma confirmação ou possibilidade de descobrir a verdade.

Estou cansada dessa loucura. Preciso desse emprego. Dito isso, preciso ter algum juízo sobrando para ter condições de estudar e passar em um dos cursos mais desejados e mais disputados do país. Sem juízo, sem sonho. Ponto.

Sendo quem sou, e por consideração à amizade que tenho por Rita, caí na besteira de dizer a ela sobre a minha pretensão. Resultado, a governanta bateu com a língua nos dentes. Eu deveria ter arrumado a mala na surdina e ter deixado a casa sem aviso.

Depois era só enviar uma carta de demissão. Tudo resolvido. Pelo menos, era o que eu achava. Mas, somente até o brutamontes invadir meu quarto, me encontrar quase nua e jogar na minha cara que não tenho como pagar a multa rescisória.

Quem diabos assina um contrato sem ler? Eu, claro! Burra e crédula que sou, estou sempre dando benefício da dúvida às pessoas. Agora pago o pato pela minha ingenuidade ridícula. Minha liberdade de escolha, de ir e vir, acabou de ser tolhida. Não posso ir embora.

Estou presa a esse louco por um ano inteiro. Um ano! Dá pra acreditar nisso? Claro que tinha que ser comigo.

A certeza de que eu tinha que dar o fora desse manicômio veio quando abri a porta do closet e me deparei com o local todo ocupado. Não há um só espaço livre. Roupas de todos os tipos e até estilos. Calçados. Bolsas. Acessórios. Perfumes e maquiagens. Até joias o maluco comprou!

O que é isso? Algum romance hot clichê em que o vilão rico compra a mocinha pobre com tudo que o dinheiro pode pagar? Estou vivendo o mais novo cinquenta tons de sei lá o que?

Não! Foi nessa hora que eu tive a confirmação e gritei para mim mesma: corra para as colinas, Nicole. Foi tarde demais, porém. Ou apenas fiz as coisas do jeito errado. Imaginei que o dono do mundo se demoraria mais em seu compromisso urgente. Me enganei.

Ele voltou bem a tempo de estragar meu sonho de liberdade. Agora estou aqui. Muda e chateada. Não. Na verdade, puta comigo mesma. Decepcionada por Rita ter usado sua influência para me prender sob suas asas por mais tempo.

Verdade seja dita. A governanta é a minha mãe que não é minha mãe de verdade. Não cuidou de mim por estar acamada do mesmo jeito que eu e as gêmeas. Não fosse isso, teria se agarrado à minha cama. Foi o que fez assim que melhorou e não saiu mais.

Solto um suspiro exasperado e entro no closet. Sobre um pufe há um uniforme novo em folha. Este é mais bonito. Possui uma espécie de bordado em um pedaço de tecido branco nas extremidades das mangas longas.

A saia vai até a altura dos joelhos. Os calçados são um par de sapatilhas mais formal. Na rede para guardar os cabelos há uma fivela com bordados em pérolas falsas. A indumentária toda é chique.

Seu objetivo é uma babá que posa para fotos. Na vida real atrapalha mais do que qualquer outra coisa. Reviro os olhos e me resigno com meu destino. Trato de tirar o vestido "derruba ereção" e começo a me vestir.

Não foi à toa que peguei esse vestido quando Dante invadiu meu quarto. Qualquer ideia que surgiu em sua mente suja deveria desaparecer como em um passe de mágica ao me ver usando essa coisa feia.

Acho que eu estava tendo um derrame quando peguei a peça em promoção e joguei na cesta apenas para atingir o valor necessário para ganhar uma camiseta gratuita em uma loja de departamentos. Sou dessas. Não me julguem.

A babá perfeita - EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora