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DANTE

Já é noite fechada quando saio do stand de tiros, sempre acompanhado de perto por Fabian. Claro. Ele não é do tipo que larga o osso. Sabe que estou furioso e sou capaz de cometer qualquer loucura nesse estado. 

Agora, um pouco menos agitado, me pergunto por que me incomodou tanto que a babá soubesse de tudo.

Nicole não é nada em minha vida. Eu a desejo, isso é fato. Mas, é apenas isso. Talvez seja apenas a porra do orgulho ferido de novo. Homem nenhum gosta de espalhar por aí que foi traído. Que foi enganado feito um idiota. 

Não que isso tenha sido o que realmente me atormentou na época. Mesmo hoje. Acho que eu teria perdoado a traição. Em algum momento, em um futuro muito distante. Talvez. 

Foi o ódio e o desprezo que vi no olhar de Lucía. A forma como ela se referiu às filhas. Todas as tentativas de aborto. Foi o que acabou comigo e com qualquer chance de conciliação. 

Eu me lembro bem das vezes em que ela tentou abortar. A maldita se jogou do alto da escada. Tentou cair de um cavalo. Ingeriu bebida alcoólica. Uma garrafa inteira de “sangre”. Uma vez eu a encontrei sangrando no banheiro.

Não duvido que tenha feito algo. Enfiando alguma coisa no canal vaginal, na tentativa de atingir o saco gestacional no útero.

Claro que na época todos acharam que tudo foi uma série de eventos estranhos. Acidentes, apenas. Hoje sabemos que não foi isso.

Outras coisas ficaram claras. 

A demora para engravidar sem explicação médica, porque ela fez uso de anticoncepcional sem que eu soubesse. O fato de Lucía ter exigido que o  quarto das filhas ficasse em outra ala da mansão. 

Além disso, ela não tinha planos de amamentar. Sentia nojo do próprio corpo. Da ideia de ter pequenas bocas sugando seus mamilos. Deformando seus seios. 

Via sua preocupação com as mudanças em seu corpo. Eu achava que era normal. Toda mulher se preocupa com essas coisas. Não que minha libido tenha diminuído. 

Achava seu corpo lindo. Era como se houvesse uma camada de luz ao redor dela. Como se brilhasse. Hoje sei que eu imaginei tudo isso. Lucía odiava estar grávida. Odiava as filhas.

Ficou claro porque não houve mais sexo depois da gravidez. Não por estar maior, mas para não trair o amante. Não acredito que ela o amou de verdade. O miserável foi apenas mais uma vítima da mulher sem sentimentos por ninguém além de si mesma. 

Lucía me destruiu de tantas formas e em tantos pedaços. Ainda hoje não consegui me juntar por inteiro. Odiar foi tudo que me restou. O pouco de amor que ainda habita em mim é direcionado às gêmeas.

Solto um suspiro e volto tento sair da minha mente torturada. 

- Pode sair do meu pé agora, Fabian. O velho não está por aqui, de qualquer maneira. 

- O senhor quase perdeu a cabeça.

- Sei disso.

- Ela é apenas uma garota, padrinho. A babá das meninas. Nada mais. - Respiro fundo e travo o maxilar.

- Suma. Da. Minha. Frente. Fabian. - Ele bate em retirada e eu volto a andar.

Não sei qual é a de todos com essa garota. Primeiro, Rita. Depois, Carlaio. Agora, Fabian. Mas, que merda!

Ela não é nada. Certo? Então, por que paro diante da porta do quarto dela? Não sei o que estou fazendo, mas abro a porta e entro. 

Nada. 

A babá perfeita - EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora