SARAH PIMENTEL
Cheguei em casa carregando as últimas sacolas com comida e produtos que Lucas e eu compramos no supermercado. A cozinha estava silenciosa, e a luz atravessava as janelas amplas, refletindo no piso impecavelmente limpo. Suspirei, largando as sacolas sobre o balcão e começando a organizar tudo.
A geladeira ainda tinha bastante espaço, e comecei a distribuir os itens com cuidado. Primeiro os frios, depois as frutas e legumes. Enquanto tirava as coisas das sacolas, percebi que, apesar de ter comprado o básico, faltavam algumas coisas essenciais para o meu quarto. Puxei um pacote de iogurtes com um pouco mais de força do que o necessário e soltei um resmungo baixo.
— O que foi agora? — A voz de Lucas ecoou pela cozinha, me fazendo virar com as sobrancelhas erguidas.
Ele estava encostado na porta da cozinha, o moletom pendurado nos ombros e aquele sorriso que já se tornava conhecido no rosto.
— Foi você que foi, Lucas. Você encheu tanto a minha cabeça no mercado que eu esqueci de comprar algumas coisas pro meu quarto — reclamei, apontando um dedo acusador para ele enquanto voltava a organizar os potes na geladeira.
Ele deu uma risada baixa, cruzando os braços e me olhando com uma expressão descarada.
— Não sabia que o efeito que eu tenho em você era tão grande assim — disse ele, com um tom malicioso, enquanto dava alguns passos para mais perto. — Fazer você esquecer o que precisa? Isso é um talento.
Revirei os olhos, embora um sorriso teimoso já estivesse surgindo no canto da minha boca.
— Talento pra me irritar, talvez — rebati, negando com a cabeça enquanto voltava minha atenção para a sacola seguinte. — Agora sai da cozinha, vai. Eu tenho coisas pra fazer.
Ele ergueu as mãos em um gesto teatral de rendição, mas o sorriso continuava presente enquanto se afastava.
Depois de organizar tudo, subi para o meu quarto, sentindo o cansaço começar a pesar. As caixas ainda estavam espalhadas pelos cantos, e minha cama parecia a única coisa verdadeiramente no lugar. Suspirei enquanto me jogava no colchão e, antes que pudesse fechar os olhos, meu celular vibrou na mesa de cabeceira. Peguei o aparelho e vi o nome de Henrique na tela.
— Oi, Henrique — atendi, tentando soar animada, mas o tom exausto escapou sem que eu percebesse.
— Boa tarde, Sarah. Como você tá? — A voz dele era sempre gentil, com uma calma que me fazia relaxar um pouco.
— Tô bem. Só tentando me adaptar a tudo... — respondi, ajeitando-me para sentar na cama. — E convivendo com o Lucas, que, pra ser honesta, tem o dom de me enlouquecer.
Henrique riu, e o som era leve, quase reconfortante.
— Ah, o Lucas... Ele nunca leva nada a sério. Tem que ter paciência. É como lidar com uma criança grande.
— Totalmente — concordei, rindo. — Só que essa criança tem 38 anos e acha que sabe tudo.
— Ele tem o dom de achar que é irresistível também, não é? — Henrique provocou, com um tom divertido.
— Tem sim. E, pior, ele acredita nisso — respondi, balançando a cabeça mesmo sabendo que Henrique não podia ver.
— E o Rafael? Como tá a convivência com ele? — perguntou Henrique, a curiosidade evidente.
— Rafael é tranquilo. Sério, na dele. Acho que ele tá tentando ser suportável. O que é ótimo, considerando que eu preciso morar aqui por seis meses — expliquei, apoiando a cabeça na cabeceira.

VOCÊ ESTÁ LENDO
PECADO OBSCURO [TRISAL]
RomanceSarah descobre que Rosana, sua chefe e mulher que sempre a tratou como uma filha, a incluiu em seu testamento, deixando-lhe uma herança significativa. No entanto, há uma condição inusitada: ela deve passar seis meses morando com os filhos gêmeos de...