PECADO OBSCURO [TRISAL]

Capítulo 12

SARAH PIMENTEL

A luz que entrava pelas frestas da cortina parecia zombar do meu esforço em ignorar o mundo. O dia mal tinha começado, e eu já sentia minha cabeça latejar com a lembrança do beijo de Rafael. Era como um filme que passava em looping: o toque dele, a maneira como ele hesitou antes de se aproximar, e a intensidade que parecia queimar o ar entre nós. Suspirei, virando de lado na cama. Por que eu tinha que me meter nesse tipo de confusão?

Decidi levantar antes que meu cérebro me torturasse ainda mais. Depois de uma ducha rápida, vesti uma camiseta larga e shorts, sem nenhuma pretensão de parecer apresentável. O cheiro de café vinha da cozinha, então, pelo menos, alguém havia começado o dia com mais energia do que eu.

Assim que entrei na cozinha, dei de cara com Lucas, encostado na bancada, segurando uma xícara de café. Ele vestia uma calça de moletom preta e uma regata branca que mostrava os músculos dos braços. O sorriso preguiçoso que ele lançou já dizia tudo: problemas à vista.

— Bom dia, princesa. — A voz dele tinha um tom brincalhão, mas o olhar era mais atento do que eu gostaria.

— Bom dia, Lucas — murmurei, indo direto para a cafeteira, na esperança de que a cafeína fosse suficiente para lidar com ele.

— Dormiu bem? — ele perguntou, inclinando-se para me observar enquanto eu enchia minha xícara.

— Dormi. — Minha resposta foi curta, mas ele não desistiu.

— Sonhou comigo? — Ele sorriu, e eu revirei os olhos.

— Claro, Lucas. Sonhei que você finalmente aprendia a ficar quieto. — A ironia na minha voz não o abalou nem um pouco.

— Tá engraçadinha hoje, hein? — Ele se aproximou, encostando na bancada ao meu lado. — Mas tá diferente também. Meio distraída... Tá pensando em alguém?

Meu corpo travou por um segundo, mas me obriguei a continuar agindo normalmente. Ele não podia saber. Não tinha como.

— Tô pensando em como minha paciência tá diminuindo quando você tá por perto — respondi, tentando cortar o assunto.

Ele riu, claramente se divertindo.

— É sério, Sarah. Você tá estranha. — Ele inclinou a cabeça, me analisando com aquele olhar penetrante que fazia parecer que ele podia ler minha mente. — Alguma coisa rolando?

— Lucas, pelo amor de Deus. Não começa. — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, e ele ergueu as mãos em sinal de rendição.

— Tá bom, tá bom. Só tô brincando.

Mas o sorriso malicioso não desapareceu do rosto dele.

Sentei à mesa, tentando me concentrar no café, mas Lucas parecia determinado a me tirar do sério.

— Sabe, você tá com a gente há pouco tempo, mas já mexeu com muita coisa. — Ele sentou na cadeira em frente à minha, cruzando os braços. — Eu e o Rafa, por exemplo. Ele tá todo diferente desde que você passou a ser nossa companheira.

— Diferente como? — Minha voz saiu mais defensiva do que eu queria.

— Sei lá. Mais... sério. Mais distante. — Ele deu de ombros, mas o olhar dele continuava fixo em mim. — Alguma ideia do porquê?

Engoli em seco, sentindo meu coração disparar. Será que ele sabe?

— Nenhuma ideia. — Minha voz saiu firme, mas o calor subindo para meu rosto dizia o contrário.

Lucas riu, inclinando-se sobre a mesa.

— Relaxa, Sarah. Eu só tô falando besteira. — Ele piscou, mas havia algo no olhar dele que dizia que ele não estava tão relaxado assim.