E finalmente a sexta-feira chegou. Professora Pilar se encontrava exausta. Sua cabeça doía tanto que a visão chegava a embaçar. Ela não sabia se ficava aliviada por amanhã ser sábado — um dia de descanso — ou preocupada por ter uma saída com César.
Após tomar seu banho, café da manhã e pegar sua bolsa, finalmente saiu de casa e dirigiu-se ao colégio. No caminho, seus pensamentos eram todos voltados ao remédio para a dor que pediria a Dalete assim que chegasse.
Chegando à entrada do Rosa dos Ventos, Pilar suspirou e abriu a porta, preparando-se mentalmente para o dia.
Logo após abri-la, seu queixo inevitavelmente caiu em surpresa.— Gabriel? — a professora pensou em voz alta, parando alguns segundos para olhá-lo.
O professor estava sentado no sofá da recepção do colégio, com a cabeça levemente inclinada e apoiada na parte superior do móvel, dormindo como um anjo.
Um sorriso de canto quase imperceptível se formou nos lábios de Pilar, que logo depois virou-se para fechar a porta. Ela caminhou até Gabriel e tocou levemente o seu ombro.
— Gabriel... — ela sussurrou, chacoalhando o rapaz — Ei, seu dorminhoco!
Ao ouvir a voz de Pilar, o professor abriu lentamente os olhos e, ao se deparar com o cenário, tomou um susto.
— Achei que já tivesse ido embora — ele falou encarando a mulher, ainda meio atordoado.
— Do que você está falando? — ela o olhou com o cenho franzido — Eu acabei de chegar.
— Que horas são?
— Quase sete da manhã.
Ele arregalou os olhos.
— O que?! — Praticamente gritou. — Eu não acredito...
A professora estava confusa, mas não podia negar que achava a situação um tanto engraçada. Por um momento, sua dor de cabeça pareceu aliviar, e ela pareceu esquecer do mal-entendido do dia anterior.
— Além de não tomar banho para vir trabalhar, ainda dorme no expediente? Que vergonha, Gabriel... — Pilar disse, notando que o professor ainda estava com as mesmas vestimentas.
— Lascou... Lascou! Já era! A diretora Norma vai me matar! — Gabriel repetia, atordoado, enquanto pegava suas coisas do sofá e dava uma leve arrumada em seu cabelo.
— Afinal das contas, o que aconteceu, hein? — A professora cruzou os braços.
O professor parou a euforia por um momento e encarou Pilar, que o observava atentamente, esperando uma resposta plausível.
— É... eu... — ele hesitou. Como ia dizer à professora que estava evitando ela?
— Desembucha, Gabriel — Pilar disse, começando a perder a paciência. As pontadas na cabeça voltando a se fazer presentes. — Quer saber? Esquece. Eu não tenho nada a ver com sua vida mesmo.
Ao fazer menção de sair, Pilar parou por alguns segundos, sentindo Gabriel segurar seu braço. Com o coração acelerado, ela o olhou.
— Espera... — ele pediu com a voz baixa, quase em um sussurro.
E semelhante ao dia anterior, a professora nem sequer o deu a chance de se explicar. Pilar desvencilhou-se do contato e saiu quase correndo em direção à cozinha, deixando o professor parado no meio da recepção, chateado.
[...]
— Sabe, Dalete, eu acho que fiz uma besteira.
A professora conversava com a cozinheira, ambas sentadas à mesa, tomando o sagrado café da mulher mais velha. Alguns minutos já haviam passado desde o ocorrido com Gabriel.
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O boato - Shortfic Gabrilar
RomanceApós um falso boato sobre Pilar ter sido espalhado pelos funcionários da escola, a professora, desestabilizada, culpa seu colega de trabalho pelo mal-entendido.