A manhã de sábado chegou. A luz do sol iluminava levemente o rosto de Gabriel, passando pelas frestas da cortina mal fechada. Mas o homem nem sequer acordou. O cansaço do dia anterior o fez cair em um sono profundo; foi só chegar em casa e tomar um banho que o sono tomou conta de todos os seus sentidos.
Alguns minutos depois, o celular do professor tocou, indicando que alguém estava ligando. Ele ouvia, inconscientemente, como se o som estivesse bem distante, mas não se atrevia a levantar e desligá-lo ou atendê-lo.
O toque parou e voltou a soar por umas três vezes, porém, tornando-se cada vez mais alto, até que o fez acordar de uma vez.
Gabriel levantou-se, irritado. Seus cabelos levemente bagunçados e o rosto vermelho e marcado por seu braço, que apoiou sua cabeça durante grande parte da noite. O travesseiro era só um detalhe.
Ao pegar o celular, seus olhos imediatamente pousaram no horário. Quem o incomodaria em plena seis da manhã? Ele não pôde responder de imediato, pois o contato não estava salvo.
— Alô? — ele proferiu após atender a chamada, com a voz rouca.
— Bom dia, professor Gabriel, tudo bem? — Betina falava do outro lado da linha. — Desculpe por te acordar tão cedo em pleno sábado.
Gabriel demorou alguns segundos para raciocinar quem era, porém reconheceu a voz da prima de Pilar. Ele piscou algumas vezes, tentando se acostumar com o fato de que estava acordado. Seus olhos ainda pesavam.
Após compreender a situação, o professor lembrou-se de que Betina estava no hospital com Pilar e havia passado a noite com ela.
— Bom dia, Betina — respondeu com uma pitada de curiosidade em sua voz. — Como estão as coisas por aí?
— Está tudo indo bem — ela respondeu, seu tom um pouco suspeito. — Pilar está bem melhor, já até me xinga com toda vontade presente em seu corpo.
Gabriel não pôde deixar de rir. Sabia muito bem como sua colega de trabalho era.
— Agora ela está tomando um breve banho aqui no banheiro do quarto e quando voltar vai querer me matar por estar falando com você — Betina continuou — Você está muito ocupado? Tem muita coisa para fazer agora de manhã?
— Não... que eu saiba — Gabriel respondeu, confuso. — Mais tarde eu só vou preparar algumas aulas, mas de resto, estou livre. Por quê?
Betina hesitou por um momento antes de continuar a falar.
— Será que você poderia vir aqui no hospital, buscar a Pilar e levá-la para casa? — perguntou, um tom baixo e tímido em sua voz. — Eu tenho... um compromisso no Pet Shop daqui a pouco, um evento de adoção, sabe? Se eu não for, meu chefe vai me matar.
Antes que Gabriel pudesse digerir a informação ou até responder, ouviu outra voz feminina no telefone. Ela estava distante.
— Betina! Eu não acredito que você ligou para o Gabriel, sendo que já disse que posso ir para a minha casa sozinha.
O professor reconheceu Pilar brigando com a prima e não pôde conter o sorriso. Até que não seria uma má ideia buscá-la no hospital.
— Tá louca, prima? Você quase morreu ontem. Nem morta eu deixo você ir embora sem supervisão!
— Poderia ligar até para a diretora Norma vir me buscar, se quisesse, mas o Gabriel não!
— Você sabe que ele tá ouvindo, né?
Era possível ouvir Pilar bufar do outro lado da linha.
Gabriel decidiu falar também.
— Chego aí em vinte minutos, Betina — então desligou a chamada.
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O boato - Shortfic Gabrilar
RomanceApós um falso boato sobre Pilar ter sido espalhado pelos funcionários da escola, a professora, desestabilizada, culpa seu colega de trabalho pelo mal-entendido.