Após longos minutos escutando tudo de ruim que a diretoria tinha a dizer sobre ela, Pilar, ao escutar batidas, pela primeira vez a interrompeu.
— Diretora... a porta.
— Não invente desculpas para me interromper, eu não...
A fala da mais velha foi cortada ao ouvir frenéticas pancadas. A pessoa parecia estar impaciente.
— Eu estou ocupada, volte mais tarde! — Norma praticamente gritou, com raiva.
— Diretora Norma, sou eu — uma voz masculina soou do outro lado.
A diretora abriu, revelando Gabriel visivelmente nervoso.
— Está fazendo o que aqui? Eu disse que estava ocupada — disse ela, ríspida.
O professor encarou Pilar e, no momento em que seus olhos se cruzaram, percebeu o quanto ela estava sobrecarregada. Quantas idiotices aquela professora teve de escutar?
— Eu... é... — Gabriel tentava achar uma desculpa. — A professora Pilar estava demorando e a aula dela já vai começar, achei que já tivessem terminado e por isso eu...
— Substitua — Norma respondeu indiferente, ameaçando fechar a porta.
— Espera! Diretora, se me permite dizer... — ele continuou, vendo a mulher revirar os olhos. — Eu ouvi um pouquinho antes da senhora abrir a porta e... viu... foi tudo um mal-entendido, a Pilar não...
— Quem você pensa que é, professor? — Norma elevou o tom de voz novamente — Além de escutar atrás da porta, se acha no direito de defender uma professora que fica se pegando com um funcionário do Pet Shop no ambiente de trabalho?
— Eu. Não. Fiz. Isso. — Pilar disse entredentes, sentindo que sua cabeça ia explodir a qualquer momento. Suas lágrimas ameaçando descer.
A diretora se virou para encarar Pilar e estava disposta a terminar de falar tudo o que havia faltado; porém, Gabriel a puxou levemente pelo ombro, fazendo Norma encará-lo.
— Diretora, diretora... não vamos nos estressar, por favor. Eu só queria que a senhora soubesse que é tudo mentira, a professora não...
— Professor Gabriel, se você não quiser ser demitido outra vez, saia desta sala imediatamente e me deixe terminar a minha conversa com a professora.
Gabriel desviou seu olhar de Norma para encarar Pilar, que observava os dois, apreensiva. Ela esboçava uma reação de completo desespero, como se não quisesse que ele a defendesse, mas, ao mesmo tempo, implorasse para que ele a tirasse dali.
O professor olhou para a mais velha novamente e, sem saber o que fazer, ficou paralisado. Gabriel não queria ultrapassar seus limites, mas também não deixaria Pilar ali, sofrendo ainda mais.
[...]
— Dalete, você viu a professora Pilar? Essa irresponsável não deu as caras na aula! Se a diretora descobre...
— Ela está com a diretora, Elisa. — Dalete respondeu, visivelmente preocupada. Já haviam passado minutos e minutos e nada da professora voltar.
A inspetora não pôde deixar de notar o tom apreensivo de Dalete ao mencionar Pilar. Ela se aproximou da mais velha cautelosamente e, como quem não quer nada, perguntou:
— O que aconteceu com ela?
Dalete, que batia a massa do bolo de chocolate na bancada, parou sua ação. Ela retirou seu avental e limpou suas mãos no pano em seu ombro.
— Elisa — a cozinheira chamou, séria, fazendo um gesto convidativo para a inspetora sentar-se.
— Ah, não, Dalete... agora eu não posso, tenho umas coisas a fazer, sabe? E se eu não encontrar a Pilar nesse exato momento...
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O boato - Shortfic Gabrilar
RomanceApós um falso boato sobre Pilar ter sido espalhado pelos funcionários da escola, a professora, desestabilizada, culpa seu colega de trabalho pelo mal-entendido.