Enquanto Elisa conversava com Dalete na cozinha, as coisas na sala da diretora Norma pioravam. Pilar começou a sentir sua cabeça girar, girar e girar. Não sabia se sua visão estava embaçada por conta das lágrimas que insistiam em cair ou por causa da dor latejante e insuportável na cabeça. Ela conseguia ouvir vagamente a diretora gritando com Gabriel por interromper a bronca e ainda tentar defendê-la, mas não conseguia mais raciocinar direito.
Gabriel, por sua vez, tentava argumentar contra a diretora sem ultrapassar seus limites, mas, mesmo tentando, Norma estava furiosa. Parecia que ela o atacaria a qualquer momento. Ele falava sobre seu atraso de mais cedo, tentando fazer a diretora brigar com ele e não com a professora. Se sentia sem poder algum sobre a situação, mas na obrigação de fazer algo para ajudar Pilar. Mesmo sabendo que ela não acreditaria em uma sequer palavra que saísse da boca dele, queria prová-la que ele nunca seria capaz de inventar e espalhar falsos acontecimentos para prejudicá-la.
Por um momento, o professor desviou seus olhos para Pilar, percebendo algo de errado. Seu corpo estava visivelmente trêmulo e seus olhos ameaçavam fechar. Ela tinha a cabeça baixa, como se estivesse desconectada da realidade. Gabriel logo entrou em alerta.
— Diretora — ele a interrompeu, alternando seu olhar entre ela e Pilar, visivelmente preocupado.
Mas Norma sequer se importou.
— Será que você não tem um pingo de respeito? — ela falava rapidamente, cada vez mais impaciente. — O que mais tem nesse colégio é funcionário incompetente, que não entende que...
E como se não bastasse, foi interrompida novamente. Mas, dessa vez, Norma não teve tempo de ficar ainda mais irritada.
Os olhos de Gabriel se arregalaram quando o corpo de Pilar vacilou. Num salto, ele a segurou antes que caísse da cadeira, sentindo o peso frágil dela em seus braços. Sua pele estava quente como fogo, e um tremor contínuo percorria seu corpo. Ele apertou os lábios, lutando contra o pânico crescente.
— Pilar, Pilar, por favor, fala comigo. — Gabriel repetia, desesperado.
Pilar não dizia nada; parecia estar paralisada, como uma estátua. A única coisa que fazia era piscar lentamente. Pelo menos ainda estava acordada.
Gabriel a colocou sentada de volta na cadeira, ficando ao lado dela como apoio e segurando seu corpo para que não caísse novamente. Suas mãos tremiam enquanto ele a segurava firme.
— Ela está muito quente — ele proferiu, desviando seu olhar para a diretora Norma, que observava tudo em choque. Ela não mexia um músculo. — Rápido, chame uma ambulância! — praticamente gritou, desesperado, fazendo a diretora se mexer.
Norma correu até seu telefone e ligou para o hospital, pedindo que enviassem uma ambulância. Ela abaixou a cabeça e respirou fundo, as mãos tremendo levemente enquanto tentava ignorar o peso em seu peito. Não queria admitir que, talvez, tivesse exagerado um pouco. Já havia feito Pilar chorar várias vezes, mas mexer com a saúde dela parecia demais. Por um momento, ela parou e olhou para a moça. A professora estava, realmente, muito mal. Seus olhos levemente abertos, indicando que ela beirava a inconsciência, seu corpo mole e trêmulo encostado no corpo rígido de Gabriel. O homem exalava medo e preocupação.
Quando Norma desligou o telefone, Elisa apareceu à entrada da diretoria, ansiosa.
— Diretora, eu preciso falar com a senhora — a inspetora parecia não notar a situação.
— Elisa, agora não é o momento — Norma disse, aproximando-se da porta, onde Elisa estava.
— Mas diretora, é importante... — ela suplicava, olhando para a mais velha. — Se eu não disser agora, não terei coragem depois.
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O boato - Shortfic Gabrilar
RomanceApós um falso boato sobre Pilar ter sido espalhado pelos funcionários da escola, a professora, desestabilizada, culpa seu colega de trabalho pelo mal-entendido.