VISAO SOFIA
Às vezes, me pergunto se o que sentimos – ou evitamos sentir – é realmente algo que controlamos, ou se simplesmente somos arrastados por uma correnteza invisível, sem perceber até que estamos no meio dela nadando até o fim. Com a Duda, sempre foi assim. Uma maré que me puxava, sem que eu soubesse nadar para longe. Talvez, no fundo, eu nem quisesse.
O silêncio entre nós, mesmo em um lugar tão barulhento quanto o Nalorenas, era ensurdecedor. Era um silêncio cheio de coisas não ditas, de perguntas que nenhuma de nós tinha coragem de fazer. A Duda sentou ao meu lado, perto o suficiente para que nossos ombros se tocassem de leve. Aquele toque me fazia lembrar de cada momento da noite anterior, cada segundo que passamos juntas, e do que aquilo significava – ou não – E essa hipótese me matava, talvez ela tivesse estranhado a forma que eu agi, talvez agora, depois de tudo, a gente estivesse estranhas.
Sentir medo faz parte. Medo do que vem depois, medo do que isso pode significar. O desconhecido, por mais atraente que seja, sempre vem carregado de incertezas. E talvez a maior de todas fosse essa: se eu admitisse para mim mesma o que estava sentindo, e se eu a deixasse saber... o que aconteceria depois? A gente simplesmente ia começar a namorar, como o público ia lidar com isso. E com isso eu conto que é recíproco, algo que nem certeza eu tenho.
Eu não conseguia imaginar uma vida sem Duda. Ela sempre esteve lá. Primeiro, como uma amiga. Uma daquelas amigas que parecem ler sua mente com um simples olhar, que entendem seus silêncios. Mas, com o tempo, ela se tornou mais. Talvez o problema estivesse exatamente aí. Como é que algo tão essencial pode mudar sem destruir o que já existia?
Enquanto eu observava Pablo derramar tequila nos copos, como se o mundo fosse continuar o mesmo depois dessa noite, percebi que tudo estava prestes a mudar, de um jeito ou de outro. E não tinha como escapar. Porque, no fundo, eu sabia que estava chegando a hora de parar de fugir. De parar de fingir que as coisas estavam normais.
Duda me lançou um olhar rápido, e eu quase pude sentir a mesma batalha que acontecia dentro dela. Era como se ela também soubesse, mas não estivesse pronta para dizer em voz alta. Talvez nenhuma de nós estivesse. Mas também não era possível manter isso em segredo para sempre.
Peguei meu copo e tomei um gole, sentindo a queimação do álcool. O calor não era suficiente para afastar o frio que se instalava no meu peito. De repente, todas aquelas risadas ao redor pareciam irrelevantes. O que realmente importava era o que estava acontecendo dentro de mim. E dentro dela.
Por um momento, o tempo pareceu parar. Eu olhei para Duda, e ela me encarou de volta, como se, finalmente, estivéssemos prontas para lidar com o que vinha sendo ignorado por tanto tempo. A música, as luzes, a conversa dos outros – tudo isso desapareceu. Era só eu e ela, naquele instante.
– Duda, a gente precisa conversar – minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, quase como um sussurro. Mas ela ouviu.
Ela parou por um segundo, talvez tentando decidir se devia seguir por esse caminho ou não. Eu vi a hesitação em seus olhos. Vi o medo. Mas, ao mesmo tempo, vi algo mais profundo. Algo que sempre esteve ali, mas que nenhuma de nós teve coragem de reconhecer.
– Eu sei – ela respondeu, sua voz também baixa, como se falar mais alto pudesse quebrar o momento.
E, nesse pequeno intervalo, eu entendi que não havia mais volta. Estávamos no limite de algo maior, algo que estava fora do nosso controle. E, por mais assustador que fosse, a queda parecia inevitável. Mas, às vezes, o que nos dá mais medo é o que precisamos encarar de frente. Porque continuar fingindo não era mais uma opção.
Mas só por um momento. Porque, logo em seguida, a risada escandalosa de Pablo estourou do outro lado da mesa, como se a nossa bolha de silêncio tivesse sido perfurada pela alegria contagiante dele. Em qualquer outro momento, eu teria rido junto, mas agora era difícil me desvencilhar dos pensamentos que borbulhavam dentro de mim. Eu queria continuar aquela conversa com a Duda, queria saber onde estávamos indo com isso, mas o mundo ao redor insistia em nos puxar de volta.
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daylight - soarda
Romantiksofia e duda sempre foram amigas e, em tirando algumas festas, manteram essa pose para seus fãs e amigos. Até que após um episódio de mais um pograma alcoolizado, duda é forçada a dormir na casa de sofia.