VISAO SOFIA
O corredor estava mais vazio do que eu esperava, mas ainda assim, o som abafado da música me envolvia, criando um contraste gritante com o turbilhão de emoções que pulsavam dentro de mim. Saí do quarto do Gab sem olhar para trás, as palavras do Mítico ecoando na minha mente, mas sem realmente fazer sentido. Meu coração estava pesado, e cada passo parecia mais difícil do que o último.
Eu sabia que precisava voltar para a festa, que precisava fingir que nada estava acontecendo. Esse sempre foi o meu talento: colocar um sorriso no rosto e seguir em frente. Mas, dessa vez, parecia impossível. O ar estava carregado, e era como se cada canto do apartamento estivesse impregnado com a lembrança do olhar da Duda. Ela estava lá, e isso bastava para que tudo ao meu redor perdesse o foco.
"Respira, Sofia. Você consegue, vocês não sao nada mais que amigas de trabalho". Meus próprios pensamentos pareciam fracos, sem convicção. Cheguei até a sala, e a primeira coisa que vi foi o Caick com uma garrafa de vodka na mão, rindo de algo que o Pablo dizia. Eles me viram, claro, e imediatamente o Caick veio em minha direção.
– Oh bichinha, voce ta bem? – Ele perguntou, inclinando a cabeça, claramente já percebendo que algo não estava certo.
– Tô ótima vida. Só fui pegar um ar, tô meia dodoi – respondi rápido, forçando um sorriso.
Ele franziu a testa, mas não insistiu. Apenas me entregou um copo que ele tinha preparado e deu um tapinha leve no meu ombro antes de voltar para o grupo.
O líquido desceu quente pela garganta, mas, pela primeira vez naquela noite, o gosto amargo do álcool foi um alívio bem-vindo. Precisava me distrair. Precisava me manter ocupada.
O Mítico estava encostado na parede próxima à saída, os braços cruzados, olhando para mim com aquele sorriso meio sarcástico, meio compreensivo que ele sempre usava quando queria me convencer de algo.
– Bora? – Ele perguntou, erguendo uma sobrancelha. – Já deu pra você hoje, né?
Eu hesitei, olhando para o relógio no meu celular apenas por hábito. Não era tarde, mas o peso da noite fazia parecer que o tempo estava arrastado.
– Acho que vou ficar mais um pouco – respondi, forçando um sorriso que não chegou aos olhos.
O sorriso dele desapareceu por um segundo, substituído por algo que parecia compreensão. Ele balançou a cabeça, sem insistir.
– Tá. Mas não esquece que você não precisa ficar, sabe? Às vezes é melhor só você ignorar.
Ele se afastou, me dando um último olhar antes de sair pela porta. Fiquei parada ali por alguns segundos, sozinha, tentando entender por que eu não conseguia fazer o mesmo. Mas a verdade era que a festa não era o problema. Eu sabia exatamente o que estava me segurando ali.
Quando voltei para a sala, Caick já estava vindo na minha direção, a preocupação evidente no rosto dele. Ele sempre foi assim, o amigo que sente o que você está sentindo antes mesmo de você dizer.
– Tá tudo bem? – Ele perguntou, sem rodeios, segurando meu braço para que eu parasse de andar.
– Tá, claro. Por que não estaria? – tentei desviar, mas ele não comprou.
– Sofi, eu te conheço. Você tá um caco. O que tá rolando? É por causa da – Ele parou, mas não precisou terminar a frase. Eu sabia que ele estava falando da Duda.
Suspirei, largando meu peso contra a parede e encarando o teto por um momento antes de finalmente desabar.
– Eu não sei mais o que fazer, Caick. – Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava. – Parece que tudo tá errado agora. Eu tento seguir em frente, mas ela tá em todo lugar. E, ao mesmo tempo, eu sei que não adianta, ela é do meu grupo de amigos, tem o pograma. Não tem mais como dar certo.
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daylight - soarda
Romancesofia e duda sempre foram amigas e, em tirando algumas festas, manteram essa pose para seus fãs e amigos. Até que após um episódio de mais um pograma alcoolizado, duda é forçada a dormir na casa de sofia.