farces

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A brisa salgada da praia me atingiu assim que voltei. A música alta e as risadas dos meus amigos embriagados criavam uma trilha sonora caótica e, de certa forma, reconfortante. Era como se o caos ao meu redor abafasse o tumulto dentro de mim. Caminhei em direção ao grupo, sentindo o olhar de Caick cravar em mim assim que cruzei a linha da areia.

— Cadê a Duda? — ele perguntou, a voz levemente arrastada pelo álcool, mas carregada de uma firmeza que me fez parar.

Suspirei, tentando parecer despreocupada.

— Tá na casa. Acho que foi trocar de sapato ou algo assim.

Caick estreitou os olhos, examinando-me como se pudesse enxergar além da superfície.

— Você tá... diferente. O que aconteceu? Pelo amor de deus bicha.

Antes que eu pudesse responder, o brilho de reconhecimento cruzou seu rosto. Ele sabia. Não era como se eu estivesse tentando esconder, mas a percepção dele me atingiu como um soco.

— Você beijou ela, não foi? — ele acusou, o tom incrédulo. — E depois... depois você simplesmente saiu de lá e voltou pra cá?

Apertei os lábios, sustentando seu olhar.

— Sim. E daí?

— E daí? — ele praticamente gritou, atraindo olhares do grupo que, até então, estava perdido na diversão.

— Sofia, você tá jogando com ela do mesmo jeito que reclamava que ela fez com você!

— É diferente, Caick — retruquei, cruzando os braços.

— Eu sofri por semanas enquanto ela vivia a vida dela como se nada tivesse acontecido. Isso é só... justiça.

— Justiça? — Ele riu, mas era um som amargo.

— Isso não é justiça, Sofia. Isso é crueldade.

Desviei o olhar, irritada. Eu não precisava que ele me julgasse. Já tinha feito o que fiz, e não me arrependia.

— Você não entende — murmurei.

— Não, você é que não entende — ele rebateu, aproximando-se.

— Isso não vai te trazer nada além de mais dor.

Ignorei. Peguei meu celular, desesperada por uma distração, e fiz o que parecia mais lógico naquele momento: liguei para Mítico.

— Oi, Mítico, tá ocupado? — perguntei assim que ele atendeu.

— Depende. Por quê? — Ele parecia cansado, mas ainda assim acolhedor, como sempre.

— Vem pra cá, pra casa de praia. O pessoal tá aqui, mas... queria te ver.

Houve uma pausa do outro lado da linha.

— Sofia, você tá bem?

— Tô. Por que não estaria?

— Porque você tá me ligando agora, do nada, no meio de uma festa, depois de... sei lá, fazer alguma coisa idiota.

Engoli em seco. Ele me conhecia bem demais.

– Eu só... queria que você viesse.

— Isso é pra fazer ciúmes na Duda? — ele perguntou diretamente, e a franqueza me pegou de surpresa.

— Não... — menti, mas até eu podia ouvir a falta de convicção na minha voz.

— Sofia — ele suspirou — eu gosto de você, de verdade, mas não vou participar desse joguinho. Você é melhor do que isso. Ou pelo menos era.

daylight - soardaOnde histórias criam vida. Descubra agora