words

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VISAO SOFIA

A praça estava silenciosa, exceto pelo som distante de carros e pelas folhas que balançavam sob o vento leve. Duda estava sentada ao meu lado, as mãos nos joelhos, encarando o chão como se estivesse tentando decifrar um enigma.

Eu queria falar alguma coisa, mas cada palavra que ensaiava parecia errada ou insuficiente. Era sempre assim com ela: eu nunca sabia como equilibrar o que sentia e o medo de estragar tudo.

– Sabe… – Duda começou, quebrando o silêncio. A voz dela saiu baixa, quase um sussurro. – Você é a única pessoa que consegue me deixar assim.

Olhei para ela, confusa.

– Assim como?

Ela ergueu os olhos para os meus, e por um segundo, eu tive a impressão de que podia ver tudo o que ela sentia.

– Perdida, confusa. E ao mesmo tempo, com medo de tudo.

Aquilo me atingiu de um jeito que nenhuma outra conversa nossa tinha conseguido. Meu coração parecia mais pesado e mais leve ao mesmo tempo. Eu queria responder, mas ela continuou.

– Eu sempre tento fingir que não me importo. Que você é só minha amiga, que tudo isso é coisa da minha cabeça. Mas tá tudo tão rápido e profundo última.

Fiquei em silêncio, porque não sabia o que dizer. E, por um instante, vi o medo nos olhos dela, como se ela estivesse arrependida de ter falado aquilo.

– Duda– Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava. Ela balançou a cabeça e deu uma risada curta, como se estivesse se arrependendo ainda mais.

– Deixa pra lá, Sofi. Eu tô falando merda porque tô bêbada

Antes que ela pudesse levantar, segurei o braço dela.

– Não. Você não tá falando merda

Ela olhou para mim, surpresa. Eu respirei fundo, tentando reunir a coragem que sempre me faltava.

– Eu também me sinto assim. Com você. Perdida, confusa, mas eu acho que isso é o certo

Os olhos dela brilharam, e antes que qualquer uma de nós pudesse pensar mais, Duda se aproximou. Tudo parecia em câmera lenta: o jeito que ela hesitou por um segundo, como se me dando a chance de recuar, e o toque suave dos lábios dela nos meus. Foi um beijo cheio de tudo que a gente nunca disse. Do medo, da tensão, da vontade que a gente tentava ignorar. Quando nos afastamos, ficamos ali, olhando uma para a outra, como se o mundo tivesse parado.

– Então é isso. – Duda sussurrou, com um pequeno sorriso.

– É isso. – Respondi, sorrindo de volta.

E pela primeira vez em muito tempo, parecia que as coisas finalmente estavam começando a fazer sentido. Depois do beijo, o silêncio era denso, mas carregado de significados. Duda ainda estava perto, mas parecia lutar contra algo que eu não conseguia ver. Eu sabia que ela não ia ficar ali para sempre, e isso me apavorava.

– Quer ir pra minha casa? – Perguntei de repente, quebrando o silêncio.

Ela me olhou, surpresa, como se estivesse tentando entender o que eu realmente queria dizer.

– Não sei se é uma boa ideia, Sofi

– Não tô te pedindo pra gente resolver ou fazer tudo hoje. So vamos sair daqui.

Por um segundo, achei que ela fosse recusar. Mas então Duda respirou fundo e deu um pequeno aceno.

– Tá, pode ser

No táxi, o silêncio voltou, mas era diferente. Duda estava olhando pela janela, as luzes da cidade refletindo no rosto dela. Eu queria segurar a mão dela de novo, mas não sabia se ela deixaria. Então, só fiquei ali, encarando o vazio, tentando ignorar o coração disparado.

daylight - soardaOnde histórias criam vida. Descubra agora