O Casamento do Vampiro - Conto

Carta

Cara Daiana Reis,

Quem vos fala é teu admirador de muitas datas, que desde todas elas, a têm como protagonista de seus pensamentos, e como alvo dos maiores anseios da alma.

Pedi para teu crioulo entregar-te esta carta, e espero que o tenha feito antes da sexta-feira, como o pedi com insistência.

Sabes de todo o meu apreço por ti. Mas não estava em meu poder visitá-la nas últimas semanas. Contudo, que seja de teu conhecimento que tuas doces palavras ecoam em minha mente desde nosso belo e rebelde passeio pelos jardins da bela propriedade de teus pais.

Minhas obrigações como estudante da arte medicinal me compungiram a uma viagem para a Europa, onde estarei hospedado na casa de antigos amigos por cerca de dois anos, estudando com ele e outros doutores, em uma vida nômade, mas ainda conhecendo os belos países que tanto sonhei visitar. Como deve saber, amada Daiana, os caminhos que enfrentarei serão demasiadamente perigosos devido aos conflitos que têm havido por aquelas terras.

Na sexta-feira, queira Deus, estarei deixando a nossa amada terra e partindo em direção à minha empreitada medicinal. Meus anseios, tu conheces melhor do que eu. Tantas vezes alertou-me sobre meu impulso incontrolável de apoio aos necessitados, que de vez aceitei meu destino. Com o Dr. Bauman, talvez o único nos dias de hoje que compartilha dos meus anseios de ajudar os destituídos de boa saúde, busco seguir esse caminho, para o qual nasci.

Mas devo admitir que meu maior alvo é a senhorita, cara Daiana. És aquela que circunda meus maiores desejos e intenções como um médico e protetor da vida. Vejo como esta doença lhe dói o coração, como tornou-a solitária, e como lhe tirou todas as suas amigas quando a obrigou a manter-se trancafiada às quatro paredes.

Todos os dias me cresce a vontade de ajudá-la, mas nunca pude fazer nada além de insistir em visitas e caminhadas contigo pelos jardins que já lhe são cansativos. Mas infelizmente, até isso não pude fazer se não por poucas vezes, pois como sabes, a opinião do teu pai sobre mim é severamente injusta.

Em mim surge a esperança de finalmente ajudá-la. Vejo-a como uma luz no fim de um túnel profundo e sombrio. Tudo o que está para trás, já o conhecemos. Porém, anseio trilhar novos caminhos, realizar finalmente meus sonhos de infância, conhecendo os cantos que apenas vi por pinturas. Mas acima de meu sonho realizar o teu, de caminhar sob o sol, sem que isto lhe seja um mal à saúde.

Anseio que minhas palavras, que entrego em escrito, possam lhe ser agradáveis e consoladoras, e lhe tirem toda a solidão e melancolia que este quarto escuro ao qual estais presa lhe inflige maldosamente. Espero também que do que digo, se agradem seus belos olhos, que acenderam em mim o amor que a cada dia mais e mais cresce, quando lhe vejo uma outra vez.

Como disse, o caminho não será fácil. Mas estou disposto a dar minha própria vida por ti, para que um sorriso vívido se desenhe em teu rosto, e uma alegria, que sempre me esforço por lhe trazer, mas que sempre lhe escapa, descanse em teu coração, e não o deixe jamais. Para isso, peço-te que aceites o meu pedido, que tantos meses esteve guardado em meu coração, mas que agora se escreve em pena molhada.

Case-se comigo, querida Daiana, e esteja ao meu lado durante todas as estações. No verão de nossos dias, na querida e memorável primavera, nas lágrimas do outono, e por fim, nos grisalhos do inverno. Desejo, mesmo no fim de meus dias, ter o calor de teu abraço, para que quando em meu peito fincar-se o amargo punhal da morte, ele torne-se doce, como um belo sonho.

Se for de tua vontade casar-se comigo, sabes onde me encontrar. Sabes com quem falar. Sabes também e acima de tudo, que teremos pouquíssimo tempo. Que fujamos juntos e deixemos para trás aquilo que nos prende, que nos impede de sermos felizes. Sei que é uma dura decisão, mas apenas assim, poderemos estar finalmente juntos e construirmos nossa própria história.

Espero o quanto antes revê-la, mas antes de tudo, tua resposta. Embora acima de qualquer resposta tua, eu a ame eternamente.

Ass. Augusto.