O homem abriu a porta, mas Victor não conseguiu vê-lo por causa da tremenda escuridão, embora este segurasse um candeeiro com uma chama bruxuleante. Nada além das linhas mais grossas de seu rosto podiam ser vistas, mas era perceptível que deveria ter uma pele rugosa e sobrancelhas grossas.
Victor entrou, mas ainda sentia receio em relação àquele homem. Este era um ser um tanto misterioso.
A casa era muito escura, e o rapaz quase não podia enxergar dentro dela. Foi conduzido até uma poltrona na sala, recebeu uma cuia com espigas de milho mas não teve nem o pão nem o chá que pediu. Durante toda a noite o homem não falou com ele muitas vezes.
Victor estava inquieto. Deitado num tapete velho e empoeirado olhava para o teto escuro e vazio. Primeiro pensou sobre como tudo havia acontecido de uma maneira tão absurda e inesperada. Depois lembrou-se que no dia que sucederia se tornaria um assassino. Torceu para que o homem que seria responsável por tirar a vida, fosse uma daquelas pessoas más e que não merecem viver. E foi pensando nisso que adormeceu.
Ao amanhecer, quando os passarinhos ainda não voam, e quando o céu ainda relutava em tons de roxo e azul-rosado, Victor ouviu a voz que continuava a arrepiá-lo.
— Acorde! — disse o homem.
Acordou assustado. A casa estava um pouco mais iluminada, pois uma luz fraca adentrava a cabana por uma pequena janela, revelando as poltronas castanhas e velhas, a mesa meio lascada, e alguns outros móveis velhos e encardidos.
Mas e o homem? Havia mostrado sua misteriosa face?
— Isto é... Uma máscara? — perguntou Victor, levantando-se.
O homem cobria sua face com uma máscara de palha que o fazia parecer um espantalho.
— Não gostaria de me ver sem ela. — murmurou.
Ele era alto, largo, corcundo, e cobria-se com roupas largas e xadrezes. As poucas partes de sua pele que podia ver, como o pulso e parte do pescoço, era cinza e varizenta, e mais parecia um mapa de nascentes. Mas Victor notou, acima de qualquer coisa, como ele era a maior pessoa que já vira. Suas mãos podiam cobrir sua cabeça, seus braços eram longos como as pernas, e de baixo daquela máscara de espantalho, seus cabelos negros e cebosos se derramavam em suas costas, longos como o céu em noites sem luar.
Victor fez seu café da manhã numa cuia de espigas de milho, e novamente o homem não o acompanhou na refeição. Enquanto comia assustou-se quando o viu caminhando em sua direção com uma faca. Paralisado pensou em mil coisas a fazer, mil maneiras de fugir. Mas nenhuma delas executou, apenas ficou paralisado enquanto ele cortou um pedaço pequeno da manga de sua roupa.
Levou o pedaço da roupa e ajoelhou-se no meio da sala. Afastou o tapete encardido, revelando uma portinhola que, Victor imaginou, devia ser do porão. O homem bateu com a dobra dos dedos, produzindo um eco subterrâneo. Ao ouvir os latidos reconheceu os rosnados que ouviu na noite anterior.
Quantos cachorros? Parecem monstros ferozes!
Aberta por uma fresta, ele jogou o pedaço cortado da camisa de Victor. Houve uma chuvarada de latidos raivosos entre os cachorros, como se brigassem por um osso. Abriu-a em fresta uma outra vez e espiou. Não se ouviu nenhum latido, e conclusivo ele a escancarou e dela subiram três cachorros que pulavam à seus braços. Eram grandes, fortes, e peludos. Juntos podiam facilmente matar um homem.
— Vai levar seus cachorros? — perguntou-o Victor.
A palavra "cachorros" o irritou.
— Melhor com eles — disse colérico. — do que sem.
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O Casamento do Vampiro - Conto
Short StorySeu pai deseja que ele se case e tenha uma vida feliz. No entanto, o jovem Victor se vê enfrentando obstáculos muito maiores do que jamais imaginou para atender a essa expectativa. Mistérios e perigos o cercam, e ele busca entender como tudo se inte...