II

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Após uma pilha de tapeações, duas grandes portas abriram para o salão de refeições. Sob um grande e bonito lustre, ficava uma longa mesa que era acompanhada de três cadeiras bem acolchoadas vermelho-vinho. Os dois assentaram, o Sr. Reis sem perder a postura reta e recair seu nariz empinado, e após um tempo de espera para a chegada da senhorita, eles notaram seu atraso.

Sr. Reis tirou o relógio do bolso e olhou-o um tanto aflito. Algumas gotas de suor já começavam a escorrer no alto de sua testa calva.

— Está tudo bem, meu senhor? — perguntou o jovem.

— Claro... Ela já está... Ela logo estará conosco. — respondeu nervosamente.

Victor não levou a mal. Pôs o paninho na gola da camisa e posicionou seus talheres.

Um grupo de garçons entrou pela porta dianteira, trazendo consigo um carrinho com o jantar. Enquanto eles colocavam tudo à mesa, o Sr. Reis tinha dedos inquietos. Mantinha seu olhar preso em um grande janelão que estava à sua direita, de onde se podia ver os jardins que ficavam ao redor da casa.

— Perdoe-me, Sr. Victor, não irei demorar. — disse quando levantou-se educadamente. — Vou verificar se houve algum ocorrido.

Precipitou-se apressado em direção ao portal lateral.

Foi então, após a saída do Sr. Reis, após ficar sozinho na sala de jantar, que notou os detalhes: o lustre tinha algumas teias de aranha, a maçaneta da porta não reluzia, e embora o chão estivesse perfeitamente limpo e a mesa impecável, os detalhes sempre revelam a verdade. O jardim, que observou com atenção quando era guiado até os portais de entrada, não estava ressequido, nem mesmo mal cortado, mas não tinha o fino cuidado nobre, tal qual os jardins dos Roice, Silva e, muito menos, da propriedade de seus pais, os Beek.

Estão falidos. Mas escondem bem. Agora entendo porque desejam uma aliança com os Beek.

Seus olhos vaguearam enquanto havia uma tempestade de pensamentos em sua cabeça. Depois de algum tempo, a porta à sua direita, pela qual o anfitrião havia deixado a sala, abriu-se novamente. O Sr. Reis entrou, agora com o suor enxugado, e guardando o paninho dentro do bolso do paletó.

— Mil perdões! Insisto, caro Victor. Tivemos um pequeno contratempo, mas agora creio que a minha querida filha poderá nos acompanhar neste belo jantar. Mandei que a chamassem...— disse sentando-se de volta à mesa. — Mulheres... Você sabe. Sempre se atrasando.

Victor assentiu com a cabeça. Eles aguardaram. As comidas à mesa cheiravam bem, mas uma cadeira ainda estava vazia, e assim permaneceu por alguns minutos. E então mais alguns outros. Outros que logo se multiplicaram. Nada era mais tentador para Victor naquele momento, como a vontade de ser rude. Seria para ele muito mais agradável levantar-se vociferando reclamações contra a falta de respeito que era um atraso como aquele, mas uma atitude assim só iria trazer problemas para seu pai, e ele não queria isso.

O Sr. Reis recomeçou a suar e puxou novamente o relógio do bolso.

— Pode ir, sei que quer verificar o que houve... — disse Victor, com uma educação monumental.

— Meu caro Victor, eu imploro seu...

— Não se preocupe... Sei que acidentes podem acontecer, não ficarei ofendido...

— Eu lhe agradeço infinitamente. Dessa vez não irei demorar. Novamente, meus mil perdões.

O homem saiu, o tempo passou, e mais e mais Victor desejava não estar ali. Em minutos ouviu passos, correndo. Depois, vozes. "Por onde?" "Por aqui, é o único lugar" "Mas esse é o salão de..."

A uma das portas laterais abriram-se, revelando dois homens e uma dama conhecida. Um deles estava mais à frente, e seu cenho estava contorcido perante a visão de Victor. O outro estava mais recuado, igualmente paralisado. Porém a jovem Daiana tinha lágrimas nos olhos, estava pálida e tinha olheiras no rosto. O sequestro estava pintado.

Por um momento, eles se entreolharam em um silêncio reinante. Até que, ao ouvirem sons de pessoas pelos corredores,se moveram. O que estava à frente foi até Victor, enquanto os outros dois se esgueiraram por trás. "Nem pense em falar sobre o que viu", foi o que ele disse, com muita seriedade, e pondo o dedo em seu nariz. "Ou..." levantou o terno, mostrando na cintura uma arma em um coldre. "Não preciso nem dizer."

Os três escaparam pelo portal de entrada e se foram. Victor ficou paralisado. Tudo aquilo fora um tanto... repentino e surpreendente. 

O Casamento do Vampiro - ContoWhere stories live. Discover now