— Perdoe-me os imprevistos, cara Daiana. Agora poderemos prosseguir com a cerimônia. — disse-lhe consternado.
Daiana olhou-o lamentosa.
— Meu Augusto. Veja que situação horrível essa que nos atormentou. Será nosso tão aguardado casamento manchado pelo sangue destas pessoas que aqui padeceram tragicamente? Devemos prosseguir com a cerimônia em outro momento. Sei como é importante para você que o façamos o quanto antes... Mas veja a situação. Poderemos também ter mais tempo para pensar.
O semblante de Augusto tornou-se inquieto.
— Não podemos fazer isso. Não deixemos que...
— Augusto. Por favor. Eu preciso de um tempo.
Augusto deu um passo em direção a jovem.
— Tempo? Para quê? Por acaso tens alguma dúvida, a esta altura, de que caminho desejas seguir?!
— Não Augusto. Eu apenas preciso...
— De quê?!
— Pensar.
Augusto agora estava irado. Seus olhos brilharam novamente.
— Não Daiana. Você não terá seu pedido realizado.
Os olhos de Daiana tornaram-se distantes, hipnotizados. E logo os de Victor foram vítimas do mesmo mal. Augusto o obrigou a conduzir a cerimônia.
Victor lia, contra sua própria vontade, um grande livro de páginas velhas que se colocava em cima do púlpito. Era um antigo manual de uma cerimônia de casamento. Enquanto o fazia, os ecos da voz de Augusto ainda circundavam sua mente, obrigando-o violentamente a continuar seu trabalho.
Daiana não tinha um destino diferente. Por dentro chorava, gritava de agonia. Mas por fora seus olhos eram como os de um morto, e suas palavras como tal. E enquanto toda a cerimônia prosseguia, Augusto permanecia olhando para o relógio, cada vez mais nervoso, cada vez mais nervoso.
— Podemos pular para o final. — disse-lhe Augusto. A voz novamente tomou conta da mente do jovem, como se o enforcasse violentamente, obrigando-o a seguir suas palavras. Era torturante, traumatizante.
Victor começou a conduzir a parte final da cerimônia.
— Chegamos ao instante culminante desta cerimônia, onde somos agraciados em testemunhar a união sagrada de Augusto Martinal e Daiana Reis em matrimônio.
Sua voz saía sem que ele pudesse refreá-la. Como se ele fosse um mero expectador de si mesmo.
— Que todos vós, aqui presentes, sejais inspirados pela beleza e pelo significado deste ato solene. — prosseguiu. — Augusto, aceita tu, Daiana, como tua legítima esposa, prometendo amá-la, respeitá-la e protegê-la por todos os dias de vossa vida?
Augusto que fitava o relógio de pêndulo no fundo do salão, respondeu-lhe depressa.
— Sim.
Victor prosseguiu.
— Daiana, aceita tu, Augusto, como teu legítimo esposo, prometendo amá-lo, respeitá-lo e apoiá-lo por todos os dias de vossa vida?
Seu olhar era distante, e aquela voz, mórbida e infeliz que soou, não era a voz verdadeira daquela bela jovem. Era para Victor uma tortura prosseguir com aquela cerimônia, e assim ser o condutor do que seria talvez o dia mais infeliz da vida da inocente Daiana. Ele lutava, gritava, enlouquecia dentro de si, mas nada tinha efeito contra os ecos sonoros da voz de Augusto que ainda permeavam seus ouvidos.
Então, o infeliz jovem prosseguiu com a cerimônia. Agora com Augusto mais inquieto que nunca, ainda observando o relógio.
— Que a dedicação, a fé e o amor, que hoje jurais um ao outro, cresçam e se fortaleçam com o passar dos anos. Que a vida de casados vos traga alegria, que enfrenteis os desafios com coragem e sabedoria, e que celebreis as vitórias com humildade e gratidão. Que este novo capítulo seja repleto de bênçãos. Em nome de todos os aqui presentes, desejamos a vós, Augusto Martinal e Daiana Reis, uma vida matrimonial plena de amor, respeito e compreensão mútua. Que os laços que hoje se formam sejam eternamente fortes, e que a jornada que iniciáis juntos seja próspera e feliz.
Augusto suava tremendamente.
— Vamos logo com isso! — disse.
— Que a paz, o amor e a bênção divina sempre estejam sobre vós, e que vivais eternamente em amor e harmonia. Com estas palavras, vos declaro oficialmente marido e...
— Desgraçado! — interrompeu-o uma voz estranha.
Os ecos que ensurdeciam os ouvidos de Victor repentinamente sumiram, e ele sentiu que finalmente estava em controle de seu próprio corpo. Porém agora sentia-se tremendamente fraco e exausto pela batalha que enfrentou dentro de si, mesmo que sem vitória. Por um momento cambaleou, e apenas conseguiu permanecer em pé quando segurou-se no púlpito. Já Daiana, caiu ao chão, inconsciente.
Quando deu conta havia cinco homens em frente ao portal escancarado. Um deles estava mais a frente, e este apontava-lhe uma arma à cabeça.
— Como ousa seu branquelo miserável?! — Vociferou o Sr. Reis. Estava rubro de ódio e falava aos suspiros. — Disse que nunca iria te dar a permissão para casar com a minha filha! Estou realmente surpreendido com sua ousadia... Roubá-la, em minha propriedade, debaixo de meu nariz! — Augusto observava-o surpreendido. — Encontrei sua carta suja! Acha que me engana com aqueles rodeios? Seu salafrário!
Foi então que notou.
— Victor? — olhou-o confuso. E logo, colérico. — Estava trabalhando junto a esse maldito?! Estava prestes a confiar a mão dela a você!
Os homens que estavam com o Sr. Reis olhavam-no com o mesmo desprezo.
— Não senhor... eu...
— Vou matar o maldito Augusto primeiro, e logo depois será você! — disse interrompendo-o, antes que o jovem pudesse lhe dar qualquer explicação.
O pêndulo bateu, e seu som invadiu todo o salão, ecoando alto pelas paredes. Augusto caiu de joelhos, vomitando sangue. Todos os homens olharam-no confusos. Ele estava morrendo? Era o que parecia. Sua pele tornou-se pouco a pouco violeta, até assumir um tom quase corvinal, e algumas coisas estranhas, peludas, começaram a surgir de suas costas, rasgando todo o seu terno cor de vinho.
Augusto transformou-se totalmente. Chifres emergiram de suas têmpora, asas grandes e peludas se abriram, garras cresceram em suas mãos e seus pés, e suas presas se alongaram inacreditavelmente. Era um monstro, e não mais o elegante Augusto.
Houveram gritos, tiros, e tudo ao som de trovões no céu. Era uma inteira chacina. A fera voava pelo salão com uma velocidade absurda, e matava-os um a um.
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O Casamento do Vampiro - Conto
Short StorySeu pai deseja que ele se case e tenha uma vida feliz. No entanto, o jovem Victor se vê enfrentando obstáculos muito maiores do que jamais imaginou para atender a essa expectativa. Mistérios e perigos o cercam, e ele busca entender como tudo se inte...