Lucien e Andras tentaram inventar uma desculpa idiota pra nos dopar assim que aceitei ir com eles a Primaveril, como se devesse ser um segredo a passagem na Muralha; sugestão essa que me manifestei totalmente contra. Enquanto discutiam, fiz um sinal para dispensar Jake, que se retirou em silêncio; tal ficara para proteger Feyre.
─ Não me façam perder mais do meu tempo ─ me aproximei de Nihil, lhe oferecendo meu braço para a guiar pelo trajeto que faríamos ─, peguem as coisas de Nihil ali ─ apontei pra sala de onde ela tinha saído ─ e vamos logo.
Trocaram olhares e o mascarado que foi, aparecendo com duas malas de tecidos. Pelo pedaço fino de uma blusa pra fora do zíper meio aberto, ele havia mexido nas coisas dela, mas nada mencionei.
Dessa forma, seguimos andando. Até a floresta, no frio, a noite.
Eles não usariam nenhum meio mágico? Algo mais rápido?
Lucien na frente, resmungando por estar sendo feito de burro de carga. Nihil e eu entre ele e Andras.
Não vamos fugir, bocós.
─ Vai demorar, vei? Tô com frio da porra ─ Nihil se agarrou mais no meu braço e ri abafado.
─ Estamos quase na Muralha ─ pontuei.
─ Estamos demorando por tua causa, coisinha.
Ela sequer o respondeu quando este nos olhou por cima do ombro. Nihil respirando profundamente, querendo buscar calor em mim.
O vento sobrando, arrepiando nossas peles e as deixando vermelhas ao cair flocos de neve, que cessavam lentamente ao estarmos próximos a separação da fronteira, entretanto, sem parar totalmente.
Andras passou por nós, estendeu a mão, aberta diante o ar e tocou alguma coisa invisível: a Muralha. Mesmo que eu olhasse ao redor, não havia nada que indicasse que havia alguma parede ali ou que aquele fosse um lugar especial onde qualquer um facilmente acharia a passagem.
─ Passem ─ o lobinho ordenou e meu lado birrenta quis contrariar.
Fiz beiço e me acerquei, toquei onde deveria estar a abertura, não senti nada, logo ajudei Nihil a cruzar o buraco e fui atrás, sendo seguida pelos feéricos. Lucien jogou as malas primeiro, uma delas caiu no pé do amigo que xingou bem alto assim que ele atravessou.
─ Que escândalo, Andras.
─ Meu pé, animal!
Lucien revirou os olhos, recolhendo as malas.
─ Foi sem querer!
Desviei meu olhar dos imbecis gostosos, reparando ao redor. Embora as amplas e altíssimas árvores pinhais quase que me impedissem de ver o céu, pude notar os filetes de luz lunar que teimavam em iluminar o bosque extremamente verde; totalmente diferente a paisagem branca e fria das terras mortais.
Nihil se desgrudou um pouco - sem se soltar do meu braço -, ainda tremendo levemente, segurando a bengala sem que o objeto tocasse na grama vivida.
─ A neve parou?
─ Sim.
─ Aqui nunca neva ─ Andras contou, tocando o meio da minha costa, me dizendo através do toque rápido que deveríamos retornar a caminhada já que Lucien havia se adiantado e sumido entre as árvores sem eu ter visto.
Nihil sorriu de lado, inspirando o ar profundamente como se houvese uma diferença apenas por cruzar a Muralha. A imitei e, de fato, o daqui parecia mais... leve.
Andras não teve iniciativa para falar nada durante o percurso até a mansão, mas Nihil perguntou a cada cinco minutos se demoraria, obrigando-o a lhe responder com "em breve", "quase lá".
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Clare Beddor - ACOTAR
FantasyReencarnei como Clare Beddor. Dentre tantos personagens fodas pra virar, me transformei logo numa humana meia boca que vai morrer no primeiro livro no lugar da protagonista. Seja lá que divindade decidiu fazer chacota da minha cara, eu que n...