Nunca gostei de ser acordada por conversas paralelas ou fora da hora, quando eu poderia muito bem ficar dormindo por mais tempo. As vozes alheias, vindas fora do meu quarto, me expulsaram do mundo dos sonhos.
Reconheci a de Diana, pelo tom alto e áspero, devia estar irritada. A segunda voz sendo masculina, mais suave, mas pelo diálogo também soava irritado.
Me levantei a contragosto, notando estar sozinha e segui o som, que me levou ao final do corredor, onde pude ver a dupla no centro da sala de estar. Diana de costas pra mim, com uma mão na cintura e um braço apontado na cara do sujeito a sua frente.
O homem branco do tamanho dela, de cabelos, olhos e barba amarelada, a roupa toda suja de barro. Ele parecia familiar, mas, ao mesmo tempo, diferente.
— Ela não precisa disso, meu amor.
— Precisamos de dinheiro!
— Não, não há necessidade — massageou a testa, negando —. Já disse que temos grana o bastante por no mínimo cinquenta anos!
— 'Tá e depois, Lenos?!
Esse é o pai de Clare?
— Diana — cruzou os braços, mantendo o semblante neutro —, é o mínimo que devemos a ela... A poupar de trabalho insignificante.
O julguei totalmente. Pelas fotos espalhadas pela casa, Lenos aparentava ser um cara magricelo e mais baixo que Diana enquanto que esse homem possuía o tamanho dela, com músculos demais, quase como um rato de academia.
Fiz barulho com a garganta, lhes obrigando a me notarem e me acerquei, ficando na lateral direita da minha mãe. Lenos colocou um sorriso bem largo na face e abriu os braços, querendo me abraçar e assim o fez, só que eu não consegui retribuir.
— Lenos?
— O que? Por que não está me chamando de pai?
— Não a cobre... Ela não o ver a meses... — Diana comentou baixo, o encarando séria.
Só fazia umas semanas que estava aqui, de acordo com a contagem que eu fazia.
— É porque não gosto de acordá-la...
Cruzei os braços, o olhando de cima a baixo.
— Por que está aqui nesse horário?
Diana havia me contato que o marido voltava pra casa durante a noite ou quando eu estava trabalhando, em dias aleatórios e por isso, nos desencontramos com frequência.
— Prometi que iriamos caçar — explicou, rindo extravagante como papai noel —, pensei bem e ir a noite seria desvantajoso, além de perigoso.
Semicerrei os olhos, descrente. Me virei pra Diana.
— E onde 'tá a Feyre?
— Estudando no escritório.
Controlei a vontade de ir ela e me juntar a sua aula.
— Sua pupila pareceu animadissíma para ir caçar! Ho-ho.
— Não iremos caçar — empinei o nariz, fixando as íris nas dele —, nem agora nem a noite nem nunca.
— Mas... Tirei o dia de folga pra isso.
— Que pena — dei de ombros, não me afetando por sua expressão de cachorro que caiu da mudança —, eu não pedi que fizesse isso.
— Clare... — Diana tocou meu braço, seus olhos tremendo e cintilando um pouco ao franzir o cenho — Sei que está chateada pela ausência, mas o seu pai quer passar um tempo com vocês. Com você.
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Clare Beddor - ACOTAR
FantasyReencarnei como Clare Beddor. Dentre tantos personagens fodas pra virar, me transformei logo numa humana meia boca que vai morrer no primeiro livro no lugar da protagonista. Seja lá que divindade decidiu fazer chacota da minha cara, eu que n...