"C'est 'l'amour de ma vie"

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Naquela madrugada, o chalé estava silencioso, apenas o crepitar suave da lareira preenchia o ambiente, lançando sombras dançantes pelas paredes de madeira. SN estava confortável no sofá, envolta por uma manta macia, com os pés esticados e um copo de vinho na mão. Na sua frente, Billie estava sentada no chão, os joelhos dobrados, brincando com os dedos em um tapete peludo que forrava o espaço perto da lareira.

O ambiente tinha aquela calmaria reconfortante, o tipo de silêncio que fazia as palavras parecerem ainda mais significativas. Billie, de vez em quando, lançava um olhar para SN, que sorria sem pressa, aproveitando o momento. No canto, uma garrafa de vinho semiacabada refletia as luzes da lareira, criando uma atmosfera íntima.

"Sabia que... a forma como você se perde em pensamentos me deixa curiosa," Billie disse de repente, sua voz suave, quase como se estivesse sussurrando um segredo.

SN ergueu uma sobrancelha, um sorriso de canto de boca. "Curiosa sobre o quê?"

"Sobre o que você pensa quando está assim, quieta." Billie se inclinou um pouco mais perto do fogo, sua expressão serena, mas com algo mais profundo brilhando em seus olhos.

SN deu de ombros, tomando mais um gole de vinho. "Agora? Estou pensando que esse vinho é bom, que essa lareira é melhor ainda, e que..." Ela fez uma pausa, o sorriso se ampliando. "Que você é linda."

Billie riu, abaixando os olhos. "Talvez... eu tenha algo a dizer também." Ela olhou para o vinho, então de volta para SN, e começou a falar em um tom que parecia casual, mas as palavras tinham um ritmo diferente, quase melódico.

"Love when it comes without a warning (Amor quando chega sem avisar)... 'cause waiting for it gets so boring (porque esperar por isso fica tão chato)," ela disse, sua voz quase brincando com as palavras.

SN inclinou a cabeça, franzindo a testa por um segundo. "Isso soou... diferente. Como uma música."

Billie mordeu o lábio, um sorriso tímido se formando. "É porque é uma música," ela confessou, olhando para o fogo. "E... bom, eu queria te mostrar. Acho que... essa aqui é pra você."

SN ficou surpresa, sentindo uma onda de calor que não vinha da lareira. "Pra mim?"

"Sim. Eu escrevi pensando em nós... em momentos como esse," Billie continuou, sua voz agora mais suave, quase como se estivesse mergulhando em seus próprios sentimentos. "Eu pensei em você quando escrevi, e essa música se encaixa em tudo que sinto..."

SN se ajeitou no sofá, claramente interessada. "Você vai cantar pra mim, então?"

Billie sorriu, um tanto envergonhada, mas se recompôs. "Acho que sim." Ela respirou fundo e começou a cantar com a voz baixa, quase como se fosse um segredo compartilhado só entre elas duas, enquanto o fogo dançava à sua frente.

"I'm not sentimental, but there's something 'bout the way you look tonight (Não sou sentimental, mas há algo na sua aparência esta noite)... makes me wanna take a picture, make a movie with you that we'd have to hide (me faz querer tirar uma foto, fazer um filme com você que teríamos que esconder)..."

SN observava Billie atentamente, sentindo cada palavra atravessar a sala e chegar a ela com uma intensidade que a surpreendia. Havia algo mágico naquela noite, na forma como Billie cantava, tão natural, mas ao mesmo tempo íntima, como se estivesse entregando uma parte de si.

Quando Billie terminou, seus olhos encontraram os de SN, um brilho de expectativa e carinho estampado em seu rosto. SN, que estava visivelmente tocada, apenas sorriu, ainda processando o que tinha acabado de acontecer.

"Essa foi... linda," SN finalmente disse, com um tom suave, quase como se estivesse com medo de quebrar o momento. "Você realmente escreveu pra mim?"

Billie assentiu, se levantando lentamente do chão. "Escrevi, sim. Você me inspira, sabia?"

Sem dizer mais nada, Billie se aproximou e se deitou ao lado de SN no sofá, seus corpos se moldando ao conforto do outro. SN passou um braço ao redor dela, puxando-a para mais perto, enquanto Billie descansava a cabeça no peito de SN.

"Eu diria que essa foi a melhor serenata que já ouvi," SN brincou, acariciando os cabelos de Billie.

Billie riu baixinho, fechando os olhos, relaxando completamente nos braços de SN. "Que bom que você gostou... mas tenho certeza que ainda podemos criar muitos outros momentos como esse."

E assim, elas ficaram ali, deitadas juntas, o crepitar da lareira e o calor compartilhado preenchendo o espaço. O momento era perfeito, a sensação de tranquilidade pairava no ar. SN, sentindo a respiração tranquila de Billie em seus braços, sussurrou algo em francês, uma frase doce que escapou dos seus lábios quase sem perceber.

Billie levantou a cabeça, curiosa e encantada. "Você fala francês? Que lindo! Eu acho tão sexy," ela disse com um sorriso brincalhão. "Me ensina a dizer algumas coisas?"

SN sorriu, meio desconcertada, mas concordou. "Claro, posso te ensinar algumas palavras."

Billie, com aquele brilho travesso no olhar, começou a pedir palavras curtas e despretensiosas, como "bonjour" e "merci", repetindo tudo com entusiasmo, como se fosse uma brincadeira. As duas riam entre as tentativas de Billie de acertar a pronúncia.

Depois de um tempo, Billie fez uma pausa e, com a voz suave e mais séria, perguntou: "Como se diz 'amor da minha vida' em francês?"

SN, sem perceber a pegadinha, respondeu calmamente: "C'est 'l'amour de ma vie'."

Um segundo de silêncio passou antes de Billie soltar uma risada alta. "Você também é o amor da minha vida!" Ela gargalhou, apontando para SN. "Como você é romântica!"

SN ficou instantaneamente vermelha, percebendo que tinha caído na armadilha de Billie. "Ah, não acredito!" ela exclamou, rindo de si mesma e cobrindo o rosto de vergonha. "Você me enganou!"

Billie continuava rindo enquanto SN a batia de leve no braço. "Desculpa, foi irresistível!" disse Billie, entre risos.

As duas caíram na gargalhada juntas, o som de suas risadas ecoando pela sala. SN ainda escondia o rosto, claramente envergonhada, mas o momento era leve e carinhoso, do tipo que faz tudo parecer mais fácil, mesmo nos momentos de brincadeira.

Depois daquele momento de riso e descontração, SN e Billie adormeceram no sofá, com o corpo de uma encaixado no da outra. A lareira, que antes aquecia o ambiente, agora estava apagada, e o frio suave da madrugada começou a se infiltrar. SN acordou primeiro, resmungando baixinho.

"Tá tão aconchegante aqui, mas a lareira apagou... Vou ter que ir lá fora buscar mais lenha," disse SN, olhando o relógio, que marcava 2:30 da manhã. Billie, meio sonolenta, espreguiçou-se e respondeu.

"Eu vou junto. Não vou te deixar ir sozinha nesse frio," disse Billie, levantando com um sorriso sonolento, ainda se ajeitando.

As duas saíram da casa, o ar frio da montanha imediatamente batendo em seus rostos. SN guiava Billie até o barracão ao lado, onde a lenha cortada estava armazenada. Tudo parecia tranquilo até que, de repente, Billie congelou no meio do caminho.

Com os olhos arregalados, ela soltou um grito estridente. "Meu Deus! O que é isso?!"

SN se assustou também, quase derrubando a lenha que já segurava. "O quê?! O que foi?!"

Billie apontou para o topo de uma árvore próxima, onde uma grande coruja as observava silenciosamente, com os olhos brilhando no escuro. "Aquilo... Quase morri do coração!"

SN começou a rir, vendo Billie tão arrepiada e fora de si. "É só uma coruja, Billie! Pelo amor de Deus!" Ela ria tanto que até começou a bater de leve em Billie, ainda rindo da situação.

Billie, visivelmente assustada, cruzou os braços, arrepiada até os ossos. "Eu não gosto de coisas que aparecem do nada no escuro! Vamos logo entrar antes que mais algum bicho resolva aparecer!"

Com isso, as duas correram de volta para o chalé, rindo e falando sobre o susto da noite. Assim que voltaram para o calor da casa, SN acendeu a lareira novamente, e elas se aconchegaram no sofá, a sensação de segurança voltando aos poucos.

"Eu nunca vou superar isso," disse Billie, ainda recuperando o fôlego.

SN apenas sorriu, ainda rindo baixinho. "Você é uma figura. Agora vem cá." Billie se aproximou beijando a bochecha de SN enquanto se aconchegava de novo pra dormir.

Eilish e SnWhere stories live. Discover now