O encerramento da luta entre Clarisse e Luara acontece de forma inesperada. Ambas estão tão focadas em superar uma à outra que acabam ignorando os outros obstáculos do percurso. O último obstáculo era um desfiladeiro estreito com cordas para se balançar até o outro lado, mas a competição entre as duas se torna tão acirrada que, no meio da travessia, elas acabam se desequilibrando e caem na água gelada abaixo, juntas.
Ao invés de se importarem em ganhar, elas caem em uma briga na água, socos e empurrões, com os corpos encharcados e a raiva fervendo. A cena é cômica para quem assiste, mas, para as duas, a frustração é real. O embate físico é mais uma descarga de toda a tensão acumulada, mas nenhum golpe é realmente decisivo. No fim, Quíron e outros campistas têm que intervir para separar as duas antes que acabem se machucando de verdade.
Ao serem puxadas da água, ambas estão exaustas, ensopadas e furiosas. Clarisse cospe água e terra, enquanto Luara tenta recuperar o fôlego, o corpo ainda tremendo de adrenalina. Quíron, com um olhar severo, faz as duas prometerem que resolverão suas diferenças de forma mais "produtiva" dali para frente — o que provoca bufos e olhares cortantes entre as duas.
Apesar do fim caótico e sem um verdadeiro vencedor, a luta entre elas parece apenas aumentar a rivalidade. Mas algo mudou. No fundo, ambas sabem que a batalha não é só uma questão de força ou estratégia. Há algo mais profundo surgindo ali, e, embora ainda não saibam como lidar com isso, ambas sentem que esse confronto está longe de acabar.
E, no fundo, nenhuma das duas realmente quer que acabe.
...
A humilhação de ser arrancada da água por um grupo de campistas ainda queimava na mente de Clarisse. Quíron tinha sido firme, mas controlado ao dizer que "brigas sem sentido" não seriam mais toleradas no Acampamento Meio-Sangue, especialmente entre duas campistas que deveriam estar se unindo para lutar contra inimigos maiores. Mas Clarisse não conseguia nem olhar para Luara sem sentir o sangue subir.
"Aquela desgraçada..." Clarisse murmurou, enquanto enxugava o cabelo com força, sentada no armário das filhas de Ares.
Ela mal tinha terminado de sair da água quando ouviu risinhos mal contidos das filhas de Afrodite do outro lado do campo. Silena Beauregard, em particular, estava perto de Luara, rindo de algo que a filha de Afrodite havia dito enquanto ambas se secavam. Óbvio, pensou Clarisse, cerrando os punhos. A princesa conseguiu ganhar o dia de novo.
"Você tá bem?" Chris perguntou, espiando pela porta com a mesma cautela de quem se aproxima de um leão ferido.
"É claro que não tô bem, porra!" Clarisse rugiu, jogando a toalha no chão. "Eu devia ter acabado com aquela garota, mas o que eu faço? Caio como uma idiota na porra da água! E agora todo mundo acha que eu sou uma piada."
Chris, sempre prudente, não tentou argumentar. Sabia que Clarisse, quando estava com raiva, era como um vulcão prestes a explodir. Só que, dessa vez, ele também percebia algo diferente. Não era só a frustração de ter perdido ou empatado. Tinha algo mais ali, algo que Clarisse não queria admitir, nem para ela mesma.
"Olha," ele começou, escolhendo as palavras com cuidado. "Você ainda é a melhor guerreira daqui. Mas talvez, sei lá... tentar controlar essa raiva te ajude."
Clarisse o encarou como se ele tivesse acabado de sugerir algo estúpido. "Controlar a raiva? Sério, Chris? Eu sou filha de Ares. Raiva é a única coisa que me faz ficar melhor. Se eu 'controlar' isso, é como se eu deixasse de ser quem sou."
Chris deu de ombros, claramente sem querer prolongar o assunto. "Só tô dizendo que talvez essa briga com a Luara não seja só... sobre ela."
Clarisse bufou, se levantando de repente e indo em direção à porta. "Vai se foder, Rodriguez. Não tô com cabeça pra essas suas 'filosofias' de hoje."
Do outro lado do acampamento, Luara estava relaxada, mas com a mente a mil. Ela e Silena tinham voltado ao dormitório das filhas de Afrodite, e enquanto as outras garotas comentavam sobre a última batalha de capture a bandeira, Luara não conseguia parar de pensar em Clarisse.
"Eu tô te dizendo, Silena," ela falou, se jogando na cama. "Essa garota me odeia tanto que não sei como ela ainda não explodiu em pedaços."
Silena, que estava passando creme nas mãos com sua calma habitual, deu um sorriso divertido. "Clarisse odeia muitas coisas, Luara. Odeia perder, odeia não estar no controle. Mas o que mais incomoda ela é quando alguém a desafia de verdade, e você fez exatamente isso."
"Mas eu nem tô tentando provocá-la!" Luara exclamou, esfregando o rosto em frustração. "Quer dizer, ela age como se eu tivesse cometido um crime só por existir."
"Ah, querida..." Silena disse, rindo baixinho. "Você acha que isso é só sobre competição? Por favor. Clarisse te odeia porque, no fundo, ela sabe que você a faz se sentir... diferente."
"Diferente? Como assim?"
Silena parou de passar o creme e a olhou de soslaio. "Vocês duas são opostas em tudo. Ela é pura força e brutalidade, e você é agilidade e charme. Mas quando se enfrentam, é como se algo mais estivesse acontecendo, como se essa raiva toda fosse... outra coisa."
Luara franziu o cenho. "Tipo o quê?"
"Tipo atração, talvez?"
A reação de Luara foi automática. "Você tá maluca, Silena."
Silena apenas deu um sorriso enigmático. "Tô maluca, é? Então por que você não consegue parar de falar dela?"
Luara abriu a boca para retrucar, mas nenhuma resposta convincente saiu. Ela odiava admitir, mas havia algo em Clarisse que a fazia sentir... viva. Cada confronto era como se uma faísca fosse acesa. Mas isso não significava que ela gostava dela, né? Gostar da filha de Ares era o equivalente a se jogar num poço de cobras. Perigoso e sem sentido.
"Clarisse LaRue e eu? Nem ferrando," ela murmurou, mais para si mesma.
Silena só deu de ombros. "O tempo dirá, querida."
No dia seguinte, o Acampamento estava agitado com a preparação para uma nova missão. Alguns campistas mais velhos estavam sendo escolhidos para sair em busca de uma relíquia roubada de um dos deuses menores, e os rumores já circulavam sobre quem seriam os escolhidos. Clarisse, sempre focada em missões, estava preparada. Ela sabia que seria convocada — afinal, ela era a melhor guerreira do acampamento, não importava quantos obstáculos idiotas ela tivesse caído.
Luara, por outro lado, estava mais concentrada em tentar evitar Clarisse o máximo possível. Ela sabia que, depois da cena no percurso de obstáculos, as coisas tinham chegado a um ponto crítico entre elas. Mas, claro, o destino tinha outros planos.
Enquanto Quíron anunciava os nomes dos campistas escolhidos, o mundo de Luara praticamente parou quando ele mencionou o nome dela. Merda. Ela mal tinha tido tempo de se adaptar completamente ao acampamento, e agora estava sendo enviada para uma missão? E, pior ainda, quando Quíron disse o nome de Clarisse como a outra líder da equipe, Luara sentiu o estômago despencar.
Clarisse olhou diretamente para Luara com um sorriso predatório. Era óbvio que a missão seria um verdadeiro teste para ambas. Elas teriam que lutar juntas, confiar uma na outra... ou, pelo menos, tentar não se matar.
"Isso vai ser interessante," Clarisse murmurou, baixinho, quando passaram uma pela outra no campo de treinamento, o sorriso arrogante ainda no rosto.
"Se você não estragar tudo," Luara respondeu, com a voz carregada de sarcasmo.
Clarisse apenas estreitou os olhos. "Vamos ver quem estraga o quê, princesa."
Assim, com a tensão entre elas crescendo mais a cada dia, Luara e Clarisse se viam presas em uma missão onde o verdadeiro desafio não seria apenas derrotar monstros ou recuperar uma relíquia perdida. O verdadeiro teste seria sobreviver uma à outra — sem acabar se destruindo no processo.
Continua...
_____________________________________
Gente, to amando isso aqui senhor
YOU ARE READING
Entre Lanças e Encantos- Clarisse LaRue
FanfictionDois anos antes da chegada de Percy Jackson ao Acampamento Meio-Sangue, a filha de Ares, Clarisse LaRue, vivia como a guerreira imbatível e destemida que todos respeitavam - ou temiam. Mas a rotina de combates e vitórias de Clarisse é abalada com a...