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A caverna diante delas era sombria e úmida, o ar carregado com o cheiro de terra e pedra antiga. Clarisse e Luara lideravam o grupo, ambas em silêncio. A tensão ainda estava presente, mas, desta vez, não era só raiva. Era algo mais — algo que ambas sentiam e que se recusavam a admitir.

O som dos passos ecoava nas paredes da caverna, e Clarisse, como sempre, estava alerta, sua lança pronta em mãos. Luara a seguia de perto, a espada relaxada, mas com os olhos sempre atentos. Mesmo no silêncio, as provocações entre elas continuavam, só que agora, disfarçadas de algo diferente.

"Você sempre caminha assim? Tão... tensa?" Luara perguntou, sua voz cortando o silêncio como uma lâmina afiada. Ela não pôde evitar sorrir enquanto observava Clarisse ficar mais rígida à sua frente.

"Eu caminho assim porque estou preparada pra qualquer merda que aparecer," Clarisse retrucou, sem olhar para trás. "Se você relaxar demais, Marinho, não vai sobrar muito de você quando os monstros chegarem."

Luara sorriu ainda mais, inclinando-se levemente para perto de Clarisse enquanto andavam. "Tensa ou não, você fica fofa desse jeito. Acho que gosto mais quando você tá irritada."

Clarisse tropeçou ligeiramente, sua lança escorregando por um segundo, mas ela recuperou o equilíbrio rapidamente, virando-se para encarar Luara com os olhos estreitos. "Você acha isso engraçado? Eu não sou como um dos seus brinquedos, Marinho. E não tô aqui pra ser elogiada."

"Relaxa, LaRue," Luara disse, a voz agora suave, quase divertida. "Você tem meu respeito. Mas eu ainda prefiro quando você tenta esconder que se importa."

Clarisse grunhiu em resposta, virando-se de volta para a caverna, sem conseguir entender por que as palavras de Luara a afetavam tanto. Seu coração estava batendo mais rápido, mas ela se forçou a ignorar isso. Luara era irritante. Era uma distração. E ela não podia se dar ao luxo de se distrair agora.

Mas, apesar de suas tentativas de afastar os pensamentos sobre a filha de Afrodite, eles voltaram à superfície, como sempre faziam.

Flashback

Dois anos antes, Luara estava sentada na beira do lago, o sol se pondo ao longe. Luke Castellan se aproximou silenciosamente, com aquele sorriso charmoso que ela conhecia bem. Ele se sentou ao lado dela, sem dizer nada por um momento.

"Eu tô partindo amanhã," ele finalmente disse, sua voz carregada de algo que Luara não conseguia identificar. Era tristeza? Culpa?

Ela não olhou para ele imediatamente. Ela sabia o que ele ia dizer, mas parte de si queria fingir que não. Queria fingir que tudo estava bem entre eles. Que ele ainda era o Luke que conheceu quando chegou ao acampamento.

"Onde você vai?" ela perguntou, a voz baixa, tentando soar casual, mas falhando miseravelmente.

Luke suspirou. "Eu não posso dizer. Só que... eu preciso fazer isso. Tem algo grande acontecendo, Luara. Algo que pode mudar tudo. E eu... eu não posso mais ficar aqui."

Luara finalmente se virou para ele, seus olhos encontrando os de Luke. "Você tá me deixando pra trás. É isso?"

Luke hesitou, seus olhos se enchendo de arrependimento. "Eu não quero deixar você. Mas... o que eu tô fazendo é maior que qualquer coisa que eu poderia te dar aqui."

Ela sabia que ele estava envolvido em algo perigoso, algo que ele não estava compartilhando com ela. Mas Luara também sabia que, no fundo, Luke não era o mesmo desde que voltou de uma de suas missões com Quíron. Ele estava mais sombrio, mais distante. E isso a devastava.

"Então é isso," Luara disse, a voz trêmula. "Você vai e nem me dá uma razão."

Luke segurou o rosto dela nas mãos, seus olhos cheios de uma dor genuína. "Eu queria te proteger disso. Proteger você de mim."

"Eu não preciso de proteção, Luke," Luara respondeu, sua voz cheia de raiva contida. "Eu só precisava que você estivesse aqui. Mas você escolheu outra coisa."

Ele não disse mais nada. E aquele foi o último momento que tiveram juntos antes de ele partir — e, no fundo, Luara soube que o Luke que ela conhecia estava perdido para sempre.

O som de Clarisse bufando a trouxe de volta para o presente. A caverna havia se alargado, revelando um salão aberto, iluminado por uma luz fraca vinda de uma abertura no teto. Havia inscrições antigas nas paredes, símbolos que Clarisse olhava com desconfiança.

"Você vai ficar aí parada, sonhando acordada, ou vai ajudar a procurar a relíquia?" Clarisse perguntou, impaciente.

Luara piscou, sacudindo os pensamentos de Luke da mente. Ela sorriu para Clarisse, embora o aperto no peito ainda estivesse presente. "Tô aqui, LaRue. Relaxa. Eu sempre tô onde importa."

Clarisse revirou os olhos, mas, no fundo, aquelas palavras tiveram um efeito sobre ela. Havia algo nos flertes de Luara que a deixava desconcertada. Talvez fosse porque, no meio de tanta rivalidade, Luara parecia ver algo em Clarisse que ninguém mais via. Algo que nem Clarisse queria admitir que existia.

"Vamos logo com isso," Clarisse murmurou, começando a vasculhar o salão.

Luara se aproximou, seus passos silenciosos. Ela não podia evitar olhar para Clarisse de novo, observando os movimentos precisos, a concentração nos olhos dela. E, por um segundo, Luara se pegou pensando que talvez estivesse começando a gostar dessa teimosia de Clarisse.

Mas, antes que qualquer uma delas pudesse dizer mais alguma coisa, um som baixo, quase um sussurro, ecoou pela caverna. Algo estava se movendo nas sombras.

Clarisse imediatamente levantou a lança, os olhos fixos no ponto onde o som se originou. "Prepare-se."

Luara ergueu sua espada, seu corpo relaxado, mas seus sentidos alertas. "Acha que são mais empousas?"

"Se for, espero que tenham vindo em maior número dessa vez," Clarisse respondeu, com um sorriso feroz. "Eu tô precisando de uma boa luta."

Luara sorriu de lado. "Talvez eu te dê uma depois."

Clarisse parou por um momento, processando as palavras, antes de bufar e seguir em frente. "Me poupe."

Elas não sabiam o que as esperava na escuridão, mas uma coisa era certa: tanto Clarisse quanto Luara estavam prestes a enfrentar mais do que monstros. O que quer que surgisse dali em diante, o verdadeiro desafio seria entre elas.

Entre Lanças e Encantos- Clarisse LaRueWhere stories live. Discover now