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A noite estava escura e silenciosa quando Clarisse e Luara chegaram de volta ao Acampamento Meio-Sangue. As chamas da fogueira principal iluminavam o acampamento com um brilho suave, e o cansaço das batalhas começava a pesar sobre elas.

Quíron as esperava na entrada. Sua expressão de preocupação se suavizou ao ver as duas voltando inteiras, e ele as recebeu com um breve aceno de cabeça.

"Bom trabalho, meninas," ele disse, observando a relíquia nas mãos de Clarisse. "Essa era uma missão difícil, e o acampamento precisava de vocês para concluí-la com sucesso."

Clarisse assentiu, o orgulho estampado em seu rosto. Ela entregou a relíquia a Quíron, mas seus olhos estavam em Luara, quase como se esperasse algum comentário sarcástico vindo dela. E Luara, claro, não decepcionou.

"Olha só, LaRue," Luara comentou casualmente. "Você até parece uma heroína com esse brilho todo de bravura. Quase posso me sentir intimidada."

Clarisse revirou os olhos, segurando o riso. "Claro, Marinho. Intimidade é o que você chama de ciúme agora?"

Luara sorriu, e por um segundo, aquele sorriso parecia real demais, como se houvesse mais sinceridade do que ela pretendia deixar transparecer. "Ciúme? De você? Só na sua cabeça, LaRue."

Quíron observou a troca, um leve sorriso em seus lábios, mas não disse nada. Ele as dispensou para que pudessem descansar, e as duas caminharam em silêncio para os respectivos chalés. A noite parecia mais calma do que o normal, e mesmo com o peso das lutas, nenhum delas parecia pronta para encerrar o dia.

Horas depois

Clarisse estava deitada na cama, sem conseguir dormir. Seus pensamentos estavam uma bagunça, misturados entre a lembrança da luta contra o drakon, o rosto irritantemente confiante de Luara e... aquele estranho olhar que trocara com ela.

Finalmente, sem aguentar a inquietação, ela se levantou e foi até o pátio central do acampamento, onde o brilho suave da lua refletia na grama. Ela esperava encontrar um pouco de paz ali, mas ao se aproximar, percebeu que não estava sozinha.

Luara estava sentada em um dos bancos, olhando para o céu. Ao ver Clarisse se aproximando, ela deu um sorriso cansado.

"Não consegue dormir, LaRue?" Luara perguntou, a voz baixa.

Clarisse suspirou, cruzando os braços. "A batalha me deixou com muita adrenalina. E você?"

"Memórias," Luara respondeu vagamente, mas o suficiente para Clarisse entender o que ela queria dizer. Era óbvio que os pensamentos de Luara estavam em algum ponto entre o passado e o presente, talvez até nos momentos em que ela e Luke estiveram juntos. Clarisse não conseguia entender por que aquilo a incomodava tanto, mas havia algo ali que ela queria — não, precisava — desvendar.

"Sobre Luke, é isso?" Clarisse perguntou, em um tom mais direto do que pretendia.

Luara a olhou, um pouco surpresa. Ela pareceu considerar se responderia ou não, mas, no fim, decidiu ser sincera. "Talvez. A verdade é que ele foi importante pra mim, Clarisse. E, às vezes, é difícil ver como as coisas mudaram. Mas é passado."

A resposta foi honesta, e isso pegou Clarisse de surpresa. Ela ficou em silêncio, sentando-se ao lado de Luara. As duas ficaram ali, lado a lado, observando a lua em um raro momento de paz.

Luara suspirou, e então riu baixinho. "Você é mais suportável quando não tá tentando arrancar minha cabeça."

Clarisse deu uma risada curta, lançando um olhar de lado. "Você que gosta de provocar. Eu só reajo."

"Reage, né?" Luara arqueou uma sobrancelha, um sorriso brincalhão nos lábios. "Então você admite que eu consigo tirar uma reação sua?"

Clarisse bufou, mas não conseguiu evitar um pequeno sorriso. "Apenas uma reação de querer te dar um soco."

"Ah, claro," Luara murmurou, sua voz suave e provocante. "Mas se é só isso, então por que não tirou os olhos de mim hoje à noite?"

Clarisse abriu a boca para responder, mas nada saiu. Aquela provocação a pegou de surpresa, e a forma como Luara a olhava — meio desafiadora, meio divertida — fez seu coração disparar de uma maneira que ela não entendia.

"Talvez eu só quisesse garantir que você não fizesse nenhuma besteira," Clarisse finalmente conseguiu responder, em um tom defensivo.

"Ou talvez você só goste da minha companhia," Luara retrucou, inclinando-se um pouco mais, o rosto próximo do de Clarisse.

Clarisse sentiu o rosto esquentar, mas não recuou. Em vez disso, manteve os olhos firmes nos de Luara, uma tensão invisível pairando entre elas. Ela estava prestes a responder, mas qualquer coisa que planejava dizer sumiu de sua mente.

O som de passos os interrompeu, e ambas se afastaram ligeiramente, virando-se para ver quem se aproximava. Era Silena, a filha de Afrodite, que olhava para elas com uma expressão curiosa e divertida.

"Vocês duas estão... se divertindo?" Silena perguntou, com um sorriso malicioso.

"Estávamos só conversando," Clarisse respondeu rapidamente, tentando parecer despreocupada.

"Sei," Silena disse, claramente não acreditando. "Bom, não vou interromper vocês. Mas tentem não quebrar nada, tá?"

Clarisse revirou os olhos, mas Silena já estava indo embora, ainda sorrindo. Quando se virou de volta para Luara, a expressão divertida da filha de Afrodite estava de volta, e, de repente, Clarisse percebeu o quanto gostava daquela expressão.

"Vai ficar me encarando, LaRue?" Luara provocou, piscando.

Clarisse bufou, levantando-se rapidamente para disfarçar o desconforto que sentia. "Você realmente acha que é o centro do universo, não é?"

Luara se levantou também, caminhando ao lado de Clarisse de volta para o chalé. "Talvez eu só goste de como você reage. É bom ver que, mesmo com toda essa pose durona, você ainda tem um coração ali."

Clarisse não respondeu, mas uma coisa era certa: Luara estava conseguindo encontrar uma brecha em suas defesas. E, embora parte de si resistisse a isso, outra parte se perguntava o que aconteceria se ela simplesmente deixasse que Luara entrasse um pouco mais.

Entre Lanças e Encantos- Clarisse LaRueWhere stories live. Discover now