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O sol estava apenas nascendo quando Clarisse se preparava para sair para a missão. Sua armadura brilhava, recém-polida, e ela segurava a lança com a mesma firmeza de sempre. Mas, dessa vez, havia uma faísca diferente em seus olhos, algo que queimava com mais intensidade do que o normal.

Luara.

Ela bufou, enquanto testava o peso da lança na mão, golpeando o ar como se pudesse afastar a irritação constante que sentia sempre que pensava na filha de Afrodite. Quíron tinha dito que a missão seria complicada, um resgate de uma relíquia antiga em uma região remota e cheia de monstros. Era o tipo de tarefa que Clarisse adorava. Mas agora, tinha que dividir o comando com Luara. A ideia era tão irritante que fazia seus dentes rangerem.

"Você vai precisar dela, sabe," disse Chris Rodriguez, encostado na porta do chalé de Ares, observando Clarisse com cautela.

"Que merda você tá falando?" Clarisse respondeu, com os olhos afiados, sem parar de girar a lança.

Chris deu de ombros, tentando não provocar a ira da amiga. "Luara. Você sabe que, por mais que ela te tire do sério, ela é boa no que faz. Talvez... vocês possam fazer isso funcionar."

"Fazer funcionar?" Clarisse parou, a voz escorrendo sarcasmo. "Eu detesto aquela garota. Ela acha que é melhor que todo mundo, só porque tem aquele maldito sorrisinho e o jeito 'perfeito' de filha de Afrodite. Só serve pra atrapalhar. Eu vou fazer essa missão funcionar, com ou sem ela."

Chris soltou um suspiro. Ele sabia que não ia adiantar continuar, então apenas balançou a cabeça. "Certo. Só tenta não matar ela antes de matar os monstros, tá?"

Clarisse respondeu com um grunhido, mas, no fundo, ela sabia que precisaria se controlar. Ela odiava admitir, mas Luara era boa, rápida e estrategista — qualidades que, apesar de irritarem Clarisse, ela também respeitava em um oponente.

Luara, por outro lado, estava tendo uma manhã muito diferente. No chalé de Afrodite, ela se preparava com calma, ajustando sua armadura leve e verificando a espada, enquanto Silena a observava com aquele olhar enigmático.

"Você parece nervosa," Silena comentou, cruzando os braços enquanto se encostava em uma parede.

"Eu não tô nervosa," Luara respondeu, amarrando o cabelo em um rabo de cavalo firme. "Eu tô... focada."

"Focada em não brigar com a Clarisse, você quer dizer?" Silena soltou uma risada suave. "Vai ser difícil quando ela faz questão de provocar, não acha?"

Luara revirou os olhos. "Ela me tira do sério de um jeito que nem Luke conseguia."

"Talvez seja por isso que você ainda pensa tanto nela," Silena sugeriu, com aquele sorriso que deixava claro que estava se divertindo com a situação.

"Eu não penso nela. Pelo menos, não da forma que você tá insinuando," Luara respondeu, cortante, embora soubesse que estava mentindo para si mesma. A presença de Clarisse tinha um efeito sobre ela que não conseguia explicar. Era como se o simples fato de a filha de Ares existir no mesmo espaço a obrigasse a estar sempre alerta, sempre pronta para um confronto — físico ou emocional.

"Claro, claro," Silena murmurou. "Mas vai por mim, Luara. Quando vocês estiverem lá fora, no meio do caos, talvez percebam que têm mais em comum do que imaginam."

Luara apenas bufou, pegando sua espada e seguindo para o ponto de encontro. A última coisa que ela queria era admitir que talvez Silena estivesse certa.

A equipe designada para a missão se reuniu na clareira principal do Acampamento. Clarisse já estava lá, com os braços cruzados, esperando impaciente. Quando Luara chegou, acompanhada por alguns outros campistas, Clarisse lançou a ela um olhar que poderia derreter pedra.

"Finalmente, né?" Clarisse murmurou, mal escondendo o sarcasmo. "A missão era pra sair de manhã, não quando as princesas resolvem aparecer."

Luara arqueou uma sobrancelha, mas manteve a calma. "Eu tava me certificando de que estava preparada. Diferente de algumas pessoas, eu não conto só com a força bruta."

Clarisse apertou o maxilar. "Ah, é? Vamos ver o que sua preparação faz quando tiver um monstro tentando arrancar sua cabeça."

"Vai me salvar tanto quanto sua burrice te salvou de cair na água, LaRue."

As palavras de Luara caíram como veneno, e os campistas ao redor deles começaram a sussurrar, já prevendo que a briga estava prestes a começar. Mas antes que Clarisse pudesse responder com um grito furioso ou, pior, partir para a agressão física, Quíron interveio.

"Vocês duas," ele disse com um tom severo, "precisam aprender a trabalhar juntas. Não tem espaço para rivalidades mesquinhas nesta missão. O sucesso de vocês, e a segurança de todos aqui, depende de cooperação. Estamos entendidos?"

Ambas olharam para Quíron e, contra sua vontade, assentiram.

"Ótimo," ele continuou. "Agora, sigam em frente. E lembrem-se: essa não é uma competição."

Clarisse bufou, se virando para pegar sua mochila. "Parece uma maldita competição pra mim."

Luara pegou sua espada e lançou um último olhar de desafio para Clarisse. "Você só pensa assim porque sabe que perderia."

O caminho até o destino da missão era longo, passando por florestas densas e terrenos acidentados. O grupo, composto por seis campistas ao todo, caminhava em silêncio tenso. Clarisse estava à frente, liderando, enquanto Luara ficava logo atrás, seus olhos atentos ao redor, buscando qualquer sinal de perigo. A rivalidade entre elas era palpável, e todos os outros sentiam isso, mas ninguém ousava comentar.

Depois de horas de caminhada, o grupo fez uma breve pausa para descansar. Clarisse estava afiando sua lança quando sentiu a presença de Luara se aproximando.

"Você vai ficar com essa cara emburrada o caminho todo, ou vamos, pelo menos, tentar trabalhar juntas?" Luara perguntou, a voz com um tom mais sério dessa vez.

Clarisse olhou para ela, ainda irritada, mas hesitou antes de responder. "Eu não preciso de você. Se dependesse de mim, eu já teria feito isso sozinha."

"Bom, não depende de você, LaRue. Então, que tal você parar com essa merda de querer provar que é melhor e, quem sabe, aceitar que podemos fazer isso juntas? Eu não tô afim de morrer por causa do seu orgulho."

Clarisse apertou a lança nas mãos, seus olhos faiscando. "Eu não tenho orgulho. Só sei o que sou capaz de fazer."

"Eu também sei do que sou capaz," Luara respondeu, firme. "E você não é a única aqui que sabe lutar."

Elas se encararam por um longo momento, nenhuma das duas disposta a recuar. A tensão entre elas era quase tangível, um misto de raiva, frustração e... algo mais, algo que ambas estavam evitando reconhecer.

"Se você conseguir não me atrapalhar, talvez a gente consiga fazer isso," Clarisse finalmente disse, virando as costas e se afastando.

"É tudo que eu peço," Luara murmurou, ainda com os olhos fixos nas costas de Clarisse, enquanto a observava se afastar.

Entre Lanças e Encantos- Clarisse LaRueWhere stories live. Discover now