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A escuridão se movia, sussurrando como se a própria caverna estivesse viva. Clarisse e Luara permaneceram lado a lado, os músculos tensos, cada uma segurando sua arma com firmeza. O som de algo pesado arranhando o chão se intensificou, e então, de repente, uma enorme criatura emergiu das sombras.

Um drakon — seus olhos amarelados brilhavam no escuro, e suas escamas pareciam refletir a pouca luz que passava pela abertura no teto. A criatura, que parecia uma serpente gigante com patas curtas e garras afiadas, soltou um rugido que ecoou por toda a caverna, fazendo até mesmo as pedras tremerem.

Clarisse sorriu com a adrenalina correndo por suas veias. "Perfeito," murmurou. "Eu precisava de um desafio de verdade."

Luara olhou de canto para ela, levantando uma sobrancelha. "Você tem um conceito meio distorcido de diversão, LaRue."

Clarisse apenas riu, sem tirar os olhos do monstro. "Se isso te assusta, Marinho, você pode sair correndo. Eu cuido disso."

"Claro que sim," Luara respondeu, o sarcasmo presente em cada palavra. "Mas eu prefiro não deixar você roubar toda a glória."

O drakon avançou de repente, rápido e letal, suas garras gigantes varrendo o chão enquanto investia contra as duas semideusas. Clarisse foi a primeira a se mover, sua lança cortando o ar enquanto ela se jogava para o lado, desviando do golpe do monstro e atacando de volta. A ponta da lança atingiu o flanco do drakon, mas as escamas eram grossas demais para serem perfuradas.

"Droga," Clarisse resmungou, se preparando para outro ataque. Ela não se daria por vencida tão cedo.

Luara, por sua vez, já estava em ação. Enquanto Clarisse distraía o monstro, ela se posicionou ao lado da criatura, desferindo golpes rápidos com a espada. Apesar de seus movimentos precisos, o drakon era forte e suas escamas praticamente impenetráveis. Ainda assim, Luara sorria, o perigo a alimentando com uma energia que só aumentava seu foco.

"Se essa coisa é tão resistente quanto parece," Luara gritou, enquanto se esquivava de um golpe das garras da criatura, "talvez precisemos de algo um pouco mais... criativo."

Clarisse parou por um segundo, os olhos fixos no monstro que rugia de dor e raiva. "Você tem alguma ideia ou vai ficar só jogando palavras bonitas?"

Luara deu um sorriso ladino, saltando para o lado e se esquivando de mais um golpe. "Bonita é a palavra chave. Confie em mim por um segundo."

Clarisse franziu o cenho, mas, por algum motivo, ela seguiu o conselho. Talvez fosse o jeito com que Luara falava, ou talvez fosse a confiança cega que a filha de Afrodite exalava. Clarisse não sabia ao certo, mas recuou ligeiramente, mantendo a lança preparada.

"Ei, seu grandão," Luara gritou para o drakon, chamando a atenção da criatura para si. Ela se moveu graciosamente, seus passos leves, mas firmes, enquanto os olhos do monstro se fixavam nela.

"Vai flertar com ele agora, Marinho?" Clarisse murmurou, irritada, mas sem deixar de observar.

Luara apenas riu, levantando a espada com uma mão, e, com a outra, tocando um colar simples que usava no pescoço. Aquele não era um colar comum — ele tinha sido encantado por sua mãe, Afrodite, para que Luara pudesse canalizar parte de seu charme inato. Uma habilidade que, em situações como essa, poderia ser tão perigosa quanto qualquer arma.

O drakon parou por um momento, seus olhos fixos em Luara, hipnotizado. A luz da caverna pareceu brilhar um pouco mais forte ao redor dela, como se ela estivesse cercada por uma aura radiante. Clarisse observou, perplexa, enquanto o monstro diminuía o ritmo, seus movimentos ficando mais lentos e hesitantes.

"Agora, Clarisse!" Luara gritou, quebrando o transe por um segundo.

Clarisse não precisou de mais incentivo. Aproveitando o momento de distração do drakon, ela correu em direção à criatura, sua lança brilhando enquanto saltava com força e perfurava um ponto entre as escamas, bem debaixo da mandíbula do monstro. O drakon gritou, um som agudo e horrendo, enquanto sua cabeça batia com força no chão, espalhando poeira e pedras por toda a caverna.

Por alguns instantes, o silêncio reinou. Clarisse, ainda segurando a lança cravada no monstro, respirava pesadamente, sua testa brilhando de suor. Ela puxou a arma de volta, observando o drakon desaparecer em pó dourado.

"Isso foi impressionante," Luara comentou, a voz carregada de uma leve provocação, enquanto se aproximava de Clarisse.

Clarisse girou para ela, tentando disfarçar o orgulho que sentia pela vitória. "Você distraiu, eu finalizei. Time perfeito."

"Então somos uma boa equipe afinal, huh?" Luara sorriu de lado, se aproximando um pouco mais, seus olhos cravados nos de Clarisse.

Por um segundo, Clarisse não respondeu. Ela não queria admitir, mas a presença de Luara — sua confiança, seu jeito despreocupado — mexia com ela de uma forma que ninguém mais conseguia. Mas, em vez de falar o que realmente sentia, Clarisse fez o que fazia de melhor: desviar.

"Não se empolga," respondeu, dando um passo para trás, mas sem conseguir evitar um pequeno sorriso. "Você ainda me irrita."

"Você também me irrita, LaRue," Luara respondeu suavemente, seu sorriso agora quase carinhoso. "Mas acho que estamos ficando boas nisso."

Flashback

Luke estava parado à beira da colina no Acampamento Meio-Sangue, seu olhar perdido no horizonte. Ele havia voltado, mas não era o mesmo. Luara sabia disso no momento em que o viu novamente.

"Então, como foi sua missão dessa vez?" ela perguntou, tentando soar casual, mas a dor em sua voz era clara.

Luke não respondeu de imediato, o vento bagunçando seus cabelos loiros enquanto ele mantinha os olhos fixos à frente. "Foi... diferente."

"Diferente como?" Luara insistiu, dando um passo à frente. "Você tá distante, Luke. O que tá acontecendo com você?"

Ele finalmente se virou para ela, seus olhos azuis escurecidos por algo que Luara não reconhecia mais. "Eu não sou mais o mesmo, Luara. E você não vai entender."

"Então me faz entender!" ela disse, sua voz subindo com a frustração. "Você não pode simplesmente voltar e agir como se tudo tivesse mudado sem me explicar o que diabos tá acontecendo!"

Luke deu um passo para trás, a dor e o conflito em seus olhos evidentes. "Eu tô tentando te proteger, Luara. De mim. E de tudo que vem com isso."

"Eu não preciso de proteção!" ela gritou. "Eu preciso de você! Do Luke que eu conhecia."

Ele balançou a cabeça, a expressão sombria. "Esse Luke não existe mais."

E com isso, ele se afastou, deixando Luara sozinha, seu coração partido por alguém que, embora ainda estivesse ali fisicamente, já havia partido há muito tempo.

Voltando ao presente, Clarisse e Luara se preparavam para deixar a caverna, a relíquia em mãos. Clarisse ainda sentia o peso da luta no corpo, mas algo mais estava incomodando — algo nos flertes e nas provocações que trocara com Luara.

"Você tá quieta," Luara observou, enquanto caminhavam de volta ao acampamento. "Pensando em mim?"

Clarisse bufou, mas não conseguiu evitar o pequeno sorriso que apareceu em seus lábios. "Sonha."

E, por um momento, ambas souberam que aquela rivalidade estava apenas começando a se transformar em algo mais complicado.

Continua...

Entre Lanças e Encantos- Clarisse LaRueWhere stories live. Discover now