Entre Lanças e Encantos- Clarisse LaRue

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A luz do sol brilhava intensamente na arena de treino. O ar estava pesado de calor, mas isso não impediu Clarisse de aquecer os músculos, o olhar fixo no campo, pronta para uma nova sessão. Mal havia começado seu treino com a lança, e Luara já se aproximava, com seu jeito confiante e um sorriso que parecia iluminar o ambiente inteiro.

"Vejo que está animada, LaRue," Luara comentou, jogando o cabelo para trás com um ar despreocupado. "Achando que aguenta mais uma rodada comigo?"

Clarisse suspirou. "A questão é se você consegue aguentar uma derrota, Marinho."

As outras crianças de Ares e Afrodite, já acostumadas com as discussões entre as duas, pararam para observar, sussurrando e trocando olhares. Desde a batalha com o drakon, as provocações entre Clarisse e Luara tinham ganhado uma intensidade nova, quase explosiva, que deixava todo mundo curioso sobre o que estava rolando.

Sem perder o ritmo, Luara pegou uma espada e se posicionou de frente para Clarisse. Seus olhos tinham um brilho desafiador que Clarisse conhecia bem, mas dessa vez havia algo mais — uma tensão que deixava o ar mais pesado do que o normal.

"Pronta?" Luara perguntou, sua voz suave, mas cheia de uma confiança desafiadora.

Clarisse apenas levantou a lança, sem tirar os olhos de Luara. "Sempre."

Elas avançaram uma contra a outra, e o som do metal ecoou pela arena. Clarisse atacava com a precisão e a força características dos filhos de Ares, enquanto Luara, com sua agilidade, desviava com graça, fazendo parecer um tipo de dança. Cada movimento das duas parecia conter não só a competição, mas também algo mais — um desafio silencioso que ambas se recusavam a admitir.

Depois de alguns minutos, Clarisse aproveitou uma brecha e investiu com força, derrubando Luara no chão, sua lança a poucos centímetros de seu pescoço. "Desiste?"

Luara, mesmo no chão, deu uma risada baixa, ofegante, e olhou Clarisse diretamente nos olhos. "Você sabe que eu nunca desisto, LaRue."

As palavras saíram num tom mais suave, quase íntimo, e Clarisse se viu hesitando por um segundo. Era raro ver Luara sem aquela máscara de provocação e confiança. De repente, a intensidade do momento parecia maior do que o próprio treino, e Clarisse sentiu seu coração acelerar.

Antes que pudesse reagir, Luara aproveitou a distração, deslizou para o lado e virou a situação, deixando Clarisse com a lâmina da espada pressionada contra seu ombro.

"Parece que a durona de Ares tá começando a se distrair," Luara murmurou, a voz carregada de um misto de provocação e algo mais.

Clarisse mordeu o lábio, tentando disfarçar o desconforto que sentia — não pela espada, mas pelo jeito como os olhos de Luara pareciam perfurar os seus. "Talvez eu estivesse só dando uma chance pra você, Marinho."

"Claro que sim," Luara respondeu, dando uma piscadinha antes de recuar e soltar a espada. Ela estendeu a mão para ajudar Clarisse a se levantar, e por um instante, Clarisse hesitou, mas aceitou a ajuda.

Quando se levantou, sentiu os dedos de Luara ainda segurando sua mão por um segundo a mais do que o necessário, e antes que pudesse reagir, ouviu um assobio vindo de Silena e os outros que observavam de longe.

"Uuuuh, isso aí tá ficando quente," Silena comentou, rindo enquanto cruzava os braços.

Clarisse soltou a mão de Luara rapidamente, seu rosto quente enquanto revirava os olhos. "Cala a boca, Silena."

Luara apenas deu de ombros, com um sorriso divertido nos lábios. "Deixa eles falarem, LaRue. Eles só estão com inveja do nosso... entrosamento."

Clarisse bufou, mas não conseguiu evitar um sorriso de canto. Ela estava irritada — e intrigada — por como Luara conseguia desarmá-la de um jeito que nenhum monstro ou inimigo jamais conseguira. Era como se estivesse lutando em duas frentes: uma contra a própria Luara e outra contra seus próprios sentimentos.

Mais tarde, após o treino, Clarisse encontrou-se sozinha no pátio, tentando processar o que estava acontecendo. Não era apenas uma questão de rivalidade ou orgulho. Havia algo na presença de Luara que a deixava confusa, vulnerável, e isso a deixava furiosa — mas também a atraía.

Ela mal teve tempo de ordenar seus pensamentos quando ouviu passos atrás dela. Virou-se e, claro, era Luara, com aquele sorriso que parecia ler cada pensamento que ela tentava esconder.

"Pensativa, LaRue? Isso é novidade."

Clarisse suspirou, cruzando os braços. "Você gosta mesmo de aparecer do nada, né?"

Luara deu de ombros, parando ao lado dela. "Só quando acho que vale a pena." Ela hesitou, o sorriso desaparecendo por um momento, e Clarisse percebeu uma sinceridade inesperada nos olhos da outra. "Sabe, eu... gosto de treinar com você."

A confissão pegou Clarisse de surpresa, e ela ergueu uma sobrancelha, sem saber como responder. "Sério? Achei que eu te irritasse."

"Você me irrita," Luara admitiu, rindo. "Mas talvez seja isso que eu goste." Ela fez uma pausa, olhando diretamente para Clarisse, e a intensidade daquele olhar fez com que Clarisse prendesse a respiração. "Tem algo em você, Clarisse. Algo que eu não consigo ignorar."

Clarisse não sabia o que dizer. Sentia seu rosto aquecer, mas não queria demonstrar. Em vez disso, desviou o olhar, tentando controlar o nervosismo. "Então talvez você devesse tentar."

Luara riu suavemente, mas havia um toque de tristeza em sua expressão. "Ah, se fosse fácil assim."

Elas ficaram em silêncio por um momento, lado a lado, ambas lidando com os sentimentos conflitantes que pareciam crescer cada vez mais entre elas. Clarisse sentia a tensão no ar, mas, ao mesmo tempo, algo a impedia de recuar. Era como se, pela primeira vez, ela não quisesse fugir de uma luta — uma luta interna que, de alguma forma, Luara parecia disposta a enfrentar ao seu lado.

E ali, sob a luz suave do entardecer, as duas perceberam que estavam mais conectadas do que jamais admitiriam.