Rio Vidal, eu te acho divina.

554 63 28
                                    

Pov: Agatha Harkness

Adentrei o quarto do hotel, cujas paredes de mármore reluziam como gelo lapidado, situado no coração da célebre Suíça. O céu lá fora era um tecido de estrelas, bordado com constelações que dançavam entre véus de escuridão. Mas ainda havia resquícios teimosos do crepúsculo, uma luz dourada se agarrando à beirada da varanda, como se o Sol se recusasse a partir completamente. Brisas suaves cruzavam o ambiente, carregando consigo o aroma fresco da montanha e uma promessa sutil de neve. Era um instante tão perfeito que parecia uma ilusão - um cenário belo demais para ser verdade, especialmente para alguém como eu.

Passei o dia inteiro em uma caçada silenciosa, perseguindo um bruxo cuja magia ardia como brasas sob a pele. Mesmo à distância, eu sentia seu poder pulsar no ar, como uma corrente elétrica à espreita. Ele era astuto, escorregadio, e nenhuma das armadilhas que preparei conseguiu capturá-lo. A cada falha, ele parecia mais próximo e, ao mesmo tempo, intocável.

Desde que fugi de Salem, carrego o peso de um passado que me persegue como uma sombra indelével - não apenas do que fui, mas também do que deveria ser. Há algo imenso dentro de mim, uma força indomada que ameaça romper a qualquer instante, como um rio prestes a inundar suas margens. Paradoxalmente, essa é a única coisa sobre mim que aprendi a dominar: a verdade do meu próprio perigo.

Roubar a essência vital de outros parece um dom sedutor, uma habilidade rara e cobiçada. Mas poucos entendem o preço. A beleza da magia não anula sua crueldade. Cada alma que toco me deixa mais poderosa e, ao mesmo tempo, mais distante do que poderia ser humano. É um fardo invisível que afasta todos que ousam chegar perto - como se meu toque fosse um beijo de veneno, belo na superfície, mas fatal na essência.

Preferi afastar. Afastar qualquer alma que ousasse se aproximar, por mais disposta que estivesse. Não havia lugar para promessas nem para compaixão ao meu lado. Ninguém jamais entenderia a verdadeira grandiosidade desse fardo. E quando não se entende o perigo, acaba-se brincando com ele, mesmo sem intenção, como uma criança que dança à beira do abismo sem saber da queda iminente.

Conviver comigo era caminhar sobre uma corda fina, frágil demais para sustentar duas almas ao mesmo tempo. Cada passo era um risco, e eu sabia que cedo ou tarde alguém acabaria despencando para dentro do caos que carrego. E esse alguém nunca seria eu.

Então, antes que eles chegassem perto demais - antes que confundissem minha presença com segurança ou meu silêncio com aceitação - eu os afastava. Era melhor assim. Melhor que nunca conhecessem o verdadeiro peso da escuridão que carrego, melhor que nunca percebessem o quanto cada toque meu trazia uma ameaça disfarçada de ternura.

Não queria isso para ninguém. Não podia. Porque amar alguém que você pode destruir é como segurar vidro quebrado com as próprias mãos: inevitável que os cacos penetrem fundo, e nunca se sabe quem vai sangrar primeiro.

Perdida em meus pensamentos, mal notei quando minhas pernas cederam e me deixaram afundar na maciez da cama para tirar as botas. Estava ali, de frente para a varanda, com a vista aberta para o coração da Suíça. O rio Aar serpenteava lá embaixo, espelhando a cidade como um feitiço silencioso, refletindo tanto a beleza quanto o perigo oculto em suas águas calmas. Havia algo hipnótico naquela visão: uma mistura de encanto e ameaça, como um segredo prestes a ser revelado.

O céu, antes tingido por vestígios do crepúsculo, agora se encontrava tomado pela escuridão profunda. Só a lua ousava brilhar, banhando tudo ao redor com uma luz prateada e fria, como o toque de um amante distante. Seu brilho era soberano, dominando a noite com uma grandiosidade que fazia o mundo parecer menor, como se todo o resto fosse apenas parte de um sonho efêmero.

Bad Boy ࿐ AgatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora