Sob o Mesmo Palco

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Maraisa

Sempre soube quando a Maiara não estava bem. Não precisava nem perguntar. O jeito como ela evitava o contato visual, como se mantinha em silêncio por mais tempo do que o normal… Eram sinais que qualquer um poderia passar despercebido, mas não eu. Afinal, éramos gêmeas. Sempre soubemos o que a outra sentia, mesmo sem trocar uma palavra.

Hoje, enquanto nos preparávamos para voltar à estrada, ela estava mais quieta do que o normal. Não era só o nervosismo de começar a turnê novamente, eu sabia que tinha mais coisa por trás. E o nome disso era Matheus Gabriel.

Suspirei, sentada com meu violão em mãos, enquanto ela fazia suas malas. Não era fácil ver minha irmã assim, dividida entre o amor e o sonho que sempre lutamos para realizar. Mas, ao mesmo tempo, não era minha responsabilidade resolver isso por ela. Tudo o que eu podia fazer era estar ao lado dela, como sempre estive.

— Tá pronta?

perguntei, forçando um sorriso animado, tentando quebrar a tensão no ar. Sabia que ela ia me devolver um sorriso forçado, mas, pelo menos, era um começo.

Maiara

— Estou pronta.

Maraisa

Eu sabia que ela não estava nem perto disso. Sua cabeça estava a mil, e seu coração provavelmente ainda mais.

Entramos no ônibus da turnê, o que sempre me dava uma sensação estranha de déjà vu. Quantas vezes já fizemos isso? Incontáveis, mas cada viagem trazia algo novo. Normalmente, estar na estrada era como um escape, mas eu sabia que, para Maiara, hoje era diferente. O ônibus estava cheio da nossa equipe, ajeitando tudo para a longa viagem. Sentei com o violão nas mãos, tocando algumas notas distraídas, mas de olho nela.

Maiara ficou sentada ao lado da janela, olhando para fora com aquele olhar distante. Típico, era sempre assim quando ela pensava nele. Eu continuei a tocar, cantarolando baixinho para passar o tempo, mas estava esperando o momento certo para puxar o assunto.

Quando o silêncio começou a pesar, me levantei e fui até ela, largando o violão no chão.

— Você está quieta hoje 

comento indo direto ao ponto. Não sou de rodeios, e com a Maiara, muito menos. A gente já passou dessa fase há muito tempo.

Ela me olhou de relance, mas logo voltou a encarar a janela.

Maiara

— Só... pensando.

Maraisa

Maiara respondeu de forma vaga. Sabia que ela estava tentando evitar, mas eu não ia deixar passar.

— Pensando no Matheus?

provoquei, mesmo já sabendo a resposta.

Vi o suspiro escapar dos lábios dela, e aquilo me confirmou tudo. Eu tinha razão, claro. Ele era o fantasma que continuava a rondar o coração dela. Eu odiava vê-la assim, presa nessa indecisão que parecia consumi-la aos poucos.

— Você tem que se decidir, Maiara.

falei com toda a sinceridade que eu podia.

— Ou você segue em frente e se dedica de corpo e alma à música, ou... 

Parei, tentando medir as palavras para não parecer dura demais.

— Ou você encontra uma maneira de fazer as pazes com isso. Mas não pode continuar dividida assim. Isso vai acabar te destruindo.

Ela me olhou, e eu vi a dor nos olhos dela. Sempre achei que a música seria o maior desafio das nossas vidas, mas parece que o coração era mais complicado do que qualquer palco.

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