Capítulo 11 - Corrida Clandestina

105 12 4
                                    

Alguns Dias Depois, Milão

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Alguns Dias Depois, Milão

Os dias que se seguiram se transformaram em uma névoa espessa, na qual eu me deixava perder entre uma corrida e outra. As noites eram um borrão de fumaça, luzes de faróis e os gritos de uma plateia ansiosa por adrenalina. Eu sabia que esse mundo era perigoso, sabia dos riscos que cada arrancada escondia, mas era como se, por alguns minutos, aquele perigo oferecesse uma forma estranha de controle — um escape que eu não conseguia encontrar em lugar nenhum.

Quando Valentina saiu da minha vida, deixou um vazio que eu não conseguia preencher, nem mesmo com o ronco dos motores e a velocidade em alta. Mas participar dessas corridas me dava uma ilusão de liberdade, uma forma de não pensar em tudo que eu havia perdido, em tudo que eu não podia ter. Era irônico, porque enquanto eu acelerava a fundo, me sentia cada vez mais parado no mesmo lugar, preso em uma espiral sem fim.

Eu sabia que, a qualquer momento, esse mundo poderia me engolir. Esse universo de apostas altas e olhares desconfiados, de encontros em locais que só se achavam nos cantos escuros da cidade, era um abismo. Mas era um abismo que me acolhia, que fazia com que o caos dentro da minha cabeça se alinhasse com o caos da pista, como se a desordem do lado de fora fosse uma forma de eu tentar organizar a desordem de dentro. O som dos pneus derrapando e o cheiro de gasolina se tornaram o meu escape, um veneno que eu me permitia tomar todas as noites, sabendo bem o quanto era tóxico.

Cada corrida era um mergulho mais fundo nesse mar revolto que eu mesmo criei. As memórias de Valentina vinham de vez em quando, cortantes como lâminas, e a imagem de Maya, sempre a forte, sempre a razão em meio ao nosso caos, pesava em minha mente. Ela nunca entenderia o que eu estava fazendo. Nunca entenderia porque eu estava me afundando nesse mundo novamente. E eu me perguntava se, lá no fundo, eu também entendia. Ou se estava apenas fugindo, como sempre fiz.

Era difícil encarar que eu estava traindo tudo que prometi a mim mesmo — a ela. Eu me convenci de que, depois de tantas noites vazias, encontrar um pouco de vida nesse mundo perigoso era melhor do que encarar o silêncio dos meus próprios pensamentos. E assim, noite após noite, eu me alinhava com os outros corredores, ignorando os olhares curiosos de alguns que pareciam reconhecer o meu rosto, me esquecendo de tudo que deixei para trás.

Naquelas horas que eu passava entre a fumaça e a velocidade, sentia como se pudesse apagar o que havia acontecido, como se os gritos do público e a tensão antes do sinal de largada fossem capazes de engolir meus próprios gritos internos. Mas quando a corrida terminava, quando o motor esfriava e as luzes da cidade voltavam a brilhar sobre as ruas desertas, eu sabia que nada tinha mudado. Eu ainda era aquele mesmo Matteo, tentando fugir de si mesmo, dirigindo em círculos ao redor das minhas próprias falhas.

Eu me enganava, tentando transformar aquele vazio em algo que tivesse alguma forma. Mas quando o silêncio voltava a cair sobre a pista deserta e o céu começava a clarear ao longe, a única coisa que me restava era a certeza de que eu estava apenas correndo de volta para os meus próprios fantasmas.

química || matteo & valentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora