Não era para Erick estar ali. Para alguém que pretendia chamar o mínimo de atenção possível, aquele bar aleatório seria o pior local para passar despercebido. Isso porque não havia como fugir dos avanços daquele barman atrevido, que não fazia cerimô...
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Fazia uns dez minutos que ele estava no banheiro, e quanto mais o tempo passava, mais ansioso eu ficava. Precisava me acalmar e guardar minha neura, por mais que eu estivesse preocupado.
Era estranho me sentir assim. Eu não saberia dizer se o motivo era meu súbito interesse pela pessoa do Viki, ou por causa dos assuntos pesados que eu vinha investigando ultimamente. Havia tanta gente lixo no mundo, pessoas capazes de fazer atrocidades inomináveis, e essas coisas ficavam martelando na minha cabeça, o que talvez justificasse meus temores em relação ao atraente barman.
Ele parecia tão frágil, tão... delicado. Eu não conseguia tirar da cabeça as cicatrizes nas costas dele, e quando vi aquela mancha arroxeada no seu pescoço enquanto ele se mantinha de costas para mim ali no bar, fiquei fora de mim.
Verifiquei meu aparelho. Na tela, um ícone separava-me do que eu precisava saber a respeito dele. Bastava clicar e o celular dele seria espelhado em minha tela, sem que ele jamais desconfiasse. Eu poderia dar uma olhada, tirar minhas conclusões, tomar medidas ou não, e partir. Se alguém — e eu podia imaginar quem — lhe tivesse feito mal, era só mandar a denúncia; e se não houvesse como acusar, eu cavaria a vida do sujeito até achar a lama e, então, jogaria no ventilador.
Todavia, eu não conseguia clicar no ícone. Não com o Viki. Por mais absurdo que parecesse, eu temia descobrir coisas sobre ele, coisas capazes de me atrair ou afastar. Seria como estragar a melhor parte da aventura, como comer o bolo antes dos parabéns, ou abrir os presentes de Natal antes da hora.
Eu não conseguia ser eu mesmo diante de uma pessoa que acabara de conhecer. Era insano!
Guardei o celular no bolso assim que ouvi o trinco da porta do banheiro. Ele saiu de lá vestido, com blusa e calça, o que me intrigou. Ficou óbvio que estava escondendo o corpo, algo que ele não se preocupara em fazer dias atrás, quando estive ali. Seu cabelo estava úmido, caído para a frente, e cobria um lado do rosto. Sem pensar, dei dois passos e toquei a franja, afastando-a um pouco para o lado.
Foram duas sensações em sequência. A primeira ocorreu quando toquei a pele acidentalmente, muito brevemente; não poderia ser considerado um toque de fato, mas me arrepiou. A consciência de que era a primeira vez que eu o tocava me deixou agitado. A segunda foi quando vi o olho roxo e o lábio cortado. Isso embrulhou meu estômago e apagou o frenesi anterior. Fiquei puto e triste ao mesmo tempo, e controlei a voz antes de dizer qualquer coisa, pois não estava no direito de exigir nada ali.
— Quer me contar o que aconteceu? — minha voz saiu mais doce do que eu esperava. Surpreendi-me, dada minha confusão interior.
— Não é nada demais. Não esquenta com isso. Sei que pode parecer que fui atacado e tal, mas não é o caso. Nada disso é porque eu sou vítima de qualquer coisa.
— Como pode dizer que não é uma vítima? — Eu realmente queria entender.
— Olha... eu até queria conversar mais, mas eu realmente não tô bem. Deixei você subir, mas acho que vou me deitar agora. Você se importaria se... — ele parou a frase no meio, e entendi que essa era minha deixa para ir embora.
Eu nem deveria estar ali. Só subi porque ele convidou, e agora eu precisava entender e parar de me meter onde não era chamado.
— Tudo bem. Eu vou nessa. Não queria parecer intrometido, só fiquei preocupado, ok? — Virei-me em direção à porta, mas tive minha camiseta agarrada antes de me mover.
— Eu ia perguntar se você se importaria de ficar aqui, comigo.
Meu coração disparou. Foi intenso! Eu senti a saliva desaparecer e um tremor inédito agitou minhas entranhas. Era diferente de tesão, era... outra coisa.
— Claro... você quer que eu faça alguma coisa? Prepare um chá ou vá comprar algum remédio para você?
— Não, não... eu só quero desaparecer por algumas horas, mas não quero ficar sozinho.
Minha garganta fechou. Que diabos esse cara tinha que me deixava desse jeito? Aquiesci e esperei que ele me instruísse ou que saísse andando para que eu entendesse meu lugar naquela dinâmica. Por fim, ele me deu as costas e seguiu em direção ao quarto; eu fiquei ali, com as mãos nos bolsos, hesitante, tentando me encaixar.
— Você não vem? — ele me olhava, parado em frente à última porta do pequeno hall.
Meu coração deu outro solavanco, o que me ajudou a me mexer. Entrei no quarto logo atrás dele e dei uma olhada rápida ao redor.
A cama de casal era coberta por uma manta fofinha verde-água; a parede atrás da cabeceira era de um lilás suave; havia um cordão com fotografias penduradas, parecia fotos tiradas no bar, algumas em outros locais; em uma delas, ele estava montado de drag, em outra, ele sorria ao lado de uma garota muito parecida com ele. Imaginei se seria sua irmã.
Ele removeu os chinelos e se deitou sobre o travesseiro de um dos lados, depois estendeu a mão para mim. Tirei meus tênis, meio desajeitado, e segurei sua mão. Estava fria e eu me senti mal com isso. Encabulado, sentei-me na cama e me recostei em um dos travesseiros. Sem cerimônia, ele escalou meu corpo e se acomodou no meu peito.
Fiquei preocupado se ele poderia ouvir meu coração martelando. Eu estava claramente desconfortável ali; uma parte por causa do toque, que me constrangia e me deixava com vontade de sair correndo; e outra porque, ao mesmo tempo em que queria partir, queria abraçá-lo e trazê-lo mais para perto, como se fosse possível contê-lo numa redoma de proteção.
— Você está... confortável assim? — perguntei, tenso. Do nada, senti uma fisgada na virilha e meu membro, alheio à inconveniência do momento, lembrou-me que havia alguém muito lindo e muito vulnerável praticamente entregue em meu colo. Repreendi-me internamente por não poder resolver a situação com a força do pensamento.
— O seu cheiro é bom... — ele sussurrou, e o calor do seu hálito penetrou o tecido da minha camiseta, arrepiando-me por inteiro.
Decidi ficar calado a fim de preservar minha dignidade. Não sabia como minha voz soaria se eu tentasse falar. Logo, senti sua respiração mais lenta, compassada e tranquila. Ele havia dormido, e eu suspirei, aliviado.
Era madrugada e o cansaço foi me cobrindo aos poucos. Puxei a manta sobre nossos corpos e, antes que pudesse perceber, eu também me rendia a um sono profundo e recheado de sonhos coloridos.